segunda-feira, 14 de novembro de 2022

A Rainha Isabel nas Estratégias Políticas da Península Ibérica 1280-1336. José Carlos Gimenez. «Essas alianças matrimoniais ganhavam ainda, significados políticos quando realizadas sob o amparo da Igreja e o reconhecimento público dos súbditos dos reinos envolvidos»

Cortesia de wikipedia e jdact

Com a devida vénia ao Doutor José Carlos Gimenez

De Infanta Aragonesa a Rainha a Rainha de Portugal

«(…) Foi no contexto dessas divergências contra a nobreza e o clero que a rainha Isabel e dom Dinis haveriam de enfrentar seus primeiros anos como rainha e rei. Com o objectivo de realizar um entendimento político com o papado, o monarca português promoveu uma série de emendas à Corte com esse objectivo. Essa tentativa pode ser percebida igualmente por meio de uma carta que dom Dinis enviou ao Papa Martinho IV (1281-1285) solicitando que fossem suspensas as interdições que recaíam sobre o reino de Portugal. Como já havia ocorrido com Inocêncio IV (1243-1254), o papa Martinho IV (1281-1285) e seu sucessor, Honório IV (1285-1287) notabilizaram-se pelas suas acções nos assuntos políticos de diversos reinos. O primeiro ficou famoso pelos atritos com os Hohenstaufen da Alemanha na luta pela posse da Sicília. O segundo e o terceiro apoiaram abertamente a França, inclusive oferecendo a ela o reino da Sicília contra Aragão que naquela altura também se apresentava como herdeiro da ilha devido ao casamento de Pedro III, pai da Rainha Isabel com Constança, filha de Manfredo Hohenstaufen.

Ao Santíssimo Padre, & senhor Dõ Martinho pela prouidencia de Deos Summo Pontifice da Santa Igreja de Roma, Dionysio pela graça de Deos Rey de Portugal, & Algarue, beja os pés bemauenturados. Porque na terra tendes plenariamente as vezes de aquelle que he paz nossa, fazendo de ambas as repubicas de Céu, & terra huma, o medianeiro entre Deos, & homes Christo Iesu: não duuidamos que tambem voz alegraes entranhauelmente nas cousas que encaminhão â paz de Ierusalem a Santa Madre Igreja. Por esta causa determinamos manifestar a alteza de vossa Santidade, que promulgando em tempo passado o senhor Papa Gregorio Decimo de santa memoria, com conselho de seus irmãos, hua ordenação, ou prouião contra nosso pay Dom Afonso (...) & sendo tem tenção daquele Papa expressada na mesma prouisão, que nos comprehendesse ella tambem a nos. Finalmente despois de morto o dito nosso pay, (...) considerando o estado dos Reinos Sobreditos, & em particular por respeito da profunda destruição das almas de seus naturaes, as quaes de longo tempo atras estão priuados da douçura da graça dos Sacramentos…

A falta de boas relações com Roma e com seus representantes locais provocava grande instabilidade política para Portugal naquela época, pois a excomunhão seguida da interdição era uma arma utilizada pelos Papas contra os poderes laicos. A excomunhão afastava os pecadores da vida em comunhão, e o interdito recaía sobre os que possuíam poderes políticos no momento da excomunhão e privava os territórios, que estavam sob seus domínios, dos ofícios religiosos e administração dos sacramentos, entre outros. Segundo Félix Lopes, quando Dinis se casou com a Infanta Isabel de Aragão, no reino português, as igrejas mantinham suas portas fechadas e os fiéis encontravam-se privados das bênçãos e dos actos solenes. Porém, a interdição do Papa não impediu que o casamento fosse realizado com magnificência pública e muitos festejos. Ainda segundo esse autor:

 ...fez-se bodas, grandes e ruidosas, com os velhos ricos-homens trovadores e os moços trovadores, criados com o moço rei, à compita nos jogos de armas e cantares, nas alegrias e folguedos. E os festejos prolongaram-se em Trancoso por todo o mês de Julho. Depois a corte passou à Guarda onde ainda demorava a 18 de Setembro.

Essas alianças matrimoniais ganhavam ainda, significados políticos quando realizadas sob o amparo da Igreja e o reconhecimento público dos súbditos dos reinos envolvidos. Muitas vezes, elas iniciavam-se no privado, com longas negociações que envolviam os dois lados interessados, representados pelos elementos mais ilustres dos dois reinos». In José Carlos Gimenez, A Rainha Isabel nas Estratégias Políticas da Península Ibérica 1280-1336, Teses de Doutoramento, UF do Paraná, Ciências Humanas, 2005.

Cortesia de UFParaná/CHumanas/JDACT

JDACT, José Carlos Gimenez, Caso de Estudo, Península Ibérica, Rainha Isabel,