sábado, 21 de julho de 2012

Conferências nos Encontros de História Luso-Chinesa. Portugal e a China. João Paulo Costa. «Macau, certamente um porto minúsculo do ponto de vista dos chineses, tornou-se então o principal centro mercantil dos portugueses no Extremo Oriente, uma escápula de onde irradiavam rotas mercantis em todas as direcções»


Vista de Macau, século XIX
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O colégio de Macau e a missão do Japão (1594-1614)
«O Colégio de Macau representa um marco na história da presença lusa no Extremo Oriente. Instalado em solo chinês sob administração portuguesa, estava vocacionado para apoiar a acção dos Jesuítas na Ásia Oriental. No entanto, a sua criação provocou uma forte polémica no seio da própria Companhia, e foi a cidade de Macau que assegurou a sua fundação.
Tanto quanto podemos perceber, as autoridades locais terão entendido que a existência do Colégio reforçava a importância da cidade no contexto do Império Português e dava-lhe um novo instrumento de afirmação no Extremo Oriente.
Neste estudo cingimo-nos à análise do processo da génese do Colégio, em 1594, e da sua ligação à missão do Japão até à proibição do cristianismo pelas autoridades nipónicas e a expulsão dos eclesiásticos, em 1614. Nestes dois decénios, o colégio foi, sem dúvida, um elemento importante na articulação dos interesses dos portugueses relativos à China e ao Japão.

Um colégio na China para a missão japonesa
A emergência de Macau, a partir de 1557, foi, em grande medida, uma consequência dos excelentes negócios que os portugueses realizavam no Japão desde 1543. Esse comércio tornou mais intensa a presença dos aventureiros no Mar da China e propiciou uma reviravolta nas relações luso-chinesas, que haviam sido marcadas pela hostilidade do Império do Meio ao longo do segundo quartel quinhentista. Ao longo da segunda metade do século XVI, os contactos luso-chineses foram muito limitados e quase circunscritos a Macau e Cantão; do ponto de vista da China, apesar da entrada no Império de algumas novidades, a acção dos Portugueses continuava a ser um factor marginal no contexto da vida do Celeste Império. No entanto, Macau, certamente um porto minúsculo do ponto de vista dos chineses, tornou-se então o principal centro mercantil dos portugueses no Extremo Oriente, uma escápula de onde irradiavam rotas mercantis em todas as direcções. Era, além disso, a grande base de apoio que sustentava as actividades de missionários e comerciantes no Japão.
No país do Sol Nascente, a presença dos “nanbanjin” influenciou decisivamente a evolução político-militar do Império, assim como enriqueceu extraordinariamente a ciência e a cultura nativas, ao mesmo tempo que centenas de milhar de nipónicos se convertiam ao cristianismo, tornando a cristandade nascente um problema político. Desde 1580, a missão japonesa era composta por um corpo numeroso de religiosos, apoiado por dezenas de auxiliares e por centenas de serviçais; as comunidades cristãs estavam espalhadas por grande parte do arquipélago e contavam com fiéis oriundos dos mais variados sectores da sociedade, pelo que esta religião adquirira uma dimensão nacional inequívoca.
Na mesma época, o número de jesuítas em Macau eta reduzido, as conversões na cidade eram escassas e só então os missionários começavam a aventurar-se no interior do Império Chinês. No entanto, Macau era uma cidade onde os Portugueses tinham poderes públicos próprios e mantinham uma relação suficientemente cordial com as autoridades imperiais, enquanto no Japão, apesar do sucesso dos negócios e da acção missionária, a presença lusa no território dependia da vontade de certos ‘dáimios’, dado que o Império estava mergulhado numa longa guerra civil (1467-1590).
O crescimento do ritmo das conversões, particularmente notório a partir de 1575, coincidiu com a fase decisiva do processo de reunificação política do Império, que havia sido desencadeado por Oda Nobunaga (1534-1582), em 1568, e que foi praticamente concluído, em 1590, por Toyotomi Hideyoshi (1536-1598), seu herdeiro político. A cristandade nipónica e os mercadores portugueses enfrentaram então uma nova situação, pela primeira vez a sua presença no país estava dependente de uma única vontade». In Portugal e a China, Conferências nos Encontros de História Luso-Chinesa, João Paulo O. Costa, Fundação Oriente, Convento da Arrábida, 2000, ISBN 972-785-033-2.


Cortesia de F. Oriente/JDACT