terça-feira, 13 de julho de 2010

A Cidade de Silves: Silb era o nome dado a Silves durante o domínio muçulmano. Durante o domínio Romano, chamar-se-ia Cilpes. O Castelo de Silves, ocupa uma posição dominante sobre a foz do rio Arade, sendo considerado como o mais belo exemplo da arquitectura militar islâmica no país

Cortesia da algarvehousing
Silves é uma cidade portuguesa no Distrito de Faro, região e subregião do Algarve. Esta cidade já foi capital do Algarve, mas perdeu esse estatuto, em parte, devido ao assoreamento do rio Arade. É sede de um município, subdividido em 8 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Ourique, a nordeste por Almodôvar, a leste por Loulé, a sueste por Albufeira, a sudoeste por Lagoa, a oeste por Portimão e Monchique, a noroeste por Odemira e a sul tem o litoral do Oceano Atlântico.

Cortesia de algarve-beach-life
Silb era o nome dado à cidade de Silves durante o domínio muçulmano. Anteriormente, durante o domínio Romano, chamar-se-ia Cilpes, nome que surge em algumas moedas Romanas batidas nesse local no Século I A.C.. Um dos espécimes encontrados apresenta no obverso o nome CILPES entre duas espigas deitadas e no reverso um cavalo a galope, para a esquerda.

Cortesia da CMSilves
Os testemunhos da presença humana recolhidos na região de Silves e ao longo do curso do Rio Arade, revelam a sua existência desde os tempos Pré-Históricos. Os monumentos megalíticos como os menires do Monte Roma, em Silves, e os menires da Vilarinha, manifestam actividade daquelas comunidades agrícolas do período Neolítico da Região. A exploração de minerais nas margens do rio Arade, parece ser uma realidade com as sociedades da Idade do Bronze que construíram a Necrópole da Alfarrobeira.
Numa colina voltada a Norte do Cerro da Rocha Branca, localizada a dois Quilómetros a poente da actual cidade de Silves, existiram as ruínas de uma importante feitoria do 1º milénio a.C. Aquele povoado terá sido muito provavelmente a chamada Cilpes, que manteve relações comerciais com povos de remotas regiões do Mediterrâneo oriental, como os fenícios, gregos, cartagineses.
Os vestígios da conquista romana fazem-se sentir no actual núcleo urbano da cidade de Silves. Provavelmente terão sido edificadas naquele remoto período, as primeiras muralhas de defesa de um núcleo urbano. A ocupação muçulmana do actual território algarvio e a prolongada permanência dos povos árabes e sua preponderância cultural mantiveram-se desde os séculos VIII a XIII, e marcaram profundamente a história e o urbanismo da cidade.
A região foi primitivamente povoada por árabes do Mediterrâneo Oriental, amantes das artes e das ciências, permitindo o desenvolvimento deste importante pólo cultural e político do al-Gharb al-Andaluz, nos séculos IX a XII. Ficou na memória dos seus habitantes, a Medina Xelb conhecida, como a cidade de filósofos e poetas, Ibn Caci, Ibn Ammar ou o rei Al-Mutamide.
A primeira conquista cristã acontece em 1189. As tropas portuguesas governadas por D. Sancho I foram assistidas por um contingente de Cruzados em trânsito para a Terra Santa, que aportara acidentalmente em Lisboa. A efémera sujeição durou apenas dois anos, Al-Mansur dota a cidade com fortes muros e infra-estruturas de aprovisionamento de água. A derradeira conquista cristã acontece em meados do séc. XIII. D. Afonso III, apressa-se a nomear um bispo para esta sede episcopal, e logo a cidade se tornou capital de todo o Algarve. No séc. XV o infante D. Henrique concentra-se nesta urbe, e impulsiona activamente a participação das suas gentes nas viagens marítimas dos descobrimentos portugueses.
Com o século XVI surgem os primeiros sinais de declínio. O assoreamento do rio, principal via de comunicação com o exterior, a formação de áreas lodosas tornara a cidade insalubre. O prelado transladou-se para Faro em 1577, sob forte contestação popular, e esta transferência, foi seguida pelos influentes homens de negócios que animavam a vida económica da cidade. O Terramoto de 1755 foi o coroar das enfermidades que a urbe padecia, deixando pouco mais de uma dezena de casas habitáveis.
A centúria seguinte foi marcada pelas invasões francesas, a fuga da corte portuguesa para ao Brasil e as convulsões sociais que lavraram um pouco por todo o país. Em Silves, as guerras entre liberais e absolutistas, tiveram na região importante figura local, o guerrilheiro absolutista Remexido. A segunda metade deste século importou para esta cidade interior do Algarve a indústria corticeira, assim como, todo o comércio e pequenas unidades fabris dependentes daquela manufactura. A região é igualmente premiada com o investimento estatal da expansão do caminho-de-ferro, que chega aos arredores da cidade nos inícios do século XX.

