sábado, 19 de dezembro de 2020

O Símbolo Perdido. Dan Brown. «Não era nenhum segredo a capital norte-americana ter uma rica história maçónica. A própria pedra angular daquele prédio havia sido assentada por George Washington em pessoa durante um ritual completo de Maçonaria»

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«(…) O tecto era uma vasta superfície de vidro com uma série de impressionantes luminárias que lançavam um brilho ténue sobre os acabamentos interiores em tom de pérola. Normalmente, Langdon teria se demorado ali uma hora inteira para admirar a arquitectura, mas, com cinco minutos faltando para o início da palestra, abaixou a cabeça e percorreu apressado o saguão principal em direcção ao posto de controle de segurança e às escadas rolantes. Relaxe, disse a si mesmo. Peter sabe que está a caminho. O evento não vai começar sem você. No posto de controle, um jovem guarda hispânico conversou com Langdon enquanto ele esvaziava os bolsos e retirava do pulso o relógio antigo. Mickey Mouse?, indagou o guarda, parecendo achar um pouco de graça. Langdon assentiu, acostumado com aquele tipo de comentário. A edição de coleccionador do relógio do Mickey tinha sido presente dos pais no seu aniversário de 9 anos. Uso este relógio para me lembrar de ter calma e levar a vida menos a sério. Acho que não está dando certo, comentou o guarda com um sorriso. O senhor parece muito apressado.

Langdon sorriu e pôs a bolsa de viagem na esteira de raios X. Para que lado fica o Salão das Estátuas? O guarda fez um gesto em direcção às escadas rolantes. O senhor vai ver as placas. Obrigado. Langdon pegou a bolsa da esteira e se afastou depressa. Enquanto a escada rolante subia, ele respirou fundo e tentou organizar os pensamentos. Olhou para cima, através do tecto de vidro salpicado de chuva, para a cúpula iluminada do Capitólio, cujo formato parecia o de uma montanha. Era uma construção espantosa. A pouco mais de 90 metros de altura do chão, a estátua Liberdade Armada fitava a escuridão enevoada como uma sentinela fantasmagórica. Langdon sempre achara irónico o facto de os trabalhadores que haviam erguido cada pedaço da estátua de bronze de seis metros até lá em cima terem sido escravos, um segredo do Capitólio que raramente constava do currículo das aulas de História do ensino médio. Na verdade, todo aquele prédio era uma mina de ouro de mistérios bizarros, que incluíam uma banheira da morte responsável pelo assassinato por pneumonia do vice-presidente Henry Wilson, uma escadaria com uma mancha de sangue indelével na qual um número exagerado de visitantes parecia tropeçar, e uma câmara lacrada no subsolo dentro da qual, em 1930, trabalhadores descobriram o falecido cavalo empalhado do general John Alexander Logan.

Mas nenhuma lenda era tão longeva quanto os 13 fantasmas que supostamente assombravam o prédio. Muitos diziam que o espírito do arquitecto da cidade, Pierre L'Enfant, perambulava pelos salões tentando receber os seus honorários, a essa altura 200 anos atrasados. O fantasma de um operário que caíra da cúpula do Capitólio durante a construção era visto vagando pelos corredores com uma caixa de ferramentas. E, é claro, a mais famosa aparição de todas, que teria sido vista diversas vezes no subsolo do Capitólio, um gato preto efémero que percorria o sinistro labirinto de passagens estreitas e cubículos da subestrutura. Langdon saiu da escada rolante e tornou a verificar as horas. Três minutos. Percorreu apressado o corredor amplo, seguindo as placas que indicavam o Salão das Estátuas e ensaiando mentalmente as palavras inaugurais. Precisava admitir que o assistente de Peter tinha razão; o tema de sua palestra era perfeitamente adequado a um evento organizado em Washington por um célebre maçom.

Não era nenhum segredo a capital norte-americana ter uma rica história maçónica. A própria pedra angular daquele prédio havia sido assentada por George Washington em pessoa durante um ritual completo de Maçonaria. A cidade fora concebida e projectada por mestres maçons, George Washington, Benjamin Franklin e Pierre L'Enfant, mentes poderosas que enfeitaram a sua nova capital com simbolismo, arquitectura e arte maçónicas. As pessoas, é claro, projectam nesses símbolos todo tipo de ideias malucas. Muitos teóricos da conspiração alegam que os pais fundadores dos Estados Unidos esconderam poderosos segredos e mensagens simbólicas no desenho das ruas de Washington. Langdon nunca deu importância a isso. Informações equivocadas sobre os maçons eram tão comuns que mesmo alunos de Harvard pareciam ter noções surpreendentemente distorcidas a respeito da irmandade. No ano anterior, um caloiro havia entrado na sala de aula com os olhos esbugalhados, trazendo uma página impressa da internet. Era um mapa da capital no qual determinadas ruas haviam sido destacadas para formar diversos desenhos, pentáculos satânicos, um esquadro e um compasso maçónicos, a cabeça de Baphomet, provando aparentemente que os maçons que projectaram Washington estavam envolvidos em algum tipo de conspiração obscura e mística». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.

Cortesia de BertrandE/JDACT

JDACT, Dan Brown, Washington D.C., Literatura, Maçonaria,