quarta-feira, 16 de março de 2011

O Tratado de Salvaterra. Parte I. Uma época de dificuldades: «No plano europeu, nunca é de mais lembrar que grande parte do continente se encontrava envolvido num vasto conflito - a Guerra dos Cem Anos – que conduzia a que os vários estados interviessem nos conflitos locais e regionais»

Cortesia de eb23cmdtconceicaosilva 

Um olhar sobre um mundo em mudança
«Quem acompanhar de perto a evolução do reinado de D. Fernando, facilmente integra o acordo de Salvaterra no interminável processo dos confrontos luso-castelhanos em que o reinado do rei Formoso foi fértil.
Todavia, deste modo, não será possível abarcar o pleno sentido de todos esses acontecimentos que se desenrolam durante os anos de 1382 e 1383. De facto, são variados os olhares que sobre eles podem ser lançados e que importa aqui resumir.

No plano europeu, nunca é de mais lembrar que grande parte do continente se encontrava envolvido num vasto conflito - a Guerra dos Cem Anos – que conduzia a que os vários estados interviessem nos conflitos locais e regionais. Tudo dependia da análise que faziam da situação e das vantagens que poderiam tirar. É também nesta perspectiva que deve ser compreendida o apoio que os ingleses dispensavam à Coroa portuguesa.

Cortesia de xtimeline  
A magnitude deste conflito atingirá, como se sabe, a própria Igreja. Desde 1378, ano do morte de Gregório XI, uma das principais razões que fazia diferentes reinos jurarem obediência o Urbano VI, estabelecido em Roma, ou a Clemente VII, sediado em Avínhão, dependia do apoio que dispensavam, respectivamente a ingleses ou a franceses.
O apoio inglês a Portugal ganhou especial dimensão quando o Duque de Lencastre genro de D. Pedro de Castela, se envolveu em luta contra os Trastâmara e a que, sucessivamente o tratado de Tagilde de 1372 e o acordo de Westminster de Junho do ano seguinte deram corpo. Na Terceira das guerras fernandinas ficou mesmo assente o casamento da filha do rei de Portugal, D. Beatriz com o filho do Conde Cambridge, acordo ratificado em Maio de 1381.

Outro plano de análise relaciona-se com a situação da Península Ibérica. Se não era novidade a tendência dos reis portugueses e castelhanos para olharem as Coroas peninsulares com alguma «cobiça», só era relativamente novo o desenho dos equilíbrios que se iam gerando.

Cortesia de apenassonho
Assim, se tradicionalmente a política peninsular portuguesa se tinha desenvolvido através da busca de equilíbrios globais no interior da Hispânia, em que as ligações a Aragão desempenhavam um papel primordial, na segunda metade do século XIV foi-se esboçando uma tendência para garantir a segurança do reino fora da península, por uma ligação preferencial com a Inglaterra. Essa aliança foi sendo cada vez mais reforçada ao longo do reinado de D. Fernando, mas tinha no interior do país os seus adversários, cujo campo era ajudado pelas depradações que os ingleses faziam pelo país.

Um outro ponto da conflitualidade luso-castelhano desenvolvia-se pela competição comercial entre os dois reinos, a qual tinha no Atlântico um dos locais privilegiados desse confronto. Aí era visível a concorrência aos mercados do Norte entre Portugal e particularmente a região da Cantábria. É verdade que durante esta época se ia esboçando uma outra alternativa para Portugal – o Mediterrâneo - onde Castela, aliás, tinha uma presença que não era de desprezar». In Filipe Themudo Barata, O Concelho de Salvaterra de Magos da Pré História ao século XVIII, CMSalvaterra de Magos.
Cortesia da CMSalvaterra de Magos/JDACT