Importante centro operário e industrial, prosperando em população e novas edificações, desenvolve-se política e culturalmente para as causas republicanas e sindicalistas que ainda hoje se reconhecem na toponímia das suas ruas. O Estado Novo põe termo ao ciclo industrial da cortiça. A decadência da agricultura assente na produção de frutos secos é substituída por uma prática agrícola apoiada no regadio e na produção de citrinos. Esta última consentida com a construção da Barragem do Arade e de importantes infra-estruturas de irrigação que elevam este concelho ao mais importante centro produtor nacional de Laranja.
A indústria turística e as potencialidades que a bacia do Rio Arade proporciona, conjuntamente com o riquíssimo património histórico que o concelho de Silves conserva serão por certo mais uma vertente económica a ser desenvolvida e explorada.

O Castelo de Silves, ocupa uma posição dominante sobre a foz do rio Arade, guarnecendo aquele trecho do litoral, constitui-se no maior castelo da região algarvia, sendo considerado como o mais belo exemplo da arquitectura militar islâmica no país.

A primitiva ocupação humana da colina de Silves remonta à pré-história, acreditando-se que, no primeiro milênio a.C., navegadores Fenícios tenham penetrado no rio Arade, navegável até fins da Idade Média, e que, posteriormente, tenha conhecido a presença Romana, que aqui explorou uma jazida de cobre, conforme os testemunhos arqueológicos. Alguns autores pretendem que teriam sido estes os responsáveis por uma primeira fortificação, entre os séculos IV e V, também atribuída aos Visigodos que se lhes sucederam. A partir do século VIII, diante da Invasão muçulmana da Península Ibérica, os novos senhores desta região iniciaram a fortificação de Silves (então as-Shilb), como o confirmam as recentes escavações. Graças à posição geográfica privilegiada a povoação cresceu com rapidez. Por volta do século XI, quando conheceu o apogeu, ultrapassando Ossónoba em importância, foi palco de inúmeras disputas entre príncipes muçulmanos vindo a ser conquistada pelo rei-poeta Al-Mutamide (1052), tornando-se sede de uma taifa. Embora uma historiografia clássica afirme que as forças de Fernando Magno conquistaram e saquearam a povoação em 1060, a realidade desse evento tem sido modernamente questionada.
Acredita-se que data deste período a configuração genérica do perímetro muralhado, envolvendo uma área de cerca de doze hectares. A muralha ameada, rasgada por três portas, era reforçada por torres de planta quadrangular. Internamente a povoação era definida por duas ruas principais, constituindo dois eixos. Junto à porta principal (Porta de Almedina, Porta de Loulé) erguia-se o vasto Palácio da Varandas, hoje desaparecido, que conhecemos pela poesia de Al-Mutamide.
A povoação encontra-se descrita na crônica de Xelbe, ao final do século XII, como um dinâmico centro urbano, comercial e cultural do mundo islâmico. Data do início do século XIII a reforma Almóada das suas defesas, empreendida pelo último rei muçulmano, Ibn al-Mahfur, que lhe conferiu as linhas gerais que, com alterações, chegaram aos nossos dias.

