quarta-feira, 21 de julho de 2010

A Vila de Aljezur: A vila possui um dos mais impressionantes castelos algarvios, localizado numa zona excêntrica da província, mas de enorme importância regional, é, simultaneamente, uma das mais desconhecidas fortalezas nacionais. A sua localização privilegiou a defesa do rio de Aljezur, curso que, na época islâmica, era navegável e cujo aglomerado populacional detinha um importante porto

Cortesia da CMAljezur
Aljezur é uma vila portuguesa pertencente ao Distrito de Faro, região e subregião do Algarve.
É sede de um município subdividido em 4 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Odemira, a leste por Monchique, a sueste por Lagos, a sudoeste por Vila do Bispo e a oeste tem uma extensa costa com o Oceano Atlântico. O limite noroeste, com o concelho de Odemira, é marcado pela Ribeira de Seixe. O litoral do município faz parte do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.

Cortesia da CMAljezur
O Castelo de Aljezur, localiza-se em posição dominante sobre a vila e a ribeira de Aljezur, embora constituindo-se num dos castelos figurados nas sete quinas do brasão pátrio, é quase desconhecido nos roteiros turísticos portugueses, tratando-se de um dos mais expressivos monumentos algarvios.
A recente pesquisa arqueológica pela Unidade de Arqueologia do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, em parceria com a Câmara Municipal de Aljezur, revelou que a primitiva ocupação humana deste sítio remonta à pré-história, trazendo à luz camadas com vestígios da Idade do Bronze (c. 3.000 AP), da Idade do Ferro e do período romano (entre os séculos IV e I a.C.).

Cortesia de IGESPAR
Segundo os dados disponíveis, na época da invasão muçulmana o curso da ribeira de Aljezur era navegável e esta povoação era um importante porto fluvial. Data deste período, numa fase inicial (anterior ao século X), a primitiva fortificação, que em linhas gerais, apresentava planta poligonal, com expressivos troços de muralhas, uma torre com planta circular e a cisterna. Numa fase mais tardia, nos séculos XII e XIII, foram criadas no recinto diversas estruturas habitacionais e dois silos. Nesta fase, o castelo teria integrado o sistema defensivo Almóada da região de Silves, que então se estendia desde os actuais concelhos da Lagoa e de Albufeira até Aljezur e ao sul do litoral alentejano.

Cortesia de IGESPAR
Na época da Reconquista cristã, com a conquista da região do Algarve (1246), a povoação e o seu castelo passaram, segundo alguns autores, para os domínios do rei D. Sancho II a 24 de Junho de 1242 ou de 1246. Outros pretendem que o sucesso ocorreu entre 1243 e 1244 por acção do Mestre da Ordem de Santiago, D. Paio Peres Correia. Outros ainda, que no reinado de D. Afonso III, por iniciativa do mesmo Mestre, na madrugada de 24 de Junho de 1249, dia de São João, mantendo-se como padroeira da vila, Nossa Senhora d'Alva. A Crónica da Conquista do Algarve refere que Aljezur foi a última praça do Algarve a ser conquistada, neste ano de 1249.

Cortesia de IGESPAR
D. Dinis concedeu-lhe Carta de Foral em 1280, promovendo obras de conservação e reforço.

Embora carecendo de investigação mais aprofundada sobre a evolução arquitectónica do monumento durante a Idade Média, tendo em consideração a função militar e a posição estratégica, apresenta um estado de ruína em meados do século XV, nomeadamente em 1448. A informação da Visitação da Ordem de Santiago a Aljezur no ano de 1482 confirma o estado de abandono do castelo de Aljezur.
No reinado de D. Manuel I, a Ordem de Santiago intentou reconstruí-lo.

