quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

A Batalha de Aljubarrota. Fundação Aljubarrota. «No resto do país, muitos dos nobres e alcaides de castelos, em obediência ao contrato de Salvaterra de Magos, continuam, contudo, a respeitar a rainha dona Leonor Teles»

Cortesia de wikipedia

Contexto político anterior à Batalha de Aljubarrota
«Após o reconhecimento do reino de Portugal e de Afonso Henriques como seu monarca, em 1179, pelo Papa Alexandre III, através da bula Manifestis probatum est, Portugal experimentou nos dois séculos seguintes um crescimento significativo, tanto em termos geográficos, como económicos e demográficos. Quando, em 1367, o rei Fernando I subiu ao trono encontrou o reino numa situação relativamente desafogada. Contudo, envolveu-se em três malogradas guerras com Castela e deixou-se influenciar pela rainha dona Leonor Teles e seus partidários, lançando o país numa situação economicamente delicada e numa grave crise política. No final do reinado de Fernando I, o tesouro régio estava depauperado, os preços subiam em face da quebra continuada da moeda e o nível de vida das populações baixara significativamente. Após a terceira guerra com Castela, em 1382, dona Leonor Teles, o conde João Fernandes Andeiro e muitos nobres entenderam que uma união com Castela seria a melhor forma de acautelar os seus interesses e de terminar com um secular conflito entre os dois reinos, colocando-os sob a mesma família real. Desta forma, promoveram a assinatura do Tratado de Salvaterra de Magos, em 6 de Abril de 1383, no qual se previa o casamento de dona Beatriz, a única filha de Fernando I e de dona Leonor Teles, com Juan I de Castela, que enviuvara no início desse ano. Segundo este Tratado, dona Leonor Teles, após a morte de Fernando I, seria a regente da Coroa Portuguesa até que dona Beatriz tivesse um filho varão e este atingisse os 14 anos. A Coroa Portuguesa passaria então a pertencer aos descendentes do rei de Castela, Juan I, passando a capital do Reino para Toledo. Esta situação significava que o Reino de Castela iria inevitavelmente dominar Portugal. O casamento real teve lugar em Maio de 1383, nas povoações raianas de Elvas (a 14 de Maio) e de Badajoz (a 17 do mesmo mês). Quando Fernando I morre, em 22 de Outubro de 1383, a situação que se cria, decorrente do Tratado de Salvaterra de Magos, provoca mal-estar e não agrada a um largo sector da nobreza de Portugal. Na corte portuguesa um personagem se destacava. Era João Fernandes Andeiro, um galego que apoiara o sonho expansionista de Fernando I e mais tarde contribuíra para a elaboração do Tratado de Salvaterra. Muitos afirmavam também que era amante da rainha, dona Leonor Teles. O conde Andeiro era um mestre da política internacional e manobrava habilmente os interesses e as emoções de Fernando I e dona Leonor. Após a morte de Fernando I, tornou-se o principal valido e conselheiro de dona Leonor.
Um largo sector da sociedade portuguesa entendia que o infante João, meio-irmão de Fernando I e filho de Pedro I e de dona Inês de Castro, teria direito ao trono. Um grupo minoritário defendia, no entanto, as pretensões ao trono de João, Mestre da Ordem militar de Avis e filho bastardo de Pedro I. Após alguma hesitação, o Mestre de Avis mata o conde João Andeiro nos Paços da Rainha, em 6 de Dezembro de 1383. Conhecido este facto, rapidamente se alargou o número de apoiantes do Mestre de Avis, sobretudo nas maiores cidades do reino, como Lisboa. Com efeito, ao ter conhecimento desta notícia, o povo de Lisboa amotina-se e proclama João, Mestre de Avis, como Regedor e Defensor do reino. No resto do país, muitos dos nobres e alcaides de castelos, em obediência ao contrato de Salvaterra de Magos, continuam, contudo, a respeitar a rainha dona Leonor Teles e a aceitar a sua autoridade. Gera-se assim uma grave crise política, cujo desfecho estava ainda longe de se poder descortinar.
Causas da crise de 1383 a 1385
Analisando a crise política de 1383 a 1385 em maior profundidade, é possível referir que vários factores políticos, económicos e sociais estiveram na sua origem. A primeira razão que podemos apontar para esta crise, residiu nas divisões e rivalidades existentes dentro da nobreza portuguesa. Com efeito, desde o reinado de Afonso IV, que se iniciou em 1325, foi-se progressivamente operando uma profunda recomposição da alta nobreza, ou seja, das famílias nobres que frequentavam normalmente a corte e que beneficiavam prioritariamente de favores régios, como a atribuição de títulos, ou a concessão de recompensas. Em face deste processo de transformação, esta alta nobreza, aquando da morte de Fernando I, era quase que exclusivamente composta por famílias de exilados castelhanos e galegos, como os Castros e sobretudo os Teles, que desde o reinado de Afonso IV se haviam refugiado em Portugal devido ás guerras civis em Castela. Estas famílias foram progressivamente ganho influência e poder dentro da corte portuguesa, sobretudo pela mão de Pedro I e mais tarde de dona Leonor Teles, embora o seu número de elementos fosse relativamente reduzido. Aquando da morte do rei Fernando, existia portanto um grande número de famílias antigas, que podemos classificar como pequena e média nobreza, que tinha perdido progressivamente o seu poder, e que se encontrava naturalmente descontente. Esta situação foi naturalmente geradora de tenções e mal estar, que favoreciam o desejo de alterações profundas dentro de várias famílias da nobreza portuguesa. Este desejo de alterações foi então facilitado e teve uma clara oportunidade de se expressar, pelo facto de dona Leonor Teles e os seus aliados defenderem uma solução política para Portugal que consistia na perda de independência para o Reino de Portugal. Esta solução não só era discutível legalmente, como era sobretudo do desagrado da grande maioria da população portuguesa.
Do lado de dona Leonor Teles não estava contudo apenas a alta nobreza. Estavam também alguns nobres que obtiveram de dona Leonor postos de confiança, como o cargo de alcaides de castelos, ou de deverem os seus laços matrimoniais a dona Leonor. Estão neste caso Martim Gonçalves Ataíde, alcaide do castelo de Chaves, Pedro Rodrigues Fonseca, alcaide do castelo de Olivença, João Afonso Pimentel, senhor de Bragança, Fernão Gonçalves Meira, alcaide do castelo de Torres Vedras, Fernão Gonçalves Sousa, alcaide do castelo de Portel, ou Gonçalo Vasques Azevedo. Pelas relações pessoais que se estabeleceram com dona Leonor Teles, estes nobres ser-lhe-ão sempre fieis e defenderão os seus castelos contra João I, em muitos casos até depois da Batalha de Aljubarrota. Todas as referidas contradições e tenções sociais existentes dentro da nobreza portuguesa, vieram á superfície após a morte do rei Fernando. Com efeito, em face de uma indefinição política que então se gerou, pelo facto do monarca não ter deixado nenhum filho herdeiro, e pela perspectiva de uma invasão estrangeira, movida por Juan I de Castela, criaram-se condições objectivas para uma divisão e confrontação entre os diversos grupos sociais existentes, exteriorizando tenções acumuladas ao longo de décadas. Do lado de dona Leonor Teles estavam todos os interessados na manutenção da situação política e económica vigente, enquanto do lado de João Mestre de Avis se encontravam todos os que pretendiam a sua profunda alteração». In Fundação Batalha de Aljubarrota, Pos-Conhecimento, União Europeia, FEDER/FDE.

Cortesia da FBA/JDACT