sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Transmissão de Más Notícias. José Carlos Luís. «A informação ‘obtida’ através de uma boa comunicação é uma ferramenta de alta eficácia, dado que reduz o medo e a incerteza, permite ao doente tomar decisões e fortalece a relação ‘profissional de saúde / doente’»

Cortesia de jcl e jdact

Introdução
«A comunicação em Cuidados Paliativos não é uma tarefa fácil. É um acto que requer a aprendizagem e treino de várias habilidades e perícias comunicacionais, entre as quais se encontram a empatia, a escuta activa, a capacidade de fazer perguntas e a capacidade de transmitir informação / dar más notícias. Apesar de muitos profissionais considerarem que sabem e entendem o que os doentes querem, vários estudos demonstram que a sua compreensão das preferências necessita de ser melhorada, mesmo após um diálogo cara-a-cara com o doente / família. Os investigadores do SUPPORT (Study to Understand Prognoses and Preferences for Outcomes and Risks of Treatments) concluíram que a capacidade para dirigir uma discussão de alta qualidade sobre assuntos complexos relativos à fase terminal da vida com os doentes e as suas famílias é uma capacidade que deve ser aprendida e praticada, não se desenvolve por si própria. Este estudo vem assim contradizer e desmistificar os vários mitos que existem sobre a comunicação: A. Os profissionais de saúde já nascem (ou não) com a capacidade de transmitir informação de forma adequada. É uma capacidade natural que não pode ser ensinada. B. A maioria dos profissionais de saúde tem uma boa capacidade de comunicação. C. Para dar informação de qualidade é necessário muito tempo. D. O impacto da informação no doente é sempre o mesmo, independentemente do modo como é transmitida.
A chave dos cuidados terminais de qualidade é a comunicação eficaz, o que não diminui a importância do controlo adequado da dor ou o tratamento dos outros sintomas na última fase da vida. A boa comunicação é fundamental, pois facilita e melhora todos os outros aspectos dos cuidados. Se houver capacidade para estabelecer e manter relações abertas, comunicativas e de confiança com os doentes, os profissionais de saúde irão ter uma maior capacidade para compreender e prever as necessidades e os desejos dos doentes. Para estes será então mais fácil a expressão dos seus sentimentos e pensamentos, bem como a aceitação dos conselhos e apoio dos profissionais de saúde.

Objectivos e benefícios da boa comunicação
Segundo Robert Twycross, os objectivos da boa comunicação são os seguintes: reduzir a incerteza do doente e família; melhorar os relacionamentos entre profissionais de saúde e doente / família, bem como dentro da própria equipa de saúde; indicar ao doente e à sua família uma direcção. O reconhecimento destes objectivos é de vital importância pois facilita a mobilização e a escolha dos recursos mais adequados para a satisfação das necessidades do doente. Ao estabelecer uma relação empática e de confiança com o doente é possível atenuar o impacto psicológico da doença na sua vida e na vida dos seus familiares. Este tipo de relação permite ao doente verbalizar as suas angústias e os seus receios, o que contribui para diminuir a ansiedade e a incerteza que tornam estes doentes tão vulneráveis. Ao tomar conhecimento sobre o seu estado de saúde de uma forma gradual e adaptada às suas características individuais, sociais e culturais, o doente pode retomar o controlo sobre a sua vida e decidir quais as suas prioridades no tempo de vida que lhe resta (esclarecer situações familiares / sociais; resolver conflitos; terminar projectos; ditar vontades; fazer despedidas).
A informação obtida através de uma boa comunicação é uma ferramenta de alta eficácia, dado que reduz o medo e a incerteza, permite ao doente tomar decisões e fortalece a relação profissional de saúde / doente. Sem informação não é possível participar na tomada de decisões, nem obter uma boa adaptação à extraordinária mudança que ocorre quando se tem de conviver com uma doença grave e enfrentar a própria morte. Resumindo, ao melhorar a comunicação com o doente estamos a favorecer a adaptação do doente/família à situação; a aumentar a sua adesão aos cuidados; a favorecer a relação terapêutica; a aumentar o grau de satisfação do doente/família e a favorecer a aplicação do consentimento informado.

Estratégias básicas de comunicação
Ao interagir com o doente / família o profissional de saúde tem como objectivo ajudar a reconhecer as necessidades sentidas e os mecanismos interiores para suprir essas necessidades. Para atingir este objectivo é necessário comunicar de forma terapêutica. Existem vários factores que influenciam o estabelecimento de uma comunicação eficaz: factores relacionados com o profissional (treino em comunicação, personalidade, maturidade pessoal / profissional, diferença de prioridades em relação ao doente); factores relacionados com o ambiente de interacção (privacidade, conforto); e factores relacionados com o doente (personalidade, nível social e cultural, capacidade de comunicação, experiências prévias, presença de sintomas físicos e psicológicos, percepção da doença). Cada doente/família vive o processo de doença de forma distinta, o que implica que os profissionais de saúde atendam e suprimam as suas necessidades de forma personalizada.
Segundo Maria Pilar Albarroz, durante o processo de formação dos profissionais de saúde dá-se muita enfâse à dimensão técnica do ensino, revertendo-se os conhecimentos e habilidades necessárias e suficientes para o estabelecimento de uma comunicação eficaz com os doentes e suas famílias, para um plano secundário. Este facto contribui para o aparecimento de barreiras comunicacionais entre o profissional de saúde e o doente (1). As barreiras de comunicação podem ser evitadas se o profissional aprender e treinar várias atitudes facilitadoras da comunicação, tais como: empatia, escuta activa, fazer perguntas / dar respostas e transmitir informação / dar más notícias». In José Carlos Pereira Luís, Transmissão de Más Notícias, Curso de Mestrado em Gestão de Unidades de Saúde, IPP, ESSP, Portalegre, 2010.

A amizade de AM e JCL
Cortesia de IPP/ESSEP/JDACT