quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

O Símbolo Perdido. Dan Brown. «Impossível. O sr. Solomon está preso num lugar nada agradável. O homem fez uma pausa. Ele está no Araf»

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«(…) Robert Langdon parou na soleira da porta do Salão Nacional das Estátuas, petrificado, e estudou a surpreendente cena à sua frente. A sala era exactamente como ele se lembrava, um semicírculo harmonioso, construído no mesmo estilo de um anfiteatro grego. As graciosas paredes curvas de arenito e marmorino italiano eram pontuadas por colunas de breccia multicolorida, entremeadas pela colecção nacional de estátuas, esculturas em tamanho natural de 38 norte-americanos importantes, dispostas ao redor de um vasto espaço revestido com ladrilhos de mármore preto e branco. Tudo estava do mesmo jeito que no dia da palestra que assistira ali. Excepto por um detalhe. Desta vez, o salão estava deserto. Nada de cadeiras. Nada de espectadores. Nada de Peter Solomon. Apenas um punhado de turistas zanzando para lá e para cá, alheios à entrada triunfal de Langdon. Será que Peter quis dizer na Rotunda? Ele espiou pelo corredor sul na direcção da Rotunda e viu turistas circulando por lá também. Os ecos das badaladas do relógio haviam silenciado. Agora Langdon estava oficialmente atrasado. Ele voltou às pressas para o corredor e encontrou um guia turístico. Com licença, onde será a palestra do evento do Smithsonian hoje à noite? O guia hesitou. Não saberia dizer, senhor. Quando vai começar? Agora! O homem balançou a cabeça. – Não estou sabendo de nenhum evento do Smithsonian hoje à noite..., pelo menos não aqui.

Atarantado, Langdon voltou depressa para o meio do salão, correndo os olhos por todo o espaço. Será que isso é algum tipo de brincadeira de Solomon? A hipótese lhe parecia inimaginável. Pegou no telefone móvel e o fax recebido naquela manhã e discou o número de Peter. O telefone levou alguns segundos para captar um sinal dentro do imenso prédio. Por fim, começou a tocar. O conhecido sotaque sulista atendeu. Escritório de Peter Solomon, Anthony. Em que posso ajudar? Anthony!, disse Langdon, aliviado. Que bom que você ainda está aí. Aqui é Robert Langdon. Parece que está havendo alguma confusão em relação à palestra. Estou no meio do Salão das Estátuas, mas não há ninguém aqui. A palestra foi transferida para alguma outra sala? Acho que não, professor. Deixe-me verificar. O assistente fez uma pausa. O senhor confirmou directamente com o sr. Solomon? Langdon ficou confuso. Não, eu confirmei com o Anthony. Hoje de manhã! Sim, eu me lembro disso. Houve um silêncio na linha. Foi um pouco descuidado da sua parte, não acha, professor? Àquela altura, Langdon estava totalmente alerta. Como disse? Pense no seguinte..., disse o homem. O senhor recebeu um fax pedindo-lhe que ligasse para um número de telefone, o que fez sem titubear. Falou com um total desconhecido que se apresentou como assistente de Peter Solomon. Em seguida, o senhor embarcou por livre e espontânea vontade num jacto particular para Washington e entrou num carro que o estava aguardando. Correto?

Langdon sentiu um calafrio percorrer seu corpo. Quem está falando, droga? Onde está Peter? Infelizmente, acho que Peter Solomon não tem a menor ideia de que o senhor está em Washington hoje. O sotaque sulista do homem desapareceu, e a sua voz se transformou num sussurro mais grave, açucarado. O senhor está aqui, professor Langdon, porque eu quero que esteja.

No Salão das Estátuas, Robert Langdon pressionou o telefone móvel contra a orelha e pôs-se a andar de um lado para o outro num círculo fechado. Quem é você, droga? A resposta do homem veio num sussurro sedoso, calmo. Não fique alarmado, professor. O senhor foi convocado a vir aqui por um motivo. Convocado? Langdon sentiu-se como um animal enjaulado. Que tal sequestrado? Não é bem assim. A voz do homem era de uma serenidade sinistra. Se eu quisesse machucá-lo, o senhor agora estaria morto dentro daquele Lincoln. Ele deixou as palavras pairarem no ar por alguns instantes. As minhas intenções são as mais nobres possíveis, posso garantir. Eu gostaria simplesmente de lhe fazer um convite.

Não, obrigado. Desde as suas experiências na Europa nos últimos anos, a indesejada celebridade o transformara num ímã de malucos, e aquele ali havia acabado de ultrapassar os limites. Olhe aqui, não sei que diabos está acontecendo, mas vou desligar... Eu não faria isso, disse o homem. A sua janela de oportunidade é muito pequena se deseja salvar a alma de Peter Solomon. Langdon puxou o ar com força. O que foi que você disse? Tenho certeza de que o senhor me ouviu. A forma como aquele homem pronunciara o nome de Peter deixou Langdon petrificado. O que você sabe sobre Peter? Neste exacto momento eu conheço os mais profundos segredos dele. O sr. Solomon é meu convidado, e eu sei ser um anfitrião persuasivo. Isto não pode estar acontecendo.

Você não está com Peter. Eu atendi o telemóvel dele. Isso deveria fazer o senhor parar e pensar. Vou chamar a polícia. Não precisa, disse o homem. As autoridades estarão com o senhor daqui a pouco. Do que esse louco está falando? O tom de Langdon ficou mais ríspido. Se está com Peter, ponha ele na linha agora mesmo. Impossível. O sr. Solomon está preso num lugar nada agradável. O homem fez uma pausa. Ele está no Araf». In Dan Brown, O Símbolo Perdido, 2009, Bertrand Editora, 2009, ISBN 978-972-252-014-0.

Cortesia de BertrandE/JDACT

JDACT, Dan Brown, Washington D.C., Literatura, Maçonaria,