domingo, 31 de dezembro de 2017

No 31. Isabel d’Aragão e Rainha Santa. Anonymous. «Essas homenagens concretizam-se no culto fervoroso de todos os portugueses pela Santa Rainha e, mui especialmente, do povo de Coimbra…»

Cortesia de wikipedia

De acordo com o original.

Morte da Rainha Santa
(…) A seguir recita com visivel comoção algumas orações; os olhos fecham-se lentamente, o peito deixa de arfar, e todos os presentes, estupefactos ante aquele quadro tão emocionante, compreendem que a alma pura da Rainha Santa, solta do seu venerável corpo, subia aos céus a receber o premio das suas virtudes, descançando para sempre na paz do Senhor, onde eternamente gosará a bemaventurança com que Deus premeia os seus eleitos. É, pois, no reino celestial que a nossa Santa Protectora está recebendo o premio das suas boas acções e dos seus constantes trabalhos. Ali, no seio de Deus, junto da Virgem Santissima, intercede pelo seu povo, por aqueles que a ela recorrem com a alma angustiada pelas dôres humanas, e que jamais esquecem o seu nome para lhe tributar as homenagens do seu reconhecimento. Essas homenagens concretizam-se no culto fervoroso de todos os portugueses pela Santa Rainha e, mui especialmente, do povo de Coimbra que por Ela nutre o maior respeito e a mais significativa devoção.

Trasladações
Logo que a Rainha Santa entregou a sua alma a Deus, o primeiro cuidado da côrte foi escolher local para depositar o corpo de tão excelsa Senhora, opinando uns para que fôsse sepultado no Convento dos Franciscanos, em Estremoz, e outros para que fosse trasladado para a Sé de Evora, a cidade mais proxima daquela terra. Por conselho de Elrei procurou-se o testamento de D. Isabel e vendo-se por ele que a Rainha Santa queria ser sepultada em Coimbra, na Igreja de Santa Clara, foi respeitada esta vontade, dandose logo ordens para se pôr em pratica o desejo ali expresso. Apezar das opiniões em contrario, prevaleceram as determinações de El-rei. O prestito funebre saiu de Estremoz na tarde do dia 5 de julho e, em marchas apressadas, chegou a Coimbra no dia 11 do mesmo mês, tendo atravessado tão longo percurso debaixo dum sol abrazador.
As inumeras pessoas que constituiam o prestito funebre foram tomadas de verdadeiro espanto quando, ao 3.º dia de viagem, notaram que o ataúde onde vinha o corpo de Santa Isabel principiava de abrir algumas fendas, escorrendo por entre elas um liquido que todos supozeram ser proveniente da decomposição do cadaver. Mas, feliz engano! Esse liquido, longe de exalar qualquer cheiro desagradavel, antes era ameno e consolador, espalhando no espaço um tal aroma que aqueles que a principio se sentiam inquietos e desconfiados, logo se aproximaram do ataúde, louvando o Senhor por esta manifestação da sua omnipotencia. Quando o cortejo chegou a Coimbra deram-se então scenas comovedoras e lancinantes entre a população citadina. Todos á porfia queriam beijar o ataúde onde vinha a sua Protectora, a sua desvelada Bemfeitora, ouvindo-se choros de verdadeiro compungimento pela morte da virtuosa Rainha, cujo passado tinha sido um manancial de graças e bondade!» In Anonymous, Isabel d’Aragão e Rainha Santa, 2011, ISO 8859-1, Project Gutenberg Ebook, produzido por Pedro Saborano, Coimbra, Gráfica Conimbricense, Lda, 1921.


Cortesia de PGutenberg/Gráfica Conimbricense/JDACT