sábado, 30 de janeiro de 2021

Leo Duarte. Lenda do Brasão de Coimbra. «Com o liberalismo de 1820 e com a sua institucionalização em 1834, a Universidade vai passar por tempos conturbados de conservantismo e de mudança, de crise e de dinamismo…»

Cortesia de wikipedia e jdact

Lenda relatada originalmente por frei Bernardo Brito

História

«(…) Expulsos os Jesuítas em 1759, ficaram vagas vastas dependências onde se instalaram algumas das novas faculdades e serviços de criação pombalina. São desta época, aliás de grande capacidade económica (João V e José I), alguns dos belos edifícios que, ainda hoje, marcam a vida da Universidade: a Torre e a Biblioteca Joanina, (do período pré-pombalino), o Museo de História Natural, o Laboratório Chímico e o Jardim Botânico.

Com o liberalismo de 1820 e com a sua institucionalização em 1834, a Universidade vai passar por tempos conturbados de conservantismo e de mudança, de crise e de dinamismo, de tentativas frustradas de reforma face ao governo, que manifestava compreensivelmente outras intenções no âmbito da política do ensino. Da década de 60 do século XIX ao advento da República (em 1910) movimentos académicos de grande significado, em que pontificavam ilustres vultos da nossa literatura, como Almeida Garret, Antero de Quental, João de Deus, Eça de Queiróz, entre outros, protagonizaram revoltas contra o conservantismo académico e o aparecimento de formas organizadas de associação como grupos dramáticos, literários e corais. Nesta época, situa-se também a fundação da Associação Académica (1887) que viria ao longo da sua existência a salientar-se pela contestação organizada contra o poder político na Universidade e fora dela afirmando-se, mesmo em tempos adversos, como um forte baluarte de autonomia e, através das muitas secções especializadas, como pólo difusor de uma vida associativa e cultural dinâmica.

Com a implantação da República (1910) o Estado, que apostava na democratização do ensino, incentivou e patrocinou a criação de outras Universidades em Lisboa e no Porto, ao mesmo tempo que se operavam algumas reformas na Universidade de Coimbra. Em 1911, um ano após a implantação do regime republicano, deixou de funcionar a Faculdade de Teologia, sendo criada a de Letras. As faculdades de Matemática e de Filosofia (natural) fundiram-se originando a de Ciências e foram instituídas as escolas de Farmácia e Normal Superior. A de Farmácia seria mais tarde elevada à categoria de Faculdade.

A ditadura militar emergente da Revolução Nacional de 28 de Maio de 1926 e a instituição do Estado Novo, em 1933, foram os grandes responsáveis pela amputação de alguns históricos edifícios da Velha Alta não escapando ao impiedoso camartelo igrejas, colégios renascentistas e casas manuelinas ou barrocas. No seu lugar foram implantados novos edifícios que marcaram o tipo arquitectónico característico da época. Nos aspectos científico e pedagógico assistiu-se também, nesta época, a uma preocupante cristalização. Que não era já possível ignorar os movimentos sociais, políticos, científicos e culturais vividos em toda a Europa, aperceberam-se, na década de 70, o então chefe do Governo, prof. Marcelo Caetano e o ministro prof. Veiga Simão. Viveu-se, assim uma tentativa de modernização da Universidade, surgindo cursos de sentido prático e tecnológico (em 1972 a Faculdade de Ciências passou a Faculdade de Ciências e Tecnologia e foi criada a Faculdade de Economia) e criando-se novas Universidades (Aveiro, Braga e Évora).

Os movimentos estudantis têm neste período grande expressão como formas organizadas de contestação e de luta por melhores condições para o ensino e também por ideais políticos e sociais. Com a Revolução de Abril, 1974, a Universidade como que explode, subindo em flecha o número de alunos inscritos. Instituem-se formas de funcionamento democrático e ressurge a luta pela conquista da autonomia que vem a concretizar-se em Setembro de 1989 com a aprovação, pela Assembleia da República, da Lei Quadro da Autonomia Universitária». In Leo Duarte, Lenda do Brasão de Coimbra, Pedro Dias, Coimbra, Arte e História, I.H.A., Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico, Volume IV, 1988, Editora João Romano Torres, 1904-1915.

 

Cortesia de EJRomanoTorres/UdeCoimbra/JDACT

 

JDACT, Frei Bernardo Brito, Leo Duarte, Coimbra, Cultura e Conhecimento,