sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Afonso. 4º conde de Ourém. Alexandra Barradas. «… os paços de um cónego e “o orto d´El-Rey, que he dentro na dita cidade, a que chamão Terecena, (...) e dentro estão duas capelas e dous preguatoiros, (...) e outros edificios como de See”»

Cortesia de wikipedia e jdact

«(…) Os contactos pessoais descritos no relato, revelam ligações ao mais alto nível: o 4º conde de Ourém esteve com o rei de Castela, que visitou em Alcalá de Henáres; em Barcelona encontrou-se com a rainha de Castela que estava acompanhada da irmã, tendo as duas senhoras sido recebidas por Afonso às portas da cidade, tendo depois, sido recebido nos paços onde pousavam, para novo encontro, em que se despediu. Em Bolonha foi recebido, pessoalmente, na corte pontifícia pelo papa Eugénio IV e contactou com os mais altos representantes cardinalícios. Conheceu também Francisco Sforza, genro do duque de Milão e Gattamelata, um importante condotiero (asua imagem ficou imortalizada numa estátua de Donatello, erguida em 1453, na Praça da Basílica de Stº António de Pádua, a primeira estátua equestre esculpida depois da Antiguidade). Visitou as cortes dos duques de Milão e de Saboia, onde foi faustosamente recebido com jantares, caçadas e festas realizadas em sua homenagem. E no Concílio encontrou-se com inúmeros representantes das diversas delegações presentes, de entre os quais destacamos os embaixadores do rei de Castela (bispo de Cartagena e Burgos Selemoh Helevi, judeu convertido, grande erudito e escritor, e seus filhos: Gonzalo de Santa Maria, bispo de Astorga, Plasencia e Sigenza, conselheiro do rei e auditor apostólico e Afonso de Cartagena, mais tarde sucessor do pai na mitra de Burgos, autor de várias obras filosóficas e teológicas). Das visitas que fez a edifícios e monumentos notáveis, o relato assinala que o 4º conde de Ourém terá privilegiado sobretudo paços régios ou castelos de nobres e edifícios religiosos; poucos são os referidos de carácter civil. Assim, em Valência, cuja estada demorou oito dias, Afonso viu os paços do rei, fora da cidade, respectiva capela e horto, os paços de um cónego e o orto d´El-Rey, que he dentro na dita cidade, a que chamão Terecena, (...) e dentro estão duas capelas e dous preguatoiros, (...) e outros edificios como de See. Em Tarragona visitou a Sé e perto de Barcelona o Mosteiro de Stª Mª de Montserrat. Em Pisa, onde esteve cinco dias, é assinalada a respectiva Catedral e Baptistério, bem como são feitas apreciações quanto à beleza das pinturas, pavimento e portas da catedral; no baptistério foi admirada a respectiva pia bem como o púlpito. Em Florença destacam-se os Paços do Marquês de Ferrara onde Afonso terá pousado, o conjunto monumental do Duomo, sublinhando a beleza e singularidade das portas do Baptistério e os dois hospitais da cidade (um para homens e outro para mulheres). Em Bolonha impressionaram as altas torres, muito comuns na cidade, destacando-se especialmente uma delas, a Torre da Guarda, que a vêm a dez legoas e deziam que aquella era a mais alta torre que avia em Italia (presumimos que seja a Torre Asinelli, construída em 1109, com cerca de 100 m de altura, a mais alta da cidade. Em Milão viu a Catedral, ainda em construção, e visitou não só o Castelo do Duque na cidade, mas também um outro, afastado da urbe, onde foi recebido por Carlo Maria Visconti e nele foi feita montaria em sua honra. Naquela região visitou ainda o Mosteiro de S. Pedro Martel. No caminho para Basileia há referência ao Mosteiro de São Bernardo, em Sam Remy, local de extrema importância como ponto de apoio na passagem dos Alpes e os paços do duque de Saboia e do príncipe do Piemonte, seu filho, em Lausane. Curiosamente em Basileia onde a estada se prolongou por mais tempo e cujo relato também ocupa a maior parte do texto, apenas é assinalada a catedral onde decorriam os trabalhos do Concílio. Em território do Sacro Império, é destacada, em Ruão huma igreja mui boa, que não é identificada. Em Estrasbourgo, o relato fala das vinte e seis pontes da cidade, da sua Sé e respectivos orgãos, que dezia o conde de quantos elle vira que aquelle erão os melhores. Em Bona é feita referência à Sé e em Colónia, onde o relato é interrompido, de novo se destacam edifícios religiosos: a Sé muito grande e boa e, se for acabada, será muy formosa, como os túmulos dos três reis magos que aí se encontravam e os mosteiros de São Francisco e das Onze Mil Virgens». In Alexandra Leal Barradas, D. Afonso, 4º conde de Ourém, Revista Medievalista, director Vasconcelos Sousa, Ano 2, Nº 2, Instituto de Estudos Medievais, FCSH-UNL, FCT, 2006, ISSN 1646-740X.

Cortesia de RMedievalista/JDACT