sábado, 19 de junho de 2010

Beatriz Costa: A «Menina da Franja». Uma actriz de teatro e de cinema, sendo um «ícone da cultura popular lusa»

(1907-1996)
Charneca do Milharado, Mafra
Cortesia de citi
Beatriz Costa, pseudónimo de Beatriz da Conceição foi uma actriz de teatro e de cinema, sendo um ícone da cultura popular lusa.
Estreou-se no teatro de revista aos quinze anos, como corista em Chá e Torradas (1923), no Éden Teatro. No ano seguinte, em 1924, actua pela primeira vez no Teatro Maria Vitória (Parque Mayer) na revista Rés Vés, após o que ingressa na companhia do Teatro Avenida estreando-se, no mesmo ano, no Rio de Janeiro onde é felicitada pela imprensa e pelos espectadores, nomeadamente nas revistas Fado Corrido e Tiro ao Alvo.
De regresso a Lisboa (1925) ocupa um lugar de destaque ao lado de Nascimento Fernandes em Ditosa Pátria, no Teatro da Trindade. Em Agosto do mesmo ano a Companhia do Trindade segue para o Porto apresentando-se no Sá da Bandeira e Beatriz faz a sua primeira ida como artista à cidade Invicta.
Em Outubro de 1925 integra uma Companhia de operetas sediada no Teatro São Luiz. De regresso à revista, passa pelos teatros Éden e Maria Vitória nas revistas Fox Trot, Malmequer, Olarila, Revista de Lisboa e Sete e Meio.
Em 1927, traduzindo uma moda cinéfila, aparece pela primeira vez de franja e estreia-se no cinema em papéis episódicos de filmes de Rino Lupo - O Diabo em Lisboa - e, ainda no mesmo ano, havia dançado um tango em Fátima Milagrosa (do mesmo realizador) ao lado de Manoel de Oliveira.
Passou pelo Teatro Apolo, transferindo-se depois com a Companhia de Eva Stachino para o Trindade. Aí se fez Pó de Maio , onde conheceu o maior êxito de popularidade com o celebrado número D. Chica e Sr. Pires ao lado de Álvaro Pereira.
Cortesia de tertuliadogarcia
Na sua segunda digressão ao Brasil (1929), com a Companhia de Eva Stachino, ao Rio de Janeiro, foi recebida sobre as mais efusivas manifestações e relembrada a sua revelação como actriz nos grandes órgãos de imprensa da América do Sul. Após breve incursão aos palcos de São Paulo, Beatriz é convidada por Procópio Ferreira, comediante de relevo no teatro brasileiro, para ficar a trabalhar no Rio de Janeiro integrando o elenco da sua Companhia de comédias; mas a proposta seria recusada.
De volta ao Continente, e ainda neste ano, Beatriz Costa aparece no documentário Memória de uma Actriz (com base nos artigos que já escrevia para O Século a contar episódios da sua carreira). Em 1930 participa no filme Lisboa, Crónica Anedótica, de Leitão de Barros. Em Dezembro de 1930, durante a visita de Ressano Garcia, gerente da Paramount em Lisboa, recebe um convite de Blumenthal e San Martin para um contrato muito vantajoso para o papel da protagonista de A Minha Noite de Núpcias (da versão original Her Wedding Night de Frank Tuttle e que na versão portuguesa foi dirigida por Alberto Cavalcanti), o terceiro fonofilme em português, a realizar-se em França.
Recebendo sempre provas de apreço desde o pessoal dos estúdios à mais considerada vedeta destaca das suas colegas estrangeiras Olga Tsehekova e Camila Horn.
Deixa a Companhia e é contratada por Corina Freire para participar nos êxitos de revistas como A Bola, Pato Marreco, O Mexilhão ou Pirilau. Em 1937 Beatriz ganha, ao lado de Vasco Santana, os votos de preferência dos cinéfilos portugueses e são eleitos «príncipes do cinema português». Dois anos depois, em 1939, protagoniza A Aldeia da Roupa Branca, de Chianca de Garcia, aquele que seria o seu último filme. É a partir da década de 1960 que começa a viajar por todo o mundo, assistindo a festivais de teatro, de Ocidente a Oriente. Conheceu personalidades como Salvador Dali, Pablo Picasso, Sophia Loren, Greta Garbo, Edith Piaf ou o Rei Hassan II de Marrocos.
Cortesia de citti
Depois da Revolução dos Cravos - quando já vivia no Hotel Tivoli, onde viveu até morrer - começou a publicar livros sobre a sua espantosa vida, aconselhada e incentivada por Tomás Ribeiro Colaço. Ela que aprendera a ler aos 13 anos de idade e sozinha, seguindo a sua ambição de saber, começou a sua alfabetização à mesa do Café A Brasileira, rodeada por figuras como Almada Negreiros, Gualdino Gomes, Aquilino Ribeiro, Vitorino Nemésio, entre outros.
Após o seu reaparecimento num espectáculo da Casa da Imprensa que decorreu no Coliseu dos Recreios foi sistematicamente solicitada pelos órgãos de comunicação social e espantou-se com as óptimas reacções do público leitor em relação a essa outra faceta da sua vida - escrever.


