quinta-feira, 17 de março de 2011

Armada da Costa: «Tinha por função base defender a navegação nas imediações de Portugal Continental, com especial atenção para o apoio às naus da Carreira da Índia na torna-viagem. Os navios permaneciam no mar enquanto a Coroa desejasse»

Cortesia de riodasmacas 

Armada da Costa
«A estrutura da defesa naval portuguesa assentava em três armadas:
  • a Armada das Ilhas,
  • a Armada da Costa ou do Reino,
  • a Armada do Estreito de Gibraltar, mais tarde Armada do Algarve.
Esta estrutura estava definida por volta de 1520 quando D. Manuel reorganiza o sistema naval português tendo em conta as condicionantes introduzidas pela expansão para Oriente.

A Armada da Costa tinha por função base defender a navegação nas imediações de Portugal Continental, com especial atenção para o apoio às naus da Carreira da Índia na torna-viagem. Tinha como limites de acção o Cabo Espichel a Sul (embora o mais comum fosse sair de Lisboa directamente para as Berlengas) e a foz do rio Douro a Norte. Pelo meio havia que recolher o máximo de informação em terra para saber de eventuais notícias de navios corsários. Outra das características desta armada era a ausência de um limite temporal para as diversas missões, ou seja, os navios permaneciam no mar enquanto a Coroa desejasse e enquanto não houvesse ordem em contrário.

Cortesia de ordemmr 
As acções desta armada são ainda relativamente mal conhecidas pelo que não é de estranhar que se consigam apontar apenas umas poucas saídas. Frei Luís de Sousa indica armadas em 1525 (1 nau e 4 caravelas) e 1528 (2 naus e 6 caravelas). A armada de 1578 contava com 2 galeões, 1 nau e 1 caravelão. Ainda para 1578 existem dois documentos importantes para se conhecer esta armada, um que indica a constituição ideal desta armada (20 navios latinos e 4 naus ou galeões) e outro que é o regimento dado a Pedro Correia Lacerda que ia nesse ano como capitão mor da Armada.
Este regimento revela uma grande preocupação pela manutenção da ordem da Armada indicando em pormenor os procedimentos em caso de ser tomado algum navio de piratas, bem como a forma de proteger a navegação comercial que viesse do Porto.
Os navios da Carreira da Índia aquando da sua aproximação à costa eram alvo de uma atenção muito especial. O valor desses navios, em mercadorias e informações, foi sempre um bem demasiado precioso. Daí que uma das instruções mais frequentes e mais precisa para a Carreira tenha sido a forma de aproximação à costa portuguesa, em especial a partir dos inícios do século XVII quando ingleses e holandeses começam a opor-se mais ferozmente à Carreira.

Cortesia de albinocosta
Essa aproximação dividia-se em duas conforme a época do ano, geralmente pelos 41º (talvez entre a Figueira da Foz e Peniche, com as Berlengas a serem o ponto ideal) e após o dia 15 ou 20 de Setembro pelos 38º. Em caso das naus virem de invernada passa-se dos 37º em 1596 para os 41º-42º em 1598. Esta pequena mudança tem a ver com a localização das armadas de protecção que assim evitam rumar tão a Sul o que dispersava muito as suas forças.

É precisamente neste século XVII que aumentam as dificuldades em manter uma armada sólida visto que os efectivos estavam quase todos empenhados no Oriente e nas diversas rotas comerciais que Portugal mantinha. Mais do que uma função fiscalizadora esta armada estava vocacionada para o ataque a navios corsários e/ou piratas utilizando para tal quer navios mais pequenos e rápidos como as caravelas, quer navios de alto-bordo como as naus no caso de as forças inimigas serem de maior porte. Ainda hoje conhecemos mal a Armada da Costa sendo de entre as três armadas integradas no sistema de defesa naval português a que mais lacunas apresenta no presente estádio do conhecimento historiográfico». In Rui Godinho, Instituto Camões.

 Cortesia de Instituto Camões/JDACT