quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

O Legado dos Templários. Steve Berry. «O filho seguira as pisadas do pai, frequentara a academia naval e terminara o curso entre os três primeiros da sua turma. Fora admitido no esquadrão de instrução de voo…»

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Abbaye des Fontaines. Pirinéus Franceses. Roskilde

«(…) Raymond de Roquefort deixou-se ficar do lado de fora da catedral, para lá do círculo de curiosos, e observou o desenrolar de todo aquele drama. Ele e os seus dois comparsas haviam procurado refúgio nas sombras das enormes árvores que cresciam na praça da catedral. Conseguira sair por uma porta lateral no exacto instante em que a Polícia entrara de rompante pela porta da frente. Ninguém o vira. Por enquanto, a Policia centraria as suas atenções em Stephanie Nelle e em Cotton Malone. Levaria ainda algum tempo até que as testemunhas começassem a descrever outros participantes armados. Estava familiarizado com aquele tipo de situações e sabia que manter a cabeça fria era essencial. Por isso, disse a si mesmo para acalmar. Tinha de mostrar aos seus homens que controlava a situação. A fachada da catedral de tijolo brilhava intermitentemente com luzes vermelhas e brancas. Dali a minutos, apareceram mais polícias e ele espantou-se como é que uma cidade da dimensão de Roskilde possuía tantos agentes da lei. A multidão de curiosos aumentava a cada instante, vindos da praça principal. A situação estava a ficar caótica, o que era perfeito. Sempre se movimentara com maior à-vontade no meio do caos, desde que fosse ele a controlá-lo. Fitou os dois homens que tinham estado com ele no interior da catedral. Estás ferido?, perguntou ao que fora alvejado. O homem afastou o casaco e mostrou-lhe que o colete à prova de bala fora a sua salvação. Estou apenas dorido.

Os outros dois acólitos surgiram logo de seguida por entre a multidão, os que enviara para o leilão. Haviam comunicado por rádio que Stephanie Nelle não conseguira arrematar o livro e ele ordenara-lhes que a encaminhassem para ali. Pensou que talvez ela pudesse ser intimidada, mas os seus esforços tinham sido infrutíferos. E o pior de tudo fora que chamara demasiadas atenções para as suas actividades, graças a Cotton Malone. Os seus homens tinham-no avistado no leilão e recebido ordens para o entreterem enquanto ele falava com Stephanie. Pelos vistos, até isso falhara. Os dois homens aproximaram-se e um deles informou: Perdemos Malone. Eu encontrei-o. É um homem corajoso e cheio de recursos. Não era nada que não soubesse. Investigara Malone depois de saber que Stephanie Nelle ia viajar para a Dinamarca e visitá-lo. Uma vez que Malone podia fazer parte do que quer que ela estivesse a planear, fizera questão de saber o máximo que pudesse acerca dele. O seu nome de baptismo era Harold Earl Malone, tinha quarenta e seis anos e nascera no Estado americano da Geórgia. A sua mãe era natural da Geórgia e o pai um militar de carreira, licenciado pela academia naval de Annapolis, promovido a capitão-de-fragata antes de o seu submarino se ter afundado quando Malone tinha dez anos.

O filho seguira as pisadas do pai, frequentara a academia naval e terminara o curso entre os três primeiros da sua turma. Fora admitido no esquadrão de instrução de voo, e destacara-se o suficiente para escolher o treino de piloto de caças. Depois, estranhamente, a meio da sua formação, pedira transferência e fora aceite na Universidade de Direito de Georgetown, terminando o curso enquanto trabalhava para o Pentágono. Fora então transferido para o Judge Advocate General's Corps, onde trabalhara durante nove anos como advogado. Há treze anos fora destacado para o Departamento de Justiça e para o recém-formado Magellan Billet de Stephanie Nelle, pedindo a reforma no ano anterior. A nível pessoal, Malone era divorciado e o seu filho de catorze anos vivia com a ex-mulher na Geórgia. Logo após a reforma, deixara a América e mudara-se para Copenhaga. Era um amante de livros e católico, embora não praticante. Falava fluentemente várias línguas, não se lhe conheciam vícios ou fobias e era uma pessoa motivada e dedicada. Possuía também uma excelente memória visual. Tendo em conta estas características, era o tipo de homem que De Roquefort preferia ter a trabalhar para si do que contra si. E os últimos minutos haviam confirmado o seu currículo.

A desvantagem numérica de três para um não parecia ter amedrontado Malone, em especial quando pensou que Stephanie Nelle podia estar em perigo. Umas horas antes, o seu acólito mais novo também demonstrara coragem e lealdade, embora tivesse agido de modo precipitado ao roubar a mala de Stephanie. Deveria ter esperado até depois da visita a Cotton Malone, quando esta se dirigisse para o hotel, sozinha e vulnerável. Talvez o rapaz estivesse a tentar agradar, sabendo da importância da missão, ou talvez fosse apenas impaciência. Todavia, quando encurralado na Torre Redonda, havia sabiamente escolhido a morte à prisão. Um desperdício, mas o processo de aprendizagem era assim mesmo. Os mais inteligentes sobreviviam e todos os outros eram eliminados». In Steve Berry, O Legado dos Templários, 2006, Publicações dom Quixote, 2007, ISBN 978-972-203-808-9.

Cortesia PdomQuixote/JDACT

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