quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Breve Notícia sobre o Descobrimento da América. Teixeira de Aragão. «En dicho dia (5 de Mayo de 1487) di á Christóbal Colomo, extrangero, três mil maravedis, que está aqui faciendo alguas cosas complideras ai servicio de sus Altezas, por cédula de Alonso Quintanilla…»

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NOTA: Conforme o original

A América Antecolombiana
«(…) Em uma partilha dividiu-se a casa entre duas das principaes famílias da ilha (Carvalhal e Ornellas) que depois a venderam. A camara municipal para alargamento e aformoseamento da rua mandou demolir o prédio, conservando-se apenas a janella em poder do conselheiro Agostinho Ornellas. A demolição da casa foi um desses vandalismos que não tem classificação: independente da tradição histórica, era um curioso espécimen architectonico de uma casa nobre do século XV, e que o município por dignidade própria devia ter todo o interesse em conservar. João II assignalou o começo do seu reinado por dois grandiosos actos: o domínio supremo da realeza, e os preparativos para o descobrimento do caminho marítimo para a Índia. Só estes dois factos de grande alcance politico n’aqnella epocha attenuam a rudeza do seu caracter. A arte de navegar continuava a fazer grandes progressos em Portugal, onde a febre dos descobrimentos se tinha tornado geral. Desde o rei até o seu mais infimo vassallo, todos concorriam para as emprezas marítimas, e tratava-se especialmente por esse tempo de procurar o caminho para a terra das especiarias e das pedras preciosas dobrando o celebre Cabo Tormentoso. Esta noticia fez voltar Colombo para Lisboa em 1480, onde se relacionou com os navegadores mais notáveis, nacionaes e extrangeiros, conheceu os novos systemas de navegação, e estreitou intima amizade com Martim Bohemia que já falava nas ilhas Antilia e S. Romão.
A paixão de Colombo pelas viagens aventureiras tocava a monomania, e conhecedor das boas disposições do monarcha, solicitou uma audiência, onde propoz os seus famosos planos de ir ao oriente pelo occidente. conforme lhe havia indicado Toscanelli, pedindo auxilio de gente e barcos para os executar. O rei não o descoroçoou; mas os homens competentes do seu conselho, além de pouco crédulos nas apregoadas maravilhas e riquezas promettidas pelo genovez, ponderaram os inconvenientes de tirar para novas terras mais gente do remo, já bastante despovoado por causa das possessões e guerras d’Africa. O conselho que votou contra as propostas de Colombo, além das razões acima allegadas, pelo seu pouco fundamento e serem excessivamente exigentes pois pedia como recompensa, dado o feliz êxito, o almirantado, o titulo de vice-rei e outras muitas coisas, compunha-se de homens que haviam ajudado as empresas marítimas do infante Henrique, e eram o bispo Diogo Ortiz e os mestres Rodrigo e Joseph, physicos do rei, reputados dos melhores cosmógrafos e geographos da sua epocha. O bispo Diogo era grande partidário de se tentar a descoberta do caminho marítimo para a Índia pelo Cabo da Boa Esperança, e o indicado pelo genovez tinha muitos oppositores. A jornada de Affonso Paiva e de Pêro da Covilhan, em 1486, deu razão ao bispo.
Durante a sua permanência na capital continuou com seu irmão Bartholomeu, que lhe foi um poderoso auxiliar, na industria de pintar cartas marítimas, que tinham muita extracção. Este modo de vida não se combinava com o génio arrojado de Colombo, e com bastante prespicacia não perdia occasião de se instruir, colhendo informações dos navegadores e geographos. Perdidas de todo as esperanças de serem acceitas as suas propostas em Portugal, resolveu dirigir-se á Hespanha, para onde partiu clandestinamente em 1484, ignorando se o motivo que deu logar á fuga; posto que alguns a teem attribuido a ligações politicas na conspiração do duque de Vizeu, apunhalado por João II em Setúbal a 23 de agosto do mesmo anno.
Não foi só em Portugal que se duvidou dos maravilhosos planos de Colombo: o mesmo lhe aconteceu com as propostas feitas a Génova, a Veneza, á França, á Inglaterra, e na Hespanha os duques de Medina Sidónia, Henrique Gusman, de Medina Caeli, Luiz de la Cerda, e os reis catholicos só annos depois se resolveram a prestarem-lhe os auxílios necessários para emprehender a sua descoberta. Em Hespanha luctou sempre com a maior pertinácia na propaganda a favor da sua causa patenteando vasta erudição, o que lhe veleu alguns prosélitos e protectores, sendo o principal fr. João Peres, guardião do convento da Rabida, que gosava de grande importância nos conselhos de Fernando e Isabel. Não faltou também quem lhe chamasse aventureiro, visionário e até louco!! Alguns escriptores carregaram demasiado as cores negras do mau resultado das pretenções de Colombo perante os reis de Castella. N’um livro de contas de Francisco Gonzales Sevilha, thesoureiro dos reis catholicos, entre outras despezas dos annos de 1485 a 1488 estão escripturadas as seguintes verbas: En dicho dia (5 de Mayo de 1487) di á Christóbal Colomo, extrangero, três mil maravedis, que está aqui faciendo alguas cosas complideras ai servicio de sus Altezas, por cédula de Alonso Quintanilla, com mandamiento dei Obispo de Palencia. En 27 de dicho mez (Agosto de 1487) di a Christóbal Colomo cuatro mil maravedis para ir ai Real por mandado de sus Altezas, por cédula del Obispo; y de distinta letra continua asi. Son siete mil maravedis com três mil que se le mandaron dar para ajuda de su costa por outra partida de 3 de Júlio». In A. C. Teixeira de Aragão, Breve Notícia sobre o Descobrimento da América, Mckew Parr Collection, Maggellan, BrandeisUniversity (Lo que nos importa), Tipografia da Academia Real das Ciências, Lisboa, 1892.

Cortesia de AdasCiências/JDACT