À época da Reconquista cristã da península Ibérica, o monarca português D. Sancho I (1185-1211) também foi atraído pela prosperidade deste enclave. No início do ano de 1189, com o auxílio de uma frota de cruzados Dinamarqueses e Frísios, conquistou preliminarmente o vizinho Castelo de Alvor. No Verão do mesmo ano, com um auxílio de uma nova frota de cruzados, agora de Ingleses e Alemães, intenta, a partir da segunda quinzena de Julho, a conquista de Silves, a quem impos um duro sítio. Deste episódio, chegou até nós a narrativa de um de seus participantes, que descreve a violência do cerco, assim como o emprego de uma variedade de máquinas de guerra, tais como torres de madeira, catapultas e de um "ouriço" (esfera de madeira armada com pontas de ferro), que destruiram várias torres e troços da muralha, conduzindo à rendição da povoação a 2 de Setembro, violentamente saqueada na ocasião. A povoação e seu castelo mantiveram-se na posse de Portugal até à contra-ofensiva Almóada que, sob o comando do califa Abu Yusuf Ya'qub al-Mansur, em 1191, culminou com a perda de todas as conquistas cristãs nos territórios ao sul do rio Tejo, à excepção da cidade de Évora.

No ano de 1242, os cavaleiros da Ordem de Santiago, sob o comando de seu Mestre, D. Paio Peres Correia, intentou a reconquista de Silves que, entretanto, só retornou definitivamente às mãos de Portugal sob o reinado de D. Afonso III (1248-1279), em 1253, quando o seu bispado foi restaurado. O soberano concedeu à povoação o seu Foral (1266), quando terá também determinado a recuperação e reforço das suas defesas. Porteriormente, D. Fernando e D. João I promoveram reparos nessas defesas. Acredita-se que trabalhos de ampliação e reforço tenham ocorrido sob o reinado de D. Manuel I, que concedeu Foral Novo à Vila (1504), uma vez que datam desse período as obras da Igreja da Sé e da Misericórdia.

Cortesia da CMSilves
Quando do terramoto de 1755, a sua estrutura foi severamente danificada.
O castelo encontra-se classificado como Monumento Nacional por Decreto publicado em 23 de Junho de 1910. Nas décadas de 1930 e de 1940, foram promovidas intervenções de consolidação e restauro, a cargo da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), desobstruindo-se troços de muralhas e refazendo-se algumas torres, ameaçadas de ruína.
Desde 1984 que decorrem escavações arqueológicas no interior do castelo, coordenadas pela Prof. Doutora Rosa Varela Gomes (FCSH-UNL), investigadora internacionalmente reconhecida na área da Arqueologia Medieval Islâmica.
Actualmente, este castelo constitui um dos maiores e mais bem conservados monumentos do país.

A fortificação ocupa uma área de cerca de 12.000 m², constituindo-se em um típico exemplar da arquitectura militar islâmica, erguido com o emprego de taipa, revestida com grés (arenito), material abundante na região e que lhe confere uma tonalidade avermelhada. A fortificação islâmica ordenava dois grandes espaços:

  • alcáçova, em posição dominante na cota mais alta do terreno, com muralhas ameadas, percorridas no topo por adarve, reforçadas onze torres de planta quadrangular, duas das quais albarrãs, comunicando-se com as duas por uma passagem elevada em arco;

  • almedina, ligada à alcáçova através de uma porta protegida por duas poderosas torres. A sua muralha envolve a povoação, sendo rasgada por três portas, das quais apenas a Porta de Loulé nos chegou. Esta porta apresenta um passadiço duplo, com arcos de volta perfeita, protegido por uma torre albarrã.
Acredita-se que a sua estrutura inferior seria em cotovelo. Esta torre tem no seu interior duas salas e anexos onde, durante séculos, esteve instalada a Câmara Municipal e, desde 1983, os serviços da Biblioteca Municipal. É acedida por uma escada exterior, construída posteriormente, e pelos dois passadiços originais, no topo. Junto a ela foram encontrados os vestígios do chamado «Palácio das Varandas», durante trabalhos arqueológicos de escavação de sondagem, coordenados por Rosa Varela Gomes.
Quatro das torres, modificadas quando dos trabalhos de reconstrução promovidos no século XIV ou XV, apresentam portas em estilo gótico, salas abobadadas e pedras com as marcas dos pedreiros que as levantaram.
Na alcáçova destacam-se ainda, as cisternas:
  • A principal, de dimensões monumentais, com abóbada apoiada por cinco arcos de volta inteira assentes em colunas quadradas. Segundo a tradição, a sua capacidade era suficiente para abastecer a povoação durante todo um ano;
  • Cisterna dos Cães, com cerca de 70 metros de profundidade, ao que se crê, aproveitamento um antigo poço de exploração de cobre da época romana.
«O castelo de Silves é uma das principais fortificações muçulmanas em território nacional, e uma das que em melhor estado chegou até aos nossos dias. A sua construção remonta aos inícios da dominação islâmica na península, como o parece provar as descobertas arqueológicas de espólio datável dos séculos VIII-IX (GOMES, 1989, p.34). Sucederam-se as reformulações até ao século XI, altura em que Silves atingiu o seu apogeu e ultrapassou a antiga cidade de Ossónoba, elevando-se à categoria de principal cidade do Algarve. Com efeito, sob o governo de Al-Mutamide, Silves passou a ser capital de uma taifa (reino islâmico independente), e deve datar desse período a configuração geral do perímetro amuralhado, em planta, que ainda hoje se mantém.
Cercando uma área de aproximadamente 12 hectares, a muralha possuia três portas e uma rede viária interna cruzada, com duas ruas principais. Associada à porta principal - a Porta da Almedina, ou de Loulé - o magnífico Palácio das Varandas, tão celebrado na poesia do rei-poeta Al-Mutamide, dominava toda a cidade.