Cortesia de IGESPAR
A vila e os remanescentes da estrutura arruinada foram bastante danificados pelo Terramoto de 1755, principalmente as habitações no interior do recinto. Os relatos coevos, até ao século XIX são acordes em referir a degradação do monumento.
No século XX, no contexto das comemorações pelo Centenário de morte do Infante D. Henrique foram promovidas intervenções de restauro na fortificação de Aljezur. Classificado como Imóvel de Interesse Público por Decreto publicado em 29 de Setembro de 1977, os trabalhos realizados contaram de consolidação e ligeira reparação das muralhas, alteadas e recriadas em alguns trechos, sem que tenha havido descaracterização do monumento.
O castelo apresenta planta poligonal orgânica, sendo os seus muros rasgados, a leste, pelo portão de entrada, defendido por um torreão de planta circular. Pelo lado de oeste, foi edificada uma torre de planta retangular. Na praça de armas encontra-se uma cisterna (algibe), de planta retangular, coberta por abóbada. Os silos postos a descoberto pela pesquisa arqueológica, foram escavados na rocha. Ao longo e encostados às muralhas, no período de ocupação cristã, foram identificados vestígios de compartimentos de planta rectangular e trapezoidal, que teriam constituído um provável aquartelamento de tropas.
Uma tradição local inscreve no terreno da lenda o episódio da conquista do castelo pelos cristãos. A Lenda de Mareares.
Consciente da posição privilegiada do castelo e da cerrada vigilância mantida pelos mouros, D. Paio Peres Correia, enviou batedores a sondar o terreno e os hábitos das gentes da povoação, de modo a definir o plano de assalto. Em pleno campo agrícola, estes conseguiram aliciar uma moura de rara beleza, Maria Aires, que lhes informou a prática de um antigo costume dos habitantes da região, de se banharem na praia da Amoreira na madrugada do dia 24 de Junho.
De posse desse dado, D. Paio dispôs os seus homens de modo que na noite de 23 para 24 daquele mês, se ocultassem no vale vizinho ao castelo, hoje conhecido como vale de D. Sancho, certamente em homenagem ao soberano da época (D. Sancho II). Camuflados com a vegetação, aguardaram o movimento dos mouros rumo à praia. Tão logo este se iniciou, os cristãos a coberto pela escuridão, encetaram a aproximação final para o assalto à povoação e castelo desguarnecidos. Neste momento, uma menina, neta de uma idosa que tinha ficado na povoação, percebendo a movimentação incomum fora de portas, correu a avisar a avó que as moitas estavam a andar. A velha senhora explicava à neta os efeitos da brisa sobre a vegetação quando de surpresa os cristãos irromperam pelas portas, dominando a senhora que ainda intentou dar o alarme, fazendo soar um sino na torre da cisterna.
Senhores do terreno, os portugueses deram então o alarme, atraindo os defensores para uma armadilha mortal, no interior do recinto. Com a povoação conquistada para as armas de Portugal, D. Paio, fica  sensibilizado pelos encantos da bela Maria Aires de lindos cabelos negros. Poupou-lhe a vida e a honra, fazendo-lhe erguer uma casa em local próximo da povoação que ainda hoje, em sua memória, se chama Mareares.

Cortesia de wikipédia
A visão do IGESPAR:
Um dos mais impressionantes castelos algarvios, localizado numa zona excêntrica da província, mas de enorme importância regional, é, simultaneamente, uma das mais desconhecidas fortalezas nacionais. A sua localização, sobranceira à actual vila, privilegiou a defesa do rio de Aljezur, curso que, na época islâmica, era navegável e cujo aglomerado populacional detinha um importante porto (GOMES, p.120). As origens da fortificação são, porém, bem anteriores ao período islâmico. As escavações aqui conduzidas por Carlos Tavares da Silva revelaram níveis de ocupação das Idades do Bronze e do Ferro, o que testemunha a importância deste cerro para as sucessivas populações que habitaram o sudoeste do actual território nacional. Mas foi, com certeza, com o consulado islâmico que se construiu a primitiva fortaleza. Independentemente das alterações posteriores, Rosa Varela Gomes identificou, em traços gerais, essa estrutura: o castelo apresentava planta poligonal e dele subsistem, ainda, importantes troços de muralhas, uma torre de planta circular e a cisterna. De acordo com as escavações aqui efectuadas, a época muçulmana tardia dotou o recinto de diversas estruturas habitacionais, assim como dois silos, elementos datáveis dos séculos XII-XIII (GOMES, p.120). Em 1246, com a conquista definitiva do Algarve, o castelo passou para a posse do rei português, que deverá ter empreendido algumas reformas. Desconhecemos a marcha de intervenções na Baixa Idade Média, mas o que é certo é que em pleno século XV, em 1448, as informações são as de que o castelo está já em ruínas. Perdida a função militar, e desvalorizada a importância estratégica da vila, a fortaleza foi abandonada. Em vão a Ordem de Santiago tentou proceder à sua reconstrução, ordenando a reparação das muralhas, facto que voltou a ser vincado pelo novo ordenamento do reino determinado por D. Manuel. Dois séculos depois, o Terramoto de 1755 arruinou grande parte da vila, arrastando consigo uma significativa parte do castelo, incluindo as habitações do recinto.
Até há escassos anos, a história do castelo de Aljezur foi a de uma lenta e progressiva degradação. Diversas notícias dos séculos XVI a XIX são unânimes em assinalar a sua antiguidade e decadência, referindo-se, sistematicamente, a crescente ruína da sua estrutura. No século XX, as comemorações do centenário do Infante D. Henrique foram o pretexto para o restauro. Tendo como pano de fundo o Sudoeste do país, como a Fortaleza de Sagres e a cidade de Lagos, também Aljezur viu intervencionado o seu velho castelo, cuja tradição alegava ter sido um dos que figuravam nas quinas nacionais. As obras então empreendidas não foram substanciais, limitando-se a reparar as muralhas (alteando e reinventando algumas partes), mas sem alterações assinaláveis ao nível da planta e adulteração do interior do recinto. Nos últimos anos, diversos programas de beneficiação foram elaborados, mas o castelo de Aljezur aguarda ainda a definição de um projecto de valorização integral». In PAF, IGESPAR

Cortesia do IGESPAR, CMAljezur/Turismo do Algarve/JDACT