sábado, 20 de fevereiro de 2021

Prisioneira da Inquisição. Theresa Breslin. «Não vimos o homem que seguia atrás de nós. Pois, no verão de 1490, antes de a Santa Inquisição (maldita) trazer medo e suspeita à nossa cidade, eu não olhava constantemente à minha volta enquanto cuidava dos meus afazeres»

 

Cortesia de wikipedia e jdact

«Em 1469, quando a rainha Isabel de Castela se casou com o rei Fernando de Aragão, dois reinos se uniram. Era a grande ambição das suas vidas unir o resto da Espanha e governá-la como um único país. Intensamente religiosos, eles também queriam que todos os seus súbditos seguissem a fé cristã. Com fogo e espada, cumpriram essa missão. A Santa Inquisição, maldita, (1232-1820) foi uma instituição judicial fundada pela Igreja Católica para descobrir e extinguir a heresia. Durante o reinado de Isabel e Fernando, agentes da Inquisição, maldita, (alguns padres, apoiados por irmãos soldados religiosos) e funcionários públicos juntaram-se, nem sempre de boa vontade, para perseguir hereges. Na Espanha, sob o regime do chefe inquisidor, Tomás Torquemada, a Inquisição (maldita) foi particularmente activa. A tortura era usada durante o interrogatório de acusados, e castigos extremos, incluindo queimar na fogueira ainda vivo, amarrado a uma estaca, eram aplicados a quem fosse declarado culpado, especialmente àqueles que haviam se convertido ao Cristianismo e depois voltado atrás.

No ano de 1490, o navegador-explorador Cristóvão Colombo procura o patrocínio dos monarcas espanhóis para o seu ambicioso plano de cruzar o oceano Atlântico. A essa altura, a maior parte da Espanha havia sido reconquistada dos mouros, excepto o reino de Granada. Os exércitos da rainha Isabel e do rei Fernando estão se reunindo, pois eles planeam sitiar a cidade de Granada e capturar o belo palácio mouro de Alhambra. Enquanto isso, os agentes da Inquisição (maldita) continuam o seu trabalho por toda a Espanha...

Espanha, 1492

Ela implorou por uma cruz para segurar. Não lhe deram uma. Seu corpo estava amarrado firmemente com cordas à parte central da estaca. Seus braços e mãos estavam livres. Ela os uniu. Atravessou com o polegar da mão direita o dedo indicador da esquerda. Pressionou os lábios na intersepção dessa cruz e gritou em voz alta: em nome do Abençoado Senhor Jesus que morreu por nossos pecados! As chamas começaram a se erguer à sua volta. Seria verdade que, em alguns casos, eles humedeciam a madeira da fogueira para que o condenado assasse mais lentamente? Seu corpo foi obscurecido pela fumaça, sua forma era uma sombra se contorcendo dentro do fogo. Ela não podia ser vista, mas podia ser ouvida agora, gritando, e a multidão entoava para ela: Abjure! Abjure! Um jovem bradou: pelo amor de Deus, deixem que ela morra! Deixem que ela morra! Às vezes, o carrasco se adiantava e rapidamente garroteava os hereges antes que as chamas os atingissem. A ela, porém, não foi demonstrada tal piedade. Seus gritos diminuíram para serem substituídos por algo pior, um balbuciante grasnido agonizante. O homem baixou a cabeça, soluçando, as mãos cobrindo os ouvidos. O fedor de carne queimada pairou sobre a praça por muitas horas depois.

Uma Execução

Las Conchas, um pequeno porto na Andaluzia, no sul da Espanha

Zarita

Não vimos o homem que seguia atrás de nós. Pois, no verão de 1490, antes de a Santa Inquisição (maldita) trazer medo e suspeita à nossa cidade, eu não olhava constantemente à minha volta enquanto cuidava dos meus afazeres. Eu era Zarita, filha de um rico e poderoso magistrado, e podia ir aonde quisesse. E, naquele dia de Agosto, um dia tão quente que até mesmo os gatos tinham fugido furtivamente do sol para a sombra a fim de conseguir um pouco de ar fresco, eu estava acompanhada de Ramón Salazar, um belo e jovem fidalgo que havia declarado que morreria por amor a mim. Ramón saracoteava a meu lado, a espada nova de aço de Toledo balançando no quadril, enquanto seguíamos nosso caminho ao longo da rua não calçada do velho porto. Ele levava muito a sério o seu papel de meu protector, franzindo o rosto numa careta e lançando olhares severos a todos os transeuntes. Estávamos ali porque eu queria visitar o santuário de Nossa Senhora das Dores, que ficava situado numa igreja perto do mar. Aos 16 anos, Ramón era apenas um ano mais velho do que eu e nunca havia participado de um duelo, mas me acompanhava com o ar de superioridade de um soldado experiente». In Theresa Breslin, Prisioneira da Inquisição, 2010, Editora Galera Record, 2014, ISBN 978-850-113-940-0.

Cortesia de EGaleraR/JDACT

JDACT, Theresa Breslin, Literatura, Século XV, Religião,