Cortesia de artesetima
«Recorde-se que a irreverente «menina da franja», como é conhecida, nasceu na localidade de Charneca do Milharado, Concelho de Mafra, onde passou os primeiros anos da sua infância. Contudo, a artista nunca renegou as suas humildes origens rurais, tanto mais que as suas ligações afectivas ao Concelho de Mafra foram constantemente reafirmadas. A 24 de Setembro de 1934, inaugurou o Cine-Teatro Beatriz Costa na Malveira, facto de que muito se orgulhava. Por volta de 1950, contribuiu para a construção da escola primária da Charneca do Milharado, sua terra natal. As suas visitas ao concelho eram regulares; durante anos consecutivos assistiu à volta em bicicleta “As Cinco Voltas a Mafra”; foi convidada de honra em vários cortejos dos Bombeiros de Mafra, a que presidia na qualidade de madrinha; visitou frequente e entusiasmadamente a Aldeia-Museu do mestre barrista José Franco, bem como as oficinas de outros oleiros, assim como foi convidada para madrinha do Rancho Folclórico do Milharado; em 1993, inaugurou o Auditório Municipal Beatriz Costa. A existência de um museu no Concelho com o seu nome, albergando artefactos alusivos à sua pessoa, é um testemunho do seu amor pelos seus conterrâneos. O espólio aí exibido foi doado pela actriz, ainda em vida, ao povo da Malveira, integrando o Museu Popular Beatriz Costa que, actualmente, está sedeado na Casa de Cultura da Malveira e cuja tutela pertence à Câmara Municipal». In CMMafra.


Cortesia da CMMafra
«Actriz carismática, Beatriz Costa foi uma sedutora de plateias. Estreou-se como corista aos 15 anos, mas antes de alcançar o reconhecimento do público tinha sido ajuntadeira e bordadeira. Consolidou a sua imagem em “A Canção de Lisboa” e ganhou, ao lado de Vasco Santana, a preferência dos cinéfilos. Deixou para a posteridade a imagem de pessoa calorosa, maliciosa e irreverente - além do corte de cabelo que a tornou inconfundível. Depois do 25 de Abril começou a publicar livros sobre a espantosa história da sua vida. «Foi o Sol dos anos negros da ditadura», resume a escritora Inês Pedrosa». In RTP.

Os filmes em que participou:
  • A Aldeia da Roupa Branca, de Chianca de Garcia (1939);
  • O Trevo de Quatro Folhas, de Chianca de Garcia (1936);
  • A Canção de Lisboa, de José Cotinelli Telmo (1933);
  • Minha Noite de Núpcias, de E. W. Emo (1931);
  • Lisboa, de J. Leitão de Barros (1930);
  • Fátima Milagrosa, de Rino Lupo (1928);
  • O Diabo em Lisboa, de Rino Lupo (1926).
Os seus livros:
  • «Sem Papas na Língua» (1975);
  • «Quando os Vascos Eram Santanas… e Não Só» (1977);
  • «Mulheres Sem Fronteiras» (1981);
  • «Nos Cornos da Vida» (1984).

Cortesia do ranchodomilharado

Cortesia da CMMafra/JDACT