sábado, 10 de abril de 2021

A Igreja de São Domingos de Vale de Figueira, Santarém. Tiago Moita. «Permanecendo no terreno da conservação e restauro, sublinhe-se o artigo de Carlos Costa (2017) sobre o restauro da escultura com a imagem do padroeiro, São Domingos Gusmão»

Cortesia de wikipedia e jdact

História e Património

«A Igreja de São Domingos de Vale de Figueira, concelho de Santarém, oferece aos seus visitantes a presença de um património artístico de grande interesse. Para além da arquitectura do seu templo, inclui numerosíssimas peças de vários géneros artísticos, desde imaginária em madeira, terracota, e marfim, pintura a óleo e a fresco, retabulística, azulejaria, paramentaria, mobiliário, pratas e alfaias litúrgicas, entre outras. Significativamente, parte deste património é oriundo do antigo Convento de Santa Maria de Jesus de Vale de Figueira, da Província da Arrábida, fundado no século XVII por Henrique de Portugal, e sua mulher, dona Ana Ataíde, e extinto em 1834, na sequência da revolução liberal.

O património religioso de que aqui falamos tem vindo a ser beneficiado na última década com intervenções de conservação e restauro, quase sempre realizadas por profissionais qualificados e respeitadores das boas práticas, que lhe têm vindo a devolver valor e autenticidade. Estes trabalhos de beneficiação não seriam possíveis sem a sensibilidade da comunidade local, e da sua enorme generosidade, que fazem de Vale de Figueira um caso singular no que respeita à salvaguarda patrimonial. Entendemos que a recém-valorização deste conjunto de obras de arte impõe agora a necessidade de um estudo sistemático e da sua divulgação. Este livro visa cumprir esse objectivo, analisando o património artístico da Igreja de Vale de Figueira sob o ponto de vista da História da Arte, sensibilizando as pessoas para a sua fruição, não apenas enquanto peças ligadas ao culto, mas como autênticas obras de arte que se devem estimar e apreciar. A análise empreendida segue, naturalmente, a metodologia própria da História da Arte, integrando a investigação dos arquivos (em muitos casos, trazendo à luz documentos inéditos), os dados resultantes das intervenções de conservação e restauro, e o estudo estilístico, iconográfico e comparativo das obras de arte.

Importa referir que embora praticamente desconhecido no contexto da historiografia da arte portuguesa, o património de arte sacra da paróquia de São Domingos de Vale de Figueira mereceu referências pontuais em publicações científicas que devemos mencionar. Em primeiro lugar, encontram-se as notícias de Gustavo Matos Sequeira no tomo do Inventário Artístico de Portugal da Academia Nacional de Belas Artes dedicado ao Distrito de Santarém, de 1949, com um recenseamento superficial das existências. Os demais estudos dignos de registo são sobretudo análises sectoriais, referentes ao património azulejar e retabulístico da igreja. No que se refere ao primeiro destacam-se as palavras de João Miguel Santos Simões, na obra pioneira Azulejaria em Portugal no século XVIII, publicada em 1979, sem esquecer o recente contributo de Maria Rosário Salema Carvalho, na sua tese de doutoramento, ainda inédita (Carvalho, 2012, Anexo B: 1260-1267). No campo da retabulística merece referência o estudo colectivo orientado por Irina Crina Anca Sandu (2012), com uma análise multidisciplinar das técnicas e materiais utilizados no douramento do retábulo-mor e dos retábulos laterais.

Permanecendo no terreno da conservação e restauro, sublinhe-se o artigo de Carlos Costa (2017) sobre o restauro da escultura com a imagem do padroeiro, São Domingos Gusmão. Para além destes trabalhos, registe-se a ficha de inventário do património arquitectónico do SIPA/IHRU com o número IPA.00006781, da autoria de Paula Figueiredo, e o inventário dos bens móveis realizado pela Comissão Diocesana para os Bens Culturais da Igreja, da Diocese de Santarém, elaborado por Eva Raquel Neves. Embora apoiado nos estudos destes pesquisadores, o presente livro resulta, sobretudo, de um estudo aturado de novas fontes de informação, em alguns casos virgens de aproveitamento e ricas de informação histórica e artística, e da investigação pessoal.

Embora os primeiros registos de ocupação humana no território que hoje é conhecido como Vale de Figueira, no concelho de Santarém, nos reportem a períodos recuados do Paleolítico, do Calcolítico, da Idade do Bronze, da Idade do Ferro e da época Romana, que se localizam especialmente no campo arqueológico de Chões de Alpompé, é somente nos começos do século XIV que vamos encontrar referências explícitas a um pequeno povoado no lugar de Vale de Figueira, no termo de Santarém. Nascido provavelmente à sombra das numerosas quintas e casais que vieram a existir neste espaço, propriedades das elites urbanas, continuará a crescer ao longo do tempo, quando em 1527 assume estatuto de aldeia, com número populacional ascendendo a mais de duas centenas de habitantes. É possível que os frades dominicanos, residindo em Santarém, onde fundaram convento no século XIII, tenham incrementado a vida religiosa neste lugar, razão pela qual se ergueu ermida, dedicada ao Patriarca São Domingos, no local onde hoje se situa a igreja paroquial. Na recolha que pudemos apurar, a mais antiga referência a esta ermida, e seu orago, remonta ao ano de 1537, numa Mercê de João III aos mordomos de São Domingos do termo de Santarém de uma ração (ANTT, Núcleo Antigo 887)». In Tiago Moita, A Igreja de São Domingos de Vale de Figueira, Santarém, 2019, Design Gráfico e Paginação, David Matos Branco, Depósito Legal 453685/19.

Cortesia de DGePaginação/DavidMBranco/JDACT

JDACT, Tiago Moita, São Domingos de Vale de Figueira, Património, Cultura, Santarém,