Cortesia da CMSilves
Mas se a disposição geral do perímetro amuralhado pode ser atribuída ao período das taifas, o mesmo não acontece com a construção em altura, cuja tipologia aponta para a época almóada. Nessa altura, praticamente nas vésperas da conquista cristã da cidade, uma campanha de obras conferiu o aspecto geral dos volumes da fortaleza. De 1227 é uma lápide, identificada nas ruínas da Porta do Sol e originalmente associada a uma torre quadrangular que defendia esta passagem, que data a última grande reforma islâmica do castelo, fomentada pelo último rei muçulmano, Ibn al-Mahfur (GOMES, 1989, p.36).
O complexo sistema defensivo então delineado manteve a organização em duas grandes áreas, a alcáçova e a medina. A primeira, erguida no alto do cerro, era protegida por onze torres quadrangulares, duas das quais albarrãs, salientes do pano de muralha, mas comunicando com ele através de uma passagem superior, o que permitia uma mais eficaz defesa dos panos rectilíneos. No interior da alcáçova destaca-se a magnífica cisterna da Moura, um enorme depósito de água, datável do século XI, e que ocupa uma área de 820 metros quadrados, elevando-se a uma altura de 10 metros (TORRES, 1997, p.441).
A medina ligava-se à alcáçova através de uma porta protegida por duas poderosas torres. Rodeia praticamente toda a cidade, e possuia três portas, sendo que apenas a de Loulé se mantém praticamente íntegra, com o seu duplo passadiço de altos arcos de volta perfeita, protegido por uma torre albarrã, e uma estrutura inferior muito provavelmente em cotovelo (CORREIA, 2002, p.84).
As alterações que posteriormente se efectuaram no castelo de Silves não parecem ter desvirtuado a concepção geral muçulmana. Sabemos que D. Fernando e D. João I realizaram obras pontuais na fortaleza, desconhecendo-se, contudo, a amplitude dessas intervenções. Bastante mais radical foi o restauro efectuado pela DGEMN, nas décadas de 30 e de 40 do século XX. Nessa altura desobstruiram-se os panos de muralhas e refizeram-se algumas torres que ameaçavam ruir. Foi um restauro algo fantasista que destruiu, entre outros elementos, os restos do Palácio das Varandas, que Domingues Garcia ainda viu. Tal facto, contudo, não foi suficiente para afastar o estatuto desta fortaleza como uma das principais obras de arquitectura militar islâmica, ainda que tardia, que chegaram até hoje, no território nacional». In PAF, IGESPAR

