sexta-feira, 11 de maio de 2012

A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. F. Engels. «Na maioria dos casos, o fogo e o machado de pedra permitiram já também o barco feito de um só tronco de árvore e, em alguns lugares, traves e tábuas para a construção de casas. Encontramos todos estes progressos, por exemplo, entre os índios do Noroeste da América, que conhecem o arco e a flecha mas não conhecem a cerâmica»


Cortesia de wikipedia

A propósito das investigações de L. Morgan.
Estádios pré-histróricos da civilização
«Morgan foi o primeiro que, com conhecimento de causa tentou introduzir uma determinada ordem na pré-história humana; a sua classificação continuará certamente em vigor até que um material significativamente mais amplo obrigue a modificações.
Das três épocas principais, selvajaria, barbárie, civilização, obviamente que só as duas primeiras e a transição para a terceira é que o ocupam. Ele divide cada uma delas num estádio inferior, médio e superior, conforme os progressos na produção dos meios de vida, pois, diz ele:
  • ‘Da habilidade deles nessa direcção depende toda a questão da supremacia humana na Terra. Os homens são os únicos seres de que se pode dizer que obtiveram um controlo absoluto sobre a produção de comida. As grandes épocas do progresso humano foram identificadas mais ou menos directamente com o alargamento das fontes de subsistência’.
O desenvolvimento da família é paralelo, mas não apresenta características tão concludentes para a separação dos períodos.

Selvajaria
“Estádio inferior”. Infância do género humano, que, vivendo, pelo menos parcialmente, nas árvores, única forma de explicar a sua sobrevivência perante as grandes feras, permanecia ainda nos seus locais de origem, nas florestas tropicais e subtropicais. Serviam de alimento os frutos, nozes e raízes; a formação da linguagem articulada é o resultado principal deste tempo. De todos os povos de que se tomou conhecimento dentro do período histórico, nem um só estava já neste estado primitivo. Por mais milénios que ele tenha durado, não podemos comprová-lo a partir de testemunhos directos; no entanto, uma vez admitida a descendência do homem do reino animal, torna-se inevitável a aceitação dessa transição.

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“Estádio médio”. Começa com o aproveitamento de peixes, nos quais incluímos também os crustáceos, moluscos e outros animais aquáticos, para a alimentação e com o uso do fogo. As duas coisas vão a par, porque a alimentação de peixe só é perfeitamente utilizável por meio do fogo. Porém, com este novo alimento, os homens tornaram-se independentes do clima e do lugar; seguindo as correntes e as costas, puderam espalhar-se, mesmo no estado selvagem, pela maior parte da Terra. Os instrumentos de pedra toscamente trabalhados e não polidos da primeira Idade da Pedra, chamados paleolíticos, que pertencem todos ou na sua maioria a este período, são, pelo facto de estarem espalhados por todos os continentes, provas dessas migrações. As zonas recém-ocupadas, assim como o ininterrupto e activo impulso de descoberta, ligados à posse do fogo por fricção, proporcionaram novos meios de alimentação, tais como raízes e tubérculos fortemente amiláceos que eram cozidos na cinza quente ou em fossos de cozedura, fornos de terra, e como a caça, que, com a descoberta das primeiras armas, a clava e a lança, se tornou um suplemento ocasional à alimentação. Nunca houve povos exclusivamente caçadores como aparecem nos livros, isto é, que vivessem “apenas” da caça; o rendimento da caça era demasiado incerto para isso. O canibalismo parece ter surgido neste estádio em consequência de permanente incerteza quanto às fontes de alimentação, tendo-se mantido a partir de então por muito tempo. Os australianos e muitos polinésios estão ainda hoje neste estádio médio de selvajaria.
“Estádio superior”. Começa com a invenção do arco e flecha, através dos quais os animais caçados passaram a ser um alimento regular e a caça um dos ramos de trabalho normais. O arco, a corda e a flecha constituem já um instrumento muito composto cuja invenção pressupõe a acumulação de uma longa experiência e faculdades mentais apuradas, e, portanto, também a simultânea familiaridade com uma-quantidade de outras invenções. Se compararmos os povos que já conhecem o arco e a flecha mas desconhecem ainda ã cerâmica, a partir da qual Morgan data a transição para a barbárie, encontramos já, de facto, alguns começos da fixação em aldeias, um certo domínio da produção do sustento:
  • Vasos e utensílios de madeira, tecelagem à mão (sem tear) com fibras de líber, cestos entrançados de líber ou junco, instrumentos de pedra polidos (neolíticos).
 Na maioria dos casos, o fogo e o machado de pedra permitiram já também o barco feito de um só tronco de árvore e, em alguns lugares, traves e tábuas para a construção de casas. Encontramos todos estes progressos, por exemplo, entre os índios do Noroeste da América, que conhecem o arco e a flecha mas não conhecem a cerâmica. O arco e a flecha foram para a selvajaria o que a espada de ferro foi para a barbárie e a arma de fogo para a civilização: a arma decisiva». In F. Engels, A origem da Propriedade Privada e do Estado, Editorial Presença, Colecção Síntese, 1976.

Cortesia de Presença/JDACT