sábado, 14 de novembro de 2020

O Símbolo Perdido Dan Brown. «Ela estava quase sem maquilhagem e usava os grossos cabelos pretos soltos e ao natural. Assim como Peter, seu irmão mais velho…»

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«(…) Naquele caso, os instintos de Nuñez não percebiam nada que lhe causasse medo. A única coisa estranha que ele percebeu, agora que os dois estavam muito próximos, era que aquele homem com pinta de durão parecia ter aplicado no rosto algum tipo de autobronzeador ou correctivo. Cada louco com a sua mania. Todo mundo detesta ficar branco no inverno. Liberado, disse Nuñez, concluindo a verificação e guardando o detector. Obrigado. O homem começou a recolher seus pertences da bandeja. Enquanto ele fazia isso, Nuñez reparou que os dois dedos que emergiam das ataduras exibiam cada qual uma tatuagem: a ponta do indicador tinha a imagem de uma coroa e a do polegar, a de uma estrela. Parece que todo mundo tem tatuagem hoje em dia, pensou Nuñez, embora a ponta do dedo parecesse um lugar dolorido para se tatuar. Doeu fazer essas tatuagens? O homem baixou os olhos para as pontas dos próprios dedos e deu uma risadinha. Menos do que o senhor imagina. Que sorte, comentou Nuñez. A minha doeu para caramba. Fiz uma sereia nas costas quando estava no campo de treinamento. Uma sereia? O careca sorriu. É, respondeu o guarda, sentindo-se acanhado. Erros da juventude. Sei como é, disse o careca. Eu também cometi uma grande tolice na juventude. Agora acordo com ela todo dia de manhã. Ambos riram enquanto o homem se afastava. Brincadeira de criança, pensou Mal'akh enquanto passava por Nuñez e subia a escada rolante em direcção ao prédio do Capitólio. Entrar tinha sido mais fácil do que ele previra. A postura corcunda e a falsa barriga acolchoada haviam ocultado a verdadeira forma física de Mal'akh, enquanto a maquilhagem no rosto e nas mãos escondera as tatuagens que lhe cobriam o corpo. O golpe de mestre, porém, tinha sido a tipóia, que disfarçava o poderoso objecto que Mal'akh estava levando para dentro do prédio. Um presente para o único homem do mundo capaz de me ajudar a obter o que procuro.

O maior e tecnologicamente mais avançado museu do mundo é também um dos segredos mais bem guardados da face da Terra. Ele abriga mais peças do que o Hermitage, o Museu do Vaticano e o Metropolitan de Nova York..., juntos. No entanto, apesar da magnífica colecção, poucos cidadãos comuns têm acesso às suas instalações superprotegidas. Situado no número 4.210 da Silver Hill Road, logo depois dos limites da cidade de Washington, o museu é um imenso edifício em zigue-zague, constituído por cinco blocos interligados, cada um deles maior do que um campo de futebol. O exterior de metal azulado do complexo não dá nenhuma pista da estranheza que existe lá dentro, um mundo alienígena de quase 56 mil metros quadrados do qual fazem parte uma zona morta, um armazém molhado e quase 20 quilómetros de armários. Naquela noite, a cientista Katherine Solomon estava um pouco nervosa ao conduzir o seu Volvo branco até ao portão de segurança principal do complexo. O guarda sorriu. Não gosta de futebol americano, sra. Solomon? Ele baixou o volume da TV portátil que transmitia o show que precedia o play-off dos Redskins. Katherine forçou um sorriso tenso. Hoje é domingo à noite. Ah, é mesmo. A sua reunião. Ele já chegou?, perguntou ela, ansiosa. O guarda baixou os olhos para alguns papéis. Não estou vendo o nome dele no registo.

Eu cheguei cedo. Katherine deu um aceno simpático e continuou subindo o sinuoso acesso até sua vaga no fundo do pequeno estacionamento em dois níveis. Começou a recolher os seus pertences e usou o retrovisor para dar uma rápida conferida no visual, mais por força do hábito do que por vaidade. Katherine Solomon tinha sido abençoada com a pele mediterrânea resistente de seus ancestrais e, mesmo aos 50 anos, sua tez continuava lisa e morena. Ela estava quase sem maquilhagem e usava os grossos cabelos pretos soltos e ao natural. Assim como Peter, seu irmão mais velho, tinha olhos acinzentados e uma elegância esguia, aristocrática. Poderiam muito bem ser gémeos, as pessoas sempre lhes diziam. O pai deles havia sucumbido a um câncer quando Katherine tinha apenas 7 anos, e ela quase não se lembrava dele. Na ocasião, o irmão, com apenas 15 anos, oito a mais do que ela, teve que iniciar a sua jornada para se tornar o patriarca dos Solomon, muito antes do que qualquer pessoa jamais havia sonhado. Como era de esperar, porém, Peter se adaptara ao papel com dignidade e força à altura do nome da família. Até hoje, cuidava de Katherine como se os dois ainda fossem crianças». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.

Cortesia de BertrandE/JDACT

JDACT, Dan Brown, Washington, D.C., Literatura, Maçonaria,