sexta-feira, 4 de novembro de 2022

As Igrejas do Salvador, São Tiago e São Pedro de Torres Novas. Vítor Serrão. «… objectos de culto e, por isso, mantêm incólume as suas dimensões de intermediários de fé, não deixando por isso de ser também e sempre obras de arte»

Cortesia de wikipedia e jdact

«Em breves palavras desejo manifestar o meu louvor e agrado pela oportuna publicação sobre o património religioso de três Igrejas de Torres Novas (Salvador, São Tiago e São Pedro). O Professor Doutor Vítor Serrão, autor da obra, além da autoridade e reconhecida competência na história da arte, é também um ribatejano que se dedica de alma e coração a investigar a memória cultural da sua região. Temos assim garantida a qualidade e interesse da presente publicação. Apresenta-se como um estudo integral. De facto, o autor, tendo presentes e apoiando-se em estudos de outros pesquisadores, procurou novas fontes de informação e integra, numa visão de conjunto, a investigação pessoal e os trabalhos anteriores que abriram o caminho ao conhecimento do património de Torres Novas. Associando áreas como a arquitectura, a iconograia, a história religiosa ou social, alcança uma perspectiva rica e esclarecedora do património artístico das três Igrejas paroquiais de Torres Novas. A leitura torna-se interessante e enriquecedora. A oportunidade da obra decorre da necessidade actual de cultivar a memória e reconhecer as nossas raízes. Assistimos, realmente, a uma perda da memória. Sem recordação não encontramos raízes nem referências. As pessoas correm hoje o risco de viver apenas para o presente e de sobrevalorizar o efémero e o provisório, permanecendo à superfície da realidade e caindo num vazio e num deserto de valores e ideais. Ora a memória religiosa evoca representações e símbolos de um mundo transcendente, marcado pela harmonia e pela estética e gerador de paz. Não é apenas uma lembrança de realidades de outros tempos. A memória cristã traz à mente e ao coração (recordar é trazer ao coração) pessoas e factos que admiramos e veneramos (santos, acontecimentos bíblicos ou da história da igreja) e com os quais nos sentimos em casa. São, portanto, como estrelas que nos orientam no caminho incerto da vida […]. In Prefácio, Bispo Emérito de Santarém, Abril de 2012

Panorama da História e das Artes Torrejanas

«A cidade de Torres Novas oferece aos seus visitantes a presença de um património histórico, artístico, arquitectónico, urbanístico, arqueológico, etnográico e paisagístico de grande interesse. Impõe-se dá-lo a conhecer melhor ao público em geral, e aos estudiosos em particular, no que toca às suas componentes de arquitectura e de arte religiosas, concretamente o que pertence às igrejas paroquiais de Salvador, de São Tiago e de São Pedro, dando maior atenção às existências patrimoniais e compelindo à sua visita.

Na realidade, o património artístico existente em Torres Novas não se resume à existência do velho castelo medieval, nem às colecções de escultura e lapidária do Museu Municipal, ou à pintura do paisagista Carlos Reis (1863-1940), considerado a maior celebridade da arte torrejana e um dos nomes de referência do naturalismo nacional. Também as igrejas, antigos conventos, ermidas e capelas, e as peças de arte sacra oriundas dos desafectados espaços de culto da antiga vila e museologicamente conservados, atestam um acervo que se impõe pela quantidade, qualidade e diversidade dos seus espécimes.

A arte sacra de que aqui falamos inclui, além da arquitectura dos templos propriamente dita, numerosíssimas peças de vários géneros artísticos, desde a imaginária em madeira, terracota e pedra, à pintura a óleo, a têmpera e a fresco, ao azulejo, à paramentaria, ao mobiliário, às pratas e alfaias litúrgicas, ao estuque, e a outras componentes. Impunha-se o seu estudo em termos históricos, formais, estilísticos, iconográficos e artísticos, razão pela qual se empreendeu uma análise destes acervos seguindo, como se impunha, a metodologia da História da Arte, quer pela via da investigação dos arquivos (em muitos casos com fundos inexplorados), quer pela via da análise laboratorial de peças nos casos em que se verificaram processos de conservação e restauro, quer pelo estudo estilístico e comparativo das obras de arte de per si. No âmbito de uma disciplina científica como a História crítica da Arte, que visa, à luz dos seus próprios conceitos e modos de fazer, dar a conhecer melhor as obras de arte, estimular o acto da suas leitura na sua componente de integralidade, saber avaliá-las como produtos específicos de conjunturas, épocas e situações do tempo histórico (e além do tempo histórico), foi tarefa minha, também, saber situá-las em contexto, entendê-las como objectos vivos dotados de fascínio duradoiro e como testemunhos estéticos dotados de carga trans-memorial, a fim de poder justamente unir, tanto quanto foi possível, as componentes do gestor das artes com a do historiador-crítico e com a do connoisseur de obras artísticas, sem esquecer que muitas destas peças são, também, objectos de culto e, por isso, mantêm incólume as suas dimensões de intermediários de fé, não deixando por isso de ser também e sempre obras de arte». In Vítor Serrão, As Igrejas do Salvador, São Tiago e São Pedro de Torres Novas, Instituto de História da Arte, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Gráfica Almondina, 2012, Depósito Legal: 342911/12.

Cortesia de IHA/FLULisboa/GAlmondina/JDACT

JDACT, Vítor Serrão, Religião, Cultura e Conhecimento, História, Ribatejo, Torres Novas,