domingo, 20 de junho de 2010

Francisco Bugalho: O Pintor da Natureza. Poesia. Parte III


RESSURREIÇÃO
Desta minha janela, agora aberta
Sobre uma quietação nostálgica de Inverno,
Com um sol que é só lembrança
De um outro sol mais fúlgido e mais brando,
Que nunca mais senti como em criança;

Desta janela que, a sonhar, deserta,
Fica sem veÍ sua paisagem, quando
Na manhã silenciosa que desperta
Um vento frio e fino vai passando;

Desta janela de paisagem véria,
Como os meus oihos, quando a via,
Onde tenho passado instantes raros,
De uma sem par melancolia;
Os desígnios de Deus são-me hoje claros,
Leves e doces, como aluz do dia...


CASA NO CAMPO
Casa no campo, batida
De tanto Inverno chuvoso,
De tanto Verão impiedoso,
De tanto passar de vida...

Casa no campo, onde a vida
E mais dura e dura mais;
Onde viveram meus pais.
- Casa de amor construída!

Aqui, o tempo que passa
É sempre mais evidente:
Fulja o sol de Verão, ardente,
Bata a chuva na vidraça.

Nosso viver é marcado
Plo curso das Estações.
Sementeiras: - ilusões...
Colheitas: - desenganado...

Nela se tem mais presente
O caminhar para o Fim...
Tudo nasce, cresce e, assim,
Acaba naturalmente.

E a vida tem mais valor
Quando se sente fugir.
- Que a flor que abriu, a sorrir,
Hoje a secou o calor.

Que o bicho, que ontem saltava,
Airoso, grácil e ágil,
A lembrar como ela é frágil,
Morreu, enquanto pastava.

Casa no campo, batida
De tanto Inverno chuvoso,
De tanto Verão impiedoso,
Do passar de tanta vida.

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