terça-feira, 31 de maio de 2022

No 31. Maria Madalena. Michael Haag. «… angariando convertidos na Palestina desde o século I, mas a sua associação com a casa de Maria Madalena foi uma invenção religiosa em consonância com a substituição de Magadan por Magdala»

Cortesia de wikipedia e jdact

Um lugar chamado Magdala

«(…) Apesar das escavações modernas em Magdala e das alegações de que ela está associada a Maria Madalena, e apesar da bênção do papa Francisco em 2014, não há lugar chamado Magdala na Bíblia, excepto numa frase corrompida no Evangelho de Mateus, onde, depois de alimentar a multidão com pães e peixes, Jesus entrou no barco e foi para as costas de Magdala, que é o texto da versão do rei Jaime. A fonte grega que foi seguida neste caso, no entanto, data apenas do século V, mas fontes gregas mais antigas e mais confiáveis, tais como os manuscritos do início do século IV, conhecidos como o Códice Sinaítico e o Códice Vaticano, não mencionam Magdala de forma alguma. O Códice Vaticano, por exemplo, diz que Jesus entrou no barco e foi para as costas de Magadan, exactamente o que aparece em edições escolares modernas, como Bíblia Inglesa Revista, bem como em bíblias católicas e ortodoxas. Isto é apoiado pela evidência dos Pais da Igreja, Eusébio e Jerónimo, o primeiro escrevendo no início do século IV, o segundo no final do século IV, que não fazem nenhuma menção a qualquer lugar chamado Migdal ou Magdala; eles falam apenas de Magadan.

No que foi, aparentemente, um acto de edição criativa, um copista bizantino transformou Magadan em Magdala. Embora semelhantes, os nomes Magadan e Magdala significam duas coisas diferentes. Magadan deriva da palavra aramaica magad, que significa mercadoria preciosa, enquanto Magdala deriva do aramaico magdal e do hebraico migdal, significando torre. Mas a identificação de Magdala com Magadan começou a produzir seu efeito. Antes da alteração bizantina do texto no Evangelho de Mateus, os peregrinos que viajavam pela Terra Santa nada diziam sobre qualquer lugar chamado Magdala. No início do século VI, no entanto, um peregrino chamado Teodósio deparou-se com Magadan, na margem ocidental do mar da Galileia, e, influenciado pelo texto inventado, declarou que ele tinha vindo para Magdala; Magdale, ubi domna Maria nata est, ele escreveu em latim: Magdala, onde a senhora Maria nasceu. Peregrinos viajando para a Terra Santa vicejaram em associações com os evangelhos, e aqueles que seguiam na esteira de Teodósio tinham o prazer de concordar que Magadan era o local de nascimento de Maria Madalena. Por volta do século IX peregrinos mencionavam uma igreja em Magdala, que supostamente compreendia a própria casa de Maria Madalena, de onde os sete demónios tinham sido expulsos e na qual podiam entrar. A igreja, eles foram informados, tinha sido construída pela temível imperatriz Helena, mãe de Constantino, o Grande, que em 326-328, com idade aproximada de oitenta anos, visitou a Terra Santa e fez construir igrejas no local do nascimento de Jesus em Belém e de sua ascensão no topo do monte das Oliveiras. Seu filho, o imperador Constantino, construiu a igreja do Santo Sepulcro, no ponto em Jerusalém onde Helena disse ter descoberto a tumba de Jesus. Mas, embora as visitas de Helena a Belém e Jerusalém tenham sido registadas quando ela as fez, não há nenhum registo contemporâneo de uma visita sua à Galileia; e caso ela tivesse construído uma igreja que declarava compreender à casa de Maria Madalena, certamente teria sido uma característica famosa na rota de peregrinação já no século IV, em vez disso, nem um único peregrino é conhecido por ter mencionado o nome de Magdala. A igreja vista pelos peregrinos do século IX pode ter sido velha, o cristianismo vinha angariando convertidos na Palestina desde o século I, mas a sua associação com a casa de Maria Madalena foi uma invenção religiosa em consonância com a substituição de Magadan por Magdala». In Michael Haag, Maria Madalena, Zahar, 2018, ISBN 978-853-781-739-1.

Cortesia de Zahar/JDACT

JDACT, Conhecimento, Literatura, Maria Madalena, Michael Haag, Religião,