quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Lenda do Brasão de Coimbra. Leo Duarte. «A Universidade foi fundada em 1290 pelo monarca Dinis I e transferida, definitivamente, para Coimbra, em 1537»

Cortesia de wikipedia e jdact

Lenda relatada originalmente por frei Bernardo Brito

«Ataces, rei dos Alanos, depois de destruir completamente a cidade de Conímbriga, decidiu fundar ou restaurar uma outra com o mesmo nome na margem direita do Mondego. Quando Ataces andava a dirigir a edificação dessa nova Coimbra, eis que subitamente surge o rei suevo Hermenerico com seu exército, para dela se apoderar e se vingar de derrotas sofridas. O combate que se travou entre as duas facções foi de tal modo sanguinolento que as águas do Mondego se tingiram de vermelho!

Hermenerico retirou-se para o Norte, mas Ataces foi em sua perseguição e o rei suevo viu-se forçado a pedir a paz. Para tanto, ofereceu ao vencedor a mão da princesa Cindazunda, sua filha. Como é de regra em tais casos, diz a lenda que Cindazunda era extremamente bela e que Ataces logo dela se enamorou. Vem o régio par de noivos a caminho de Coimbra, acompanhado de sogro e pai, e em breve se realizam os esponsais e bodas, com a magnificência devida.

Para comemorar tão extraordinário acontecimento, Ataces concedeu à cidade de Coimbra o brasão que ainda hoje se mantém no fundamental. A donzela coroada é Cindazunda; a taça representa o seu casamento com Ataces; o leão é o timbre de Ataces; o dragão o timbre de Hermenerico.

A história escreveu-se com sonoridades celtas até ao século II a C., século marcado pela chegada dos romanos e da qual ficaram até aos nossos dias sinais de uma cultura grandiosa que podemos admirar no Criptopórtico da Civitas Aeminium que hoje integra o Museu Nacional de Machado de Castro. Coimbra fez-se depois mourisca e já Almedina era o nome da cidade dentro das muralhas, quando chegou o tempo da afirmação da Fé Cristã pela Reconquista. As urbes protegiam-se então à volta dos templos, e Coimbra, por vontade do rei Afonso Henriques, primeiro Rei de Portugal, viu nascer em 1131 o Mosteiro de Santa Cruz e fez-se cidade, berço de Reis.

A Sé Velha, sagrada em 1184, testemunha ainda hoje o imaginário da Arte Românica. Mas Coimbra deve aos monges de S. Bento e de Cister os mosteiros e conventos de grande sobriedade, onde a luz iluminava paredes nuas e arcos elevavam as construções a Deus. Santa Clara-a-Velha, que é deste tempo, testemunhou sempre a devoção que o povo prestava à Rainha Dona Isabel de Aragão, que o tempo tornou Santa. Foi em Santa-Clara-a-Velha que viveu Inês de Castro, essa bela mulher por quem Pedro I se tomou de amores. E foi também aqui que Afonso IV mandou executar dona Inês e iniciou assim a mais trágica e imortal história de amor escrita em Português.

Mas é o Renascimento e a Universidade que distinguem, secularmente, Coimbra. A Universidade foi fundada em 1290 pelo monarca Dinis I e transferida, definitivamente, para Coimbra, em 1537. Várias salas abertas hoje a turistas reflectem ainda a altivez de tempos idos em que madeiras exóticas e ouro do Brasil decoravam os espaços mais sublimes. Em meados do século vinte deu-se, talvez, o maior crime arquitectónico da cidade, quando Oliveira Salazar ordenou a destruição da velha Alta e nela construiu as faculdades e departamentos que hoje conhecemos ao longo da Rua Larga. Foi um período de mudança, mas que sem dúvida permitiu a expansão da Universidade a novas áreas de estudo e a mais estudantes que deram e continuam a dar a Coimbra fados e baladas, livros e poemas, sonhos e Saudade.

História

Data de 1 de Março de 1290 o diploma do rei Dinis I que anuncia a constituição do Estudo Geral. Assim foi fundada a Universidade que a bula do papa Nicolau IV confirmou em 9 de Agosto do mesmo ano. Nela funcionavam todas as faculdades lícitas: Cânones, Leis, Medicina e Artes. Exceptuava-se Teologia (só criada perto de 1380). Tendo alternado o seu funcionamento entre Lisboa e Coimbra, fixou-se definitivamente nesta cidade em 1537, por decisão do rei João III, que ao mesmo tempo a reformou profundamente. Foram então criados vários colégios, entre os quais o das Artes, o de São Paulo e o de São Pedro, que se estende a sul da Porta Férrea, com funções de ensino, pensionato e assistência. Durante o reinado de José I (1750-1777) começa a sentir-se em Portugal o absolutismo esclarecido, que protagonizou uma das mais importantes reformas universitárias. Ela ocorreu em 1772 e anos seguintes e teve como principais intérpretes o poderoso ministro marquês de Pombal, que fora nomeado Visitador da Universidade, e o Reitor-Reformador Francisco Lemos. Novos estatutos foram entregues solenemente por Pombal em 29 de Setembro de 1772, e a partir dai, começam a surgir as marcas da reforma pombalina». In Leo Duarte, Lenda do Brasão de Coimbra, Pedro Dias, Coimbra, Arte e História, I.H.A., Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico, Volume IV, 1988, Editora João Romano Torres, 1904-1915.

 

Cortesia de EJRomanoTorres/UdeCoimbra/JDACT

 

JDACT, Frei Bernardo Brito, Leo Duarte, Coimbra, Cultura e Conhecimento,