domingo, 4 de junho de 2017

Poesia. Álvares Azevedo. «Na larga fronte escrita… Porém não voltarás como surgias! Apagou-se teu sol da mocidade n’uma treva maldita!»

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«De tanta inspiração e tanta vida

Que os nervos convulsivos inflamava

E ardia sem conforto…

O que resta? Uma sombra esvaecida,

Um triste que sem mãe agonizava...

Resta um poeta morto!



Morrer! E resvalar na sepultura,

Frias na fronte as ilusões, no peito

Quebrado o coração!

Nem saudades levar da vida impura

Onde arquejou de fome... Sem um leito!

Em treva e solidão!






Tu foste como o sol; tu parecias

Ter na aurora da vida a eternidade

Na larga fronte escrita…

Porém não voltarás como surgias!

Apagou-se teu sol da mocidade

N’uma treva maldita!



Tua estrela mentiu. E do fadário

De tua vida a página primeira

Na tumba se rasgou...

Pobre génio de Deus, nem um sudário!

Nem túmulo nem cruz! Como a caveira

Que um lobo devorou!...»

Poema de Álvares Azevedo, in ‘Poemas irónicos, venenosos…



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