segunda-feira, 2 de novembro de 2020

A Hospedeira. Stephenie Meyer. «Quando o Corpo meu admirável esperto cão tiver morrido. Como será jazer no céu sem telhado ou porta…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Pergunta

«Corpo minha casa

meu cavalo meu cão de caça

o que farei

quando caíres

Onde dormirei

Como cavalgarei

O que caçarei

Onde posso ir sem

minha montaria

ávida e veloz

Como saberei

no matagal adiante

se há perigo ou riqueza

Quando o Corpo meu admirável

esperto cão tiver morrido

Como será

jazer no céu

sem telhado ou porta

e vento em vez de olho

com nuvem para viajar

como hei de cavalgar?»

In May Swenson, 1994

Prólogo

«O nome do Curandeiro era Fords Águas Profundas.

Como era uma alma, por natureza ele era inteiramente bom: compassivo, paciente, honesto, virtuoso e cheio de amor. A ansiedade era uma emoção incomum para Fords Águas Profundas. A irritação era ainda mais rara. Contudo, como Fords Águas Profundas vivia dentro de um corpo humano, às vezes era impossível escapar da irritação. E como os cochichos dos estudantes Curandeiristas rumorejassem no extremo da sala de operação, seus lábios se comprimiram numa linha apertada. A expressão ficava fora de lugar numa boca dada a sorrir com frequência. Darren, seu assistente habitual, viu a careta e deu um encosto no seu ombro. Eles só estão curiosos, disse baixinho. Uma inserção não chega a ser exactamente um procedimento interessante ou desafiador. Qualquer alma pode realizá-la no meio da rua numa emergência. Nada há que eles aprenderão observando hoje. Fords ficou surpreso ao ouvir o tom cortante deformando sua voz normalmente suave. Eles nunca viram um humano adulto, disse Darren. Fords ergueu uma sobrancelha. São cegos para os rostos uns dos outros? Não têm espelhos? Sabe o que eu quis dizer..., um humano selvagem. Ainda sem alma. Um dos insurgentes. Fords olhou para o corpo inconsciente da jovem, deitado de bruços na mesa de operação. A compaixão encheu seu coração quando ele se lembrou de quanto aquele pobre corpo estava arrebentado quando os Buscadores o levaram para a instalação de Cura. Quanta dor ela devia ter sofrido... É claro, agora ela estava perfeita, completamente curada. Fords cuidara disso. Ela se parece com qualquer um de nós, murmurou Fords para Darren. Nós todos temos rosto humano. E quando acordar, ela também será uma de nós. É fascinante para eles, só isso. A alma que implantamos hoje merece mais respeito do que ter seu corpo hospedeiro observado desse jeito bobo. Ela já vai ter coisa demais com que lidar enquanto estiver se aclimatando. Não é justo fazê-la passar por isso. E por isso ele não queria dizer os olhares tolos. Fords ouviu o tom cortante retornar à sua voz. Darren deu-lhe outra tapinha. Vai dar tudo certo. Os Buscadores precisam de informação e...

À palavra Buscadores, Fords lançou um olhar para Darren que só poderia ser descrito como um modo de encarar. Darren piscou, aturdido. Sinto muito, desculpou-se Fords imediatamente. Eu não queria reagir de forma tão negativa. É só que temo por essa alma. Seus olhos se deslocaram para o crio tanque sobre o seu suporte ao lado da mesa. A luz era de um vermelho-escuro constante, o que indicava que o crio tanque estava ocupado e em modo de hibernação. Esta alma foi especialmente escolhida para a indicação, disse Darren para acalmá-lo. Ela é excepcional entre os de nossa espécie... mais valente que a maioria.

As vidas dela falam por si. Acho que se ofereceria voluntariamente, se fosse possível perguntar. Quem dentre nós não se apresentaria voluntariamente quando solicitado a fazer algo em nome do bem maior? Mas será esse realmente o caso aqui? Estamos servindo ao bem maior com isso? A questão não é a disposição dela, mas o que é certo pedir a uma alma, qualquer que ela seja, que suporte. Os estudantes Curandeiristas também debatiam sobre a alma em hibernação. Fords podia ouvir os sussurros claramente; a voz deles se elevando, ficando mais alta à medida que se entusiasmavam. Ela viveu em seis planetas. Ouvi dizer que foram sete. Eu soube que ela nunca viveu duas durações na mesma espécie hospedeira. Isso é possível? Ela foi quase tudo. Flor, Urso, Aranha... Alga, Morcego... Até mesmo Dragão! Não acredito..., não em sete planetas. Pelo menos sete. Ela começou em Origem. É mesmo? Origem? Silêncio, por favor!, interrompeu Fords. Se não forem capazes de observar profissionalmente e em silêncio, precisarei pedir que saiam». In Stephenie Meyer, A Hospedeira, 2008, Editora Intrínseca, 2011, ISBN 978-858-057-078-6.

Cortesia de EIntrínseca/JDACT

JDACT, Stephenie Meyer, Literatura,