sábado, 28 de fevereiro de 2015

Em Mim… Poesia. David Mourão Ferreira. «E no entanto bem suspeitas ó Mneumósina, rainha! Que hás-de morrer nessa fogueira a que vais dando a tua vida… Mas teu corpo de mármore fugidio, como há-de a humanos golpes sucumbir?»

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Memórias
«Ó Mneumósina, rainha
como tu vives encerrada!
Laboratórios, oficinas,
tudo te serve de mansarda!

Ó Mneumósina, rainha,
instigada da Grande Obra,
brincas connosco às escondidas,
mas tens a morte em tuas órbitas…

Ah! Como cega te arremessas,
ó Mneumósina, rainha!
Nas espirais da cibernética,
nos estilhaços da energia!

E no entanto bem suspeitas
ó Mneumósina, rainha!
Que hás-de morrer nessa fogueira
a que vais dando a tua vida…»


«Mas teu corpo de mármore fugidio,
como há-de a humanos golpes sucumbir?

Se és múltipla, presente em toda a parte,
quem pode assassinar-te, ó testemunha?

Ó bela adormecida na penumbra
dos arquivos, quem consegue atingir-te?

Quem vai secar-te, ó fonte inextinguível
do secular saber?

Quem é capaz
de eliminar teu corpo que não há…?»
Poemas de David Mourão Ferreira, in ‘Memória

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