segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Amizade no 31. Alexandre O’Neill. «(O nome de quem se ama  letra a letra revelado. No mármore distraído no papel abandonado)»

jdact

Há Palavras que Nos Beijam
«Há palavras que nos beijam
como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
de imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
quando a noite perde o rosto;
palavras que se recusam
aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
entre palavras sem cor,
esperadas inesperadas
como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
letra a letra revelado
no mármore distraído
no papel abandonado)

Palavras que nos transportam
aonde a noite é mais forte,
ao silêncio dos amantes
abraçados contra a morte».


Amigo
«Mal nos conhecemos
inaugurámos a palavra amigo.


Amigo é um sorriso
de boca em boca,
um olhar bem limpo,
uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
um coração pronto a pulsar
na nossa mão!

Amigo (recordam-se, vocês aí,
escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!

Amigo é o erro corrigido,
não o erro perseguido, explorado,
é a verdade partilhada, praticada.

Amigo é a solidão derrotada!

Amigo é uma grande tarefa,
um trabalho sem fim,
um espaço útil, um tempo fértil,
amigo vai ser, é já uma grande festa!
Alexandre O'Neill, in “No Reino da Dinamarca”

JDACT