sexta-feira, 30 de julho de 2010

A Fortaleza de Serpa: Foi inicialmente conquistada por tropas sob o comando de D. Afonso Henriques ou pelo grupo armado sob o comando de Geraldo Sem-Pavor, em incursão promovida em 1166 no território além do rio Guadiana. Possui a terceira torre relojoeira mais antiga do país


Cortesia de Paulo Juntas

Na época da Reconquista cristã da Península Ibérica, a povoação de Serpa e o seu castelo foram inicialmente conquistadas ou por tropas sob o comando de D. Afonso Henriques ou pelo grupo sob o comando de Geraldo Sem-Pavor, em incursão promovida em 1166 no território além do rio Guadiana.
Retornou à posse muçulmana quando da grande ofensiva de Abu Yusuf Ya'qub al-Mansur até ao rio Tejo, cerca de 1191, quando os cristãos eram «senhores» apenas de Évora em todo o Alentejo. Mais tarde, as forças de D. Sancho II recuperariam estas terras, sendo Serpa conquistada em 1232 e os seus domínios entregues a D. Fernando, irmão do soberano.

Cortesia de guiadacidade
Duas décadas mais tarde, quando D. Afonso III concluiu a conquista do Algarve, Afonso X de Castela impugnou-lhe jurídicamente estes domínios. O domínio de Serpa e das terras além do rio Guadiana igualmente se inseriam nessa disputa, tendo sido cedidas ao monarca castelhano em 1271. A disputa só veio a terminar em 1283, com a cedência destes à rainha D. Beatriz, filha de D. Afonso X, viúva de D. Afonso III e mãe do rei D. Dinis. Com a rectificação da fronteira, sob o reinado deste monarca, a povoação recebeu o seu primeiro Foral em 1295, com privilégios idênticos aos dos moradores de Évora, época em que se iniciou a reconstrução da antiga fortificação muçulmana, aproveitando-se parte das primitivas muralhas de taipa. A Ordem de Avis fez doação de um terço das rendas das igrejas de Moura e Serpa para «refazimento e mantimento dos alcáceres dos ditos castellos». Rui de Pina, na Crónica de D. Dinis, assinala Serpa entre as vilas cujos «alcáceres e castellos fez de fundamento».

Cortesia de guiadacidade
Na crise de 1383-1385, a vila e o seu castelo tomaram partido pelo Mestre de Avis, tendo servido como base de operações para as tropas portuguesas em diversas incursões no território castelhano. Nas Cortes de 1455, os habitantes de Serpa pleitearam que, para remédio do decréscimo da população, causado pelas guerras e pelas pestes, D. Afonso V concedesse aos futuros moradores o privilégio da isenção, quase que integral, durante vinte anos, de serviços militares ou municipais. O soberano fez «orelhas mocas» atribuindo o privilégio apenas aos estrangeiros, reduzindo para dez anos o prazo reclamado.

Cortesia de Olga Ribeiro
No reinado de D. Manuel I, Serpa e o seu castelo encontram-se figurados por Duarte de Armas no Livro das Fortalezas, cerca de 1509, onde pode ser apreciada a dimensão da obra dionisina.
  • Um castelo com os muros amparados por torreões de planta cilíndrica e quadrangular, dominado por uma imponente torre de menagem. A seus pés, a vila envolvida por uma muralha dupla também reforçada por torres. O soberano concedeu o Foral Novo à vila em 1513, tendo concedido o domínio da povoação e seu castelo a seu filho, o infante D. Luís, duque de Beja.

O castelo ergue-se no centro histórico da povoação, a duzentos e trinta metros acima do nível médio do mar. No plano mais elevado, junto à muralha, a norte, implanta-se a alcáçova, de planta quadrangular.

