domingo, 20 de junho de 2010

Alexandre O’Neill: Um dos grandes génios da poesia moderna portuguesa

Cortesia de agualisa6

A Morte, esse Lugar-Comum
É trivial a morte e há muito se sabe
fazer - e muito a tempo! - o trivial.
Se não fui eu quem veio no jornal,
foi uma tosse a menos na cidade...

A caminho do verme, uma beldade
— não dirias assim, Gomes Leal? —
vai ser coberta pela mesma cal
que tapa a mais intensa fealdade.

Um crocitar de corvo fica bem
neste anúncio de morte para alguém
que não vê n'alheia sorte a própria sorte...

Mas por que não dizer, com maior nojo,
que um menino saiu do imenso bojo
de sua mãe, para esperar a morte?...
Alexandre O'Neill, in «Abandono Vigiado»
 
Os Amantes de Novembro
Ruas e ruas dos amantes
Sem um quarto para o amor
Amantes são sempre extravagantes
E ao frio também faz calor

Pobres amantes escorraçados
Dum tempo sem amor nenhum
Coitados tão engalfinhados
Que sendo dois parecem um

De pé imóveis transportados
Como uma estátua erguida num
Jardim votado ao abandono
De amor juncado e de outono.
Alexandre O'Neill, in «No Reino da Dinamarca»

Cortesia de O Citador/JDACT