segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Uma Vila Iluminista. Manique do Intendente. «O desenho conhecido como “Prospecto da Igreja e Palácio do Donatário e Senhor do Solar da Vª de Manique do Intendente padroeyro da mesma Igrª”, apresenta algumas diferenças relativamente ao que foi construído»

jdact e wikipedia

O Palácio do Intendente
«(…) O mesmo autor descreve da seguinte forma esses equipamentos desenhados por José Manuel Negreiros: Os chafarizes desenhados por JMN destinavam-se aos quartéis planeados no Engenheiro Civil Portuguez; caracterizam-se por uma extrema simplicidade conseguida através de um jogo aparentemente erudito de círculos e ovais entrelaçados. Por vezes, os projectos ampliam-se com a inclusão de fontões em querena, aletas, zonas de rusticado, pequenas exedras; são desenhos barrocos à francesa, ou melhor, na velha tradição da escola do Aqueduto a que Negreiros estava ligado por laços familiares e confessadas admirações.
Pode ver-se um campanário de forma quadrangular e telhado de quatro águas piramidal, acrescentado posteriormente e que nada tem a ver com o edifício original. Lateralmente, repete-se o esquema rusticado ao extremo, seguindo-se várias janelas iguais às que se vêm na fachada frontal. O desenho conhecido como Prospecto da Igreja e Palácio do Donatário e Senhor do Solar da Vª de Manique do Intendente padroeyro da mesma Igrª, apresenta algumas diferenças relativamente ao que foi construído. Os óculos elípticos não existem e a decoração em cantaria das janelas é algo diferente. Por outro lado o frontão da Igreja é interrompido, acentuado ainda mais a verticalidade do segmento. O contorno deste aparece em relevo no frontão que foi de facto construído. Nos extremos, os torreões são rematados por cúpulas, que possuem um óculo enquadrado por cantaria trabalhada e são encimados por pináculos em forma de pinha. As estátuas que pontuam a balaustrada representam imperadores romanos e figuras de Elmo e Couraça. Se este desenho corresponde a uma fachada alternativa para o mesmo palácio, ou se as alterações verificadas aconteceram no decorrer da construção é, por enquanto, impossível destrinçar.
Quanto ao interior, a planta da igreja é longitudinal, de uma só nave, sem capelas laterais e com capela-mor rectangular. Por cima da entrada, um coro-alto/tribuna abre para a nave e comunica com o corpo do Palácio. O tecto é em madeira, curvo, e o telhado tem duas águas. É decorada com mármores policromos. O Palácio nunca foi finalizado pois, em 1805, com a morte do Intendente, as obras foram abandonadas. Em 1941, um ciclone destruiu a cobertura da arcada principal do claustro. O edifício sofreu obras de beneficiação, promovidas pela população. Em 1979, foram reconstruídas algumas coberturas e alteradas as obras anteriormente referidas, por iniciativa da DGEMN. Durante a década de 80, o conjunto foi tendo pequenas reparações com vista ao seu aproveitamento. Posteriormente, em 1987, foram iniciadas obras para a instalação de um Centro de Dia para a Terceira Idade, sem a devida legalização, pelo que foram embargadas e nunca terminadas.
A integração deste edifício na nossa história da arquitectura torna-se complexa uma vez que não existem pontos de comparação. O conjunto mafrense, indicado por alguns autores como inspiração para o Palácio de Manique, tem um programa mais amplo (engloba um convento) e muito mais vasto. Além disso, o facto de se tratar de uma residência real traz-lhe uma complexidade acrescida. No caso de Manique, por exemplo, é difícil justificar a opção por duas alas com igreja a mediar (em Mafra, elas são atribuídas uma ao Rei e outra à Rainha) e a ausência de uma entrada claramente anunciada como principal. São quatro as entradas, sendo que, pelo que é possível observar, a mais central de cada ala teria dado acesso a uma escadaria de honra, com um lanço de escadas que se transformava em dois após um patamar. Esse espaço tem os vãos internos decorados com pedra lavrada e é iluminado por três janelões, também com pedra trabalhada na face interior. Ainda assim existem, aparentemente, duas entradas principais, sem que programaticamente tal faça sentido. Poderia este conjunto de Palácio-igreja ter outro tipo de função complementar?

Arquitectura e Urbanismo em Portugal e na Europa. Contextualização Histórica
A segunda metade do século XVIII, na Europa, é marcada por dois acontecimentos: o despertar da indústria e a Revolução Francesa. Numa Europa dominada por regimes de cariz absolutista, com o dinheiro e o poder há muito firmes nas mãos de antigas famílias nobres e da Igreja, estes dois acontecimentos vieram sacudir a ordem instalada. Por outro lado, estamos perante uma época que começa a acordar para o conhecimento do Mundo, de um modo objectivo. Tais factos levaram, por razões diversas, a uma profunda mudança em todas as áreas da sociedade. Entretanto, a Revolução Francesa, com os seus ideais de Igualdade, Fraternidade e Liberdade, que se espalharam rapidamente para as outras nações europeias, modificou as relações entre classes». In Cátia Gonçalves Marques, Departamento de Arquitectura da FCTUC, Junho de 2004.

Cortesia de FCTUC/JDACT