domingo, 7 de fevereiro de 2021

Lenda do Brasão de Coimbra. Leo Duarte. «Sobre o entablamento de cada portal ergue-se um segundo corpo em que se destacam, como motivos principais, as estátuas dos reis Dinis I e de João III, saídas do cinzel do imaginário Manuel Sousa…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Lenda relatada originalmente por frei Bernardo Brito

História

«(…) Porta Férrea

A entrada para o Pátio das Escolas faz-se através da Porta Férrea, edificada nos anos subsequentes ao de 1633. Substituiu a velha porta medieval do paço, que era cingida por dois fortes torreões. O nome advém-lhe do forte portão e da bandeira de ferro que fecham o seu vão. Esta obra foi patrocinada pelo reitor Álvaro Costa, tendo ficado o projecto a cargo do arquitecto conimbricence António Tavares e a execução ao mestre construtor Isidro Manuel. Estilisticamente integra-se num maneirismo típico da região, ainda muita apegado às formas decorativas da Renascença.

A estrutura dos dois portais, o interior e o exterior, é a mesma, só diferindo em pequenos pormenores decorativos e na imaginária. Os vãos rectangulares são ladeados por partes de colunas coríntias e um amplo nicho nos inter-colúnios, que encerram figuras alegóricas das antigas faculdades: Medicina e Leis, no exterior; e Teologia e Cânones, no interior.

Sobre o entablamento de cada portal ergue-se um segundo corpo em que se destacam, como motivos principais, as estátuas dos reis Dinis I e de João III, saídas do cinzel do imaginário Manuel Sousa, igualmente autor das que encimam o frontão curvo interrompido e que simbolizam a Sapiência, figura emblemática da Universidade. O corredor de passagem é fechado por um artístico e pesado portão, sendo a cobertura abobadada e às quartelas.

Via Latina

Designa-se por Via Latina a elegante colunata erguida no eirado do paço quinhentista, em tempo do reitorado de Francisco Lemos, nos finais do século XVIII. A meio, destaca-se da linha geral da frontaria um corpo de aparato, cujo acesso se faz por uma escadaria nobre. É formado por três arcos altos que sustentam um frontão triangular com o escudo nacional, sobre o qual se eleva uma figura alegórica da Universidade. Este corpo inclui um conjunto escultório executado por Claude Laprade em 1701, no qual se pode admirar a imagem esculpida do rei José I, já saída das mãos de outro artista, quando da remodelação da Via Latina, ao tempo da Reforma Pombalina. Dois atlantes suportam um frontão curvo e, na base, podem ver-se duas graciosas figuras femininas evocadoras da Justiça e da Fortaleza.

Sala Grande dos Actos

Da Sala dos Archeiros tem-se acesso a um extenso corredor que possui varandas que dão para a Sala Grande dos Actos, mais conhecida por Sala dos Capelos. É aqui que ainda hoje ocorrem os mais importantes actos da vida académica, como a investidura dos Magníficos Reitores, a cerimónia de abertura do ano lectivo e os doutoramentos. Este amplo espaço foi primitivamente o salão nobre do Paço, remodelado na segunda década do século de quinhentos, pelo mestre arquitecto Marcos Pires. Em meados da centúria de Seiscentos foi definitivamente transformado pelo construtor António Tavares, o responsável por muitas obras na Universidade, nomeadamente a Porta Férrea. Estas remodelações foram levadas a efeito durante o reitorado de Manuel Saldanha.

A pintura do tecto, apainelado, é obra de Jacinto Pereira Costa, e as grandes telas com as figuras dos reis, de vários autores, sendo as dos anteriores a Afonso VI da autoria de Carlos Falch. Todas estas obras de pintura datam dos anos precedentes ao de 1655, e nelas trabalharam ainda Manuel Costa e André Almeida. Os azulejos, de magnífica policromia e do tipo tapete, foram fabricados em olarias lisboetas. A toda a volta da sala, no plano mais elevado, encontram-se os doutorais, grandes brancos corridos, onde só têm assento os Doutores durante as cerimónias académicas. No topo oposto à estrada, a meio, e também ao nível dos bancos, fica a cadeira reitoral onde o Reitor preside aos actos. Convidados e outras entidades ocupam o lugar dentro da teia, a nível baixo, ficando o resto da sala disponível para o público.

Sala do Exame Privado

Outra das dependências notáveis é a Sala do Exame Privado, remodelada em 1701 pelo mestre-de-obras da Universidade, José Cardoso. O seu principal motivo de interesse reside na decoração que consta de um lambril de azulejos executados pelo oleiro e pintor conimbricence Agostinho Paiva, e por um friso de pinturas retratando antigos reitores, sendo os que viveram antes de 1701 da autoria de António Simões.

A pintura do tecto foi obra do lisboeta José Ferreira Araújo, devendo-se as insígnias a João Vidal. Nesta empreitada trabalhou ainda o pintor Gonçalo Mesquita. A obra de carpintaria e a decoração em madeira correu a cargo do mestre Manuel Pereira. Todas estas obras foram patrocinadas pelo Reitor Nuno Silva Teles». In Leo Duarte, Lenda do Brasão de Coimbra, Pedro Dias, Coimbra, Arte e História, I.H.A., Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico, Volume IV, 1988, Editora João Romano Torres, 1904-1915.

 

Cortesia de EJRomanoTorres/UdeCoimbra/JDACT

 

JDACT, Frei Bernardo Brito, Leo Duarte, Coimbra, Cultura e Conhecimento,