domingo, 18 de março de 2018

O Segredo de Sophia. Susanna Kearsley. «… e Guilherme e Maria passaram a governar com toda a firmeza no trono, e Jaime fugiu para o exílio, Hooke partira com ele para França»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Não ajudava nada o facto de eu ter sido atacada por um vírus no mês anterior, que me obrigara a ficar de cama durante o Natal e tirara a piada ao Ano Novo. Naquele momento, uma semana mais tarde, ainda não estava na minha melhor forma. Mas mesmo quando me sentia de boa saúde, o nível de energia de Jane estava muitos quilómetros à frente do meu. Por isso é que trabalhávamos tão bem juntas; por isso é que eu a escolhera. A minha relação com as editoras não era lá muito boa, cedia com demasiada facilidade. Não suportava conflitos, portanto aprendera a deixar isso para Jane, e ela tinha combatido muitas batalhas em minha defesa, motivo pelo qual eu, aos trinta e um anos, tinha já quatro bestsellers e a liberdade de viver onde e como me apetecesse. Que tal é a casa em França?, perguntou-me ela, regressando, como inevitavelmente fazia, ao meu trabalho. Ainda estás em Saint-Germain-en-Laye? É muito boa, obrigada. E ainda estou por lá, sim. Ajuda-me a não cometer erros nos detalhes. O palácio que lá existe é central para o enredo: é o local onde decorre a maior parte da acção. Saint-Germain fora uma oferta do rei francês para refúgio dos reis Stewart da Escócia, durante os primeiros anos do exílio destes, um local onde o velho rei Jaime e o jovem rei Jaime, sucessivamente, tinham mantido a corte com os seus leais apoiantes, onde tinham traçado estratagemas e planeado com os nobres da Escócia três desafortunadas revoltas jacobitas. A minha história deveria rodar em torno de Nathaniel Hooke, um irlandês em Saint-Germain, que me parecia ser o herói perfeito para um romance.
Hooke nascera em 1664, um ano antes da peste negra, e apenas quatro anos após a restauração do rei Carlos II no maltratado trono de Inglaterra. Quando o rei Carlos morrera e o seu irmão católico, Jaime, subira ao trono, Hooke pegara em armas numa atitude de rebelião, mas depois mudara de lado e abandonara a fé protestante, passando para o lado da Igreja Católica e tornando-se um dos mais ferozes defensores de Jaime. Mas não servira de nada. A Inglaterra era uma nação repleta de protestantes e qualquer rei que se dissesse católico não poderia alimentar a esperança de manter o trono. A reivindicação de Jaime fora desafiada pela própria filha, Maria, e por Guilherme de Orange, seu marido. E isso significara a guerra. Nathaniel Hooke estivera bem no meio dessa guerra. Combatera por Jaime na Escócia e fora capturado como espião, tendo ficado detido na terrível Torre de Londres. Após a sua libertação, pegara imediatamente, e mais uma vez, na espada, e fora combater por Jaime, e quando todas as batalhas terminaram, e Guilherme e Maria passaram a governar com toda a firmeza no trono, e Jaime fugiu para o exílio, Hooke partira com ele para França.
Mas não aceitou a derrota. Em vez disso, dedicou os seus inúmeros talentos a convencer aqueles que o rodeavam de que uma invasão conjunta e bem planeada pelo rei francês e pelos Escoceses poderia corrigir a situação, e restabelecer os Stewart exilados naquele que era o seu trono por direito. Quase tiveram sucesso. A História recordava o romance trágico de Culloden e do Bonnie Prince Charlie, muitos anos depois da época de Hooke. Mas não foi nesse Inverno frio em Culloden que os jacobitas, literalmente, os seguidores de Jaime e dos Stewart, conseguiram aproximar-se da concretização do seu objectivo. Não, isso aconteceu na primavera de 1708, quando uma frota de invasão, composta por soldados franceses e escoceses, cujos planos tinham sido originalmente delineados por Hooke, ancorara ao largo da costa da Escócia no estuário do rio Forth. A bordo do navio-almirante estava o alto Jaime Stewart, com vinte anos de idade, não o Jaime que fugira de Inglaterra, mas o seu filho, que muitos, não só na Escócia mas também em Inglaterra, aceitavam como seu verdadeiro rei. Em terra, os exércitos reunidos, compostos por escoceses das Terras Altas e leais nobres escoceses, esperavam ansiosamente para o receber e usar o seu poder contra os exércitos enfraquecidos a sul». In Susanna Kearsley, O Segredo de Sophia, Edições ASA, 2012, ISBN 978-989-231-944-5.

Cortesia de ASA/JDACT