domingo, 20 de junho de 2010

José Duro: «Ó morte vai buscar a raiva abençoada, com que matas o mal e geras novos seres...Ó morte vai de pressa e traz-me os poderes, que eu canso de viver, quero voltar ao nada»

(1875-1899)
Portalegre
Cortesia de jornalorebate

Em Busca
Ponho os olhos em mim, como se olhasse um estranho,
E choro de me ver tão outro, tão mudado…
Sem desvendar a causa, o íntimo cuidado
Que sofro do meu mal — o mal de que provenho.

Já não sou aquele Eu do tempo que é passado,
Pastor das ilusões perdi o meu rebanho,
Não sei do meu amor, saúde não na tenho,
E a vida sem saúde é um sofrer dobrado.

A minh’alma rasgou-ma o trágico Desgosto
Nas silvas do abandono, à hora do sol-posto,
Quando o azul começa a diluir-se em astros…

E à beira do caminho, até lá muito longe,
Como um mendigo só, como um sombrio monge,
Anda o meu coração em busca dos seus rastros…
José Duro, in «Antologia de Poetas Alentejanos»

«Fel é uma espécie de diário poético dos últimos dias de José Duro. O poema Doente, que encerra o livro, é uma longa confissão de amargura e desespero de um jovem que sabe já que a morte está muito próxima». In Ademar Santos.

JDACT