Cortesia de Olga Ribeiro
A cerca da vila apresenta planta ovalada, reforçada por cubelos e torres de planta quadrangular e semicircular, rematada por merlões prismáticos. Nela se rasgavam originalmente três portões monumentais, a Porta de Moura, a nordeste, a Porta de Beja, a noroeste e a Porta de Sevilha a sul, esta última hoje desaparecida, flanqueados por dois torreões cilíndricos chanfrados, estes com merlões de remate pentagonal. O pano oeste das muralhas é encimado por um aqueduto assente em arcada de vão redondo, unindo o Palácio dos condes de Ficalho, do lado norte e uma gigantesca nora assente num poço, junto ao ângulo sudeste, construída no século XVII para abastecer o palácio. Em período posterior foram abertas a Porta da Corredoura e a Porta Nova.

Cortesia de guiadacidade
A muralha da alcáçova é reforçada pela Torre de Menagem, de planta quadrangular, adossada ao pano sul, de que resta a parte inferior; por um cubelo de planta semicircular pelo mesmo lado e por uma torre de planta retangular no ângulo sudeste, junto à qual é ainda visível uma parte da barbacã que a envolvia. Ali se encontra instalado o Museu Arqueológico de Serpa, expondo os testemunhos recuperados na região do Concelho, do Paleolítico, do Neolítico, da Idade dos Metais e da época romana.

Cortesia de Francisco Antunes/JDACT
Na praça fronteira à Igreja Matriz de Santa Maria, antiga mesquita muçulmana, ergue-se a chamada Torre do Relógio, de planta quadrangular, onde se ergue a sineira, com coruchéus de remate cónico rodeados por merlões chanfrados. Vestígio da cerca da vila, foi transformada em relógio em 1440, constituindo-se na terceira torre relojoeira mais antiga do país.
Inserido no pano das muralhas inscreve-se o Palácio dos condes de Ficalho, em estilo maneirista, iniciado por D. Francisco de Melo, alcaide-mor de Serpa no final do século XVI e prosseguido por seus filhos.

Cortesia de IGESPAR

A opinião do IGESPAR:
«A primeira fortificação de Serpa era ainda islâmica, anterior à conquista da vila aos mouros em 1166. A grande remodelação dos panos de muralha foi ordenada por D. Dinis, a partir de 1295, em obras que decorreram a par da reconstrução do castelo e de outras, em tudo semelhantes, realizadas no castelo e linha de defesa da vila de Moura. A alcáçova foi parcialmente aproveitada das edificações islâmicas em taipa, sendo de planta aproximadamente rectangular, encostada à torre de menagem; o conjunto ficava defendido por um forte muro que envolvia ainda a Igreja de Santa Maria, matriz da vila, e a actual torre do relógio, dentro do seu perímetro ovalado típico das fortificações medievais. As cortinas das muralhas, verticais, são reforçadas por cubelos e encimadas por grossas ameias. Existem hoje muitas aberturas na cerca, mas as entradas originais eram apenas três, a Porta de Beja, localizada a noroeste, a Porta de Moura a nordeste, e a Porta de Sevilha a Sul. As duas primeiras são entradas aparatosas, entre torreões, enquanto a porta de Sevilha já não existe. Abriram-se mais tarde as portas da Corredoura e a Porta Nova. O Palácio dos Melos, cuja capela tumular foi a capela-mor da Igreja de Santa Maria, assenta sobre um troço da muralha, a Este, tal como o aqueduto de Serpa, correndo em arcadas altas. Em meados de seiscentos, no decurso da Guerra da Restauração, e por iniciativa de D. João IV, foi concebido um projecto da autoria de Nicolau de Langres destinado a reforçar os limites da fortificação ao modo de baluarte, num fenómeno que percorreu tantas outras praças na época, marcando uma diferença fundamental entre os castelos medievais e as fortificações da época moderna, mais eficiente do ponto de vista militar. Foi assim erguido o forte de S. Pedro, representando apenas parte do projecto de Langres. Justamente na sequência deste confronto, as muralhas foram arruinadas durante a ocupação espanhola de 1707, quando o Duque de Ossuna atacou a vila. No século XIX ruiu ainda grande parte da muralha e das torres, ainda hoje sujeitas a desmoronamentos». In IGESPAR, SML

Com a amizade de OR e RR/CMSerpa/JDACT