Cortesia da CMSilves
A Sé Catedral de Silves  apresenta hoje uma estrutura com um cunho principalmente gótico, mas também elementos de outras épocas, visto ter vindo a sofrer alterações ao longo dos séculos.
É difícil precisar com exactidão a origem da catedral, e se esta terá sido erigida sobre uma mesquita após a reconquista da cidade aos mouros por D. Dinis, mas sabe-se que o edifício actual terá sido iniciado entre meados e finais do século XIII. Vários terramotos foram deteriorando o edifício ainda inacabado, e este acabou por ser reformulado a meados do século XV, seguindo uma estrutura gótica mais simples.
No século XVIII, após o terramoto de Lisboa de 1755, e com a destruição de vários dos seus elementos, a catedral foi alvo de novas alterações em estilo barroco, que se podem observar na zona superior da fachada principal a terminar em volutas, no portal sul e na nova torre sineira. A partir de 1938 a DGEMN procedeu a restauros no edifício de modo a acentuar as suas características góticas.
A catedral apresenta uma planta em forma de cruz latina, com cruzeiro abobadado no cruzamento dos braços da mesma, rematada por uma abside em grés vermelho na extremidade onde se encontra o altar-mor. A nave, com uma altura máxima de cerca de 18 metros, apresenta duas naves laterais com altares decorados a talha dourada barroca, divididas da nave central por sólidos pilares octagonais.
O portal principal da catedral, inserido num alfiz (elemento rectangular em pedra onde se insere todo o portal), é formado por um arco quebrado composto por arquivoltas dispostas em degraus. Os capitéis são possivelmente contemporâneos do Mosteiro da Batalha, edifício que mais influênciou a catedral que se tornou o maior exemplo da arquitectura gótica no Algarve. A fachada sul da catedral apresenta um portal barroco/rococó de 1781, designado por Porta do Sol.
O seu interior alberga no pavimento diversos túmulos de bispos e de famílias nobres de Silves, assim como a pedra tumular de D. João II, falecido e aqui sepultado em 1495, e que acabou por ser posteriormente transladado para o Mosteiro da Batalha.

Cortesia da CMSilves
São ainda muito obscuras as origens da Sé de Silves. Em 1189, data da primeira conquista da cidade pelas tropas cristãs, então comandadas por D. Sancho I, as notícias referem que a catedral foi sagrada sobre a antiga mesquita maior, situação que se terá repetido na conquista definitiva desta parcela do território. Infelizmente, não foi identificado, até ao momento, qualquer vestígio material que comprove essa continuidade cultual sobre um mesmo espaço, não obstante "os silhares da base da antiga torre sineira, situada junto ao topo norte do transepto" apresentarem "um desgaste muito superior a qualquer dos restantes" e de, por isso, poderem ser anteriores à fundação da catedral cristã (GAMITO et alli, 1997, p.280).
O edifício que hoje se conserva é uma construção claramente gótica, iniciada pelos meados do século XIII e cuja conclusão se arrastou extraordinariamente. Em 1268, solucionava-se a questão do senhorio do Algarve, mantida entre D. Afonso III e Afonso X, facto que permitia, finalmente, uma maior atenção do monarca nacional para as questões de povoamento e de organização dos homens na nova província-reino. A essa segunda metade do século XIII deve corresponder a cabeceira ou, mais propriamente, a organização geral de volumes da parte principal do templo. Certo é que um século mais tarde o projecto estava longe de se encontrar concluído e a própria cabeceira devia já apresentar alguns sinais de ruína, em consequência de um violento sismo na cidade e, com grande probabilidade, do próprio estado inacabado do estaleiro. Indício disso mesmo é a parcial reformulação do projecto da cabeceira, denunciado, em particular, pela presença de uma janela mainelada no alçado Sul.
Mas a principal campanha de obras que hoje se pode identificar data já do século XV. Na década de 40 deu-se decisivo impulso ao monumento, simplificando-se, para isso, o programa original gótico, porventura demasiado ambicioso para os recursos económicos da diocese. Mário Chicó notou já o carácter mais austero da nave, em relação à cabeceira e transepto. O portal principal, encaixado num robusto alfiz, denota uma decoração capitelar que podemos considerar já batalhina, contemporânea da lápide sepulcral de D. João II, diante do altar-mor.
A feição actual da Sé Catedral de Silves não se deve apenas a esta campanha quatrocentista. Ela é fruto de novas obras levadas a cabo no século XVIII, na sequência do terramoto de 1755, e no século XX, no âmbito do restauro patrimonial em série conduzido pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN).
Após 1755, partes consideráveis das naves haviam ruído. A campanha então posta em marcha foi bastante rápida, na linha das apressadas reconstruções empreendidas um pouco por todo o país após a calamidade que assolou Lisboa. Em 1758 estaria já terminada e a ela corresponde a parte alta da fachada principal, com o seu remate tipicamente barroco, e parte substancial da fachada lateral Sul, com a sua nova torre sineira.
A partir de 1938, e por um período de sensivelmente quatro anos, a DGEMN patrocinou o restauro da Catedral de Silves, com vista a devolver o edifício à sua pureza gótica original. Procedeu-se, então, à demolição de diversos anexos, em especial a sacristia barroca, bem como ao desafogamento de todo o edifício.
Apesar destas múltiplas fases construtivas, a Sé de Silves mantem-se como o principal monumento gótico do Algarve e aquele onde as dominantes estéticas mais vanguardistas se fizeram sentir, como é o caso da poderosa influência do Mosteiro da Batalha, cujo eco praticamente não se testemunha em outras construções algarvias, mas que em Silves é uma das principais marcas da sua fábrica». In PAF, IGESPAR

«A antiga capital do domínio islâmico algarvio foi conquistada duas vezes por tropas portuguesas. A primeira, em 1189, sob o comando de D. Sancho I, permitiu um controle efémero, mas a segunda, na década de 40 do século XIII, estando a condução da operação a cargo de D. Paio Peres Correia, mestre da Ordem de Santiago, favoreceu um domínio longo e duradouro. Nos primeiros tempos da nova ordem portuguesa, o estatuto de Silves não sofreu alterações, mantendo-se como capital do Algarve e, tão ou mais importante, como sede da diocese algarvia. Agraciada com foral em 1266, por D. Afonso III, os seus "mouros" foram objecto de legislação régia três anos depois, à semelhança do que havia acontecido com os "mouros forros" de Lisboa, Almada e Palmela. No caminho para a Modernidade, Silves perdeu fulgor, em benefício das localidades costeiras, primeiro Lagos e depois, e definitivamente, Faro. No entanto, ainda na sua Sé se sepultou D. João II, falecido em Alvor e só mais tarde trasladado para o Mosteiro da Batalha. No reinado de D. Manuel, o monarca passou novo foral à cidade (1505) e deve datar desse momento a construção de um primitivo pelourinho.
O que chegou até aos nossos dias em estado deplorável, todavia, não data dos primeiros anos do século XVI, mas sim do reinado de D. Maria I, momento em que a autoridades da cidade resolveram actualizar esteticamente um dos seus mais preciosos símbolos.
Ao que tudo indica, o monumento que simbolizava a municipalidade de Silves e a sua independência face a outras terras vizinhas, localizava-se na Praça do Município, intra-muros e onde ainda existe a sua memória no topónimo "Rua do Pelourinho". Em 1878, aquando do asfaltamento da via que ligava a cidade a São Bartolomeu de Messines, a Câmara Municipal decidiu removê-lo desse local, por obstruir tão importante obra, e o monumento foi desmantelado e disperso por vários locais. Uma das partes, o seu coroamento, esteve, durante largos anos, embutido num muro privado. Pouco depois dessa destruição, a dinâmica gerada em torno do Museu Infante D. Henrique, em Lagos, esteve prestes a reunir todo o antigo pelourinho e a transportá-lo para o museu, mas tal intento não chegou a ser concretizado.
Alguns anos depois, a mesma autarquia que havia deliberado para a sua remoção, decidiu remontá-lo. No entanto, já não foi possível identificar todas as partes constituintes e, assim, apenas a coroa se pode assumir como original. Esta é decorada com uma série de flores-de-lis e toda a estrutura pretende copiar o primitivo monumento, que foi ainda descrito por Júdice Mascarenhas em 1911. Por esta informação, que é muito próxima da própria destruição do conjunto, sabemos que o pelourinho se apoiava num pedestal quadrangular de três degraus e era constituído por fuste quadrado de aproximadamente 2,5 metros de altura. Seguia-se o capitel, onde se apoiavam quatro ferros em forma de cruzeta e, finalmente, o coroamento, com coroa real e uma pequena terminação em ferro». In PAF, IGESPAR

Cortesia de IGESPAR/CMSilves/JDACT

Your pictures and fotos in a slideshow on MySpace, eBay, Facebook or your website!view all pictures of this slideshow