quinta-feira, 10 de março de 2011

Salvaterra de Magos. Em torno do Foral. A Génese dum Concelho. Parte II. «Remetida à posse do rei, o Paul de Magos cedo veio o ser objecto da preocupação régia no sentido de se efectuar a secagem das suas terras e um posterior aproveitamento, tal como o foral de 1295 demonstra»


Cortesia de salvaterramagos

Com a devida vénia a Hermínia V. Vilar

Apenas em 1294 a posse do Paul passou a ser de D. Dinis.
«Esta outorga constituiu, assim, apenas um momento no processo de alienação de terras, até aí detidos pelo concelho escalabitano em favor, regra geral, do património régio, e contribuiu, para a consolidação duma política de incentivo ao povoamento e exploração dessas terras, cuja rentabilização implicava obras de alguma envergadura.
Remetida à posse do rei, o Paul de Magos cedo veio o ser objecto da preocupação régia no sentido de se efectuar a secagem das suas terras e um posterior aproveitamento, tal como o foral de 1295 demonstra.

De contornos indefinidos e com uma extensão hoje impossível de conhecer, esta zona do Paul parece ter coexistido, em termos de exploração com o chamado Campo de Sacarabotão, hoje também de difícil localização, mas que se estendia entre Salvaterra e Benavente. Esta ligação é atestada, pelo menos desde 1294, data em que um grupo de «herdadores», que exploravam algumas parcelas no Campo de Sacarabotão, alegavam ter direito ao uso de parte do Paul de Magos, pelo qual «deviam ir adiante até acima» afim de explorarem o que lhes pertencia. Este conflito terminará com a outorga da parte compreendida entre «a aberta velha a fundo contra Tejo» aos referidos «herdadores».

Também em 1383, na sequência de um pedido feito ao rei pelo concelho de Salvaterra, sobre os produtos incluídos no pagamento de «jugada», o rei refere segundo o argumento pelos queixosos, que devido ao termo da vila ser bastante pequeno, os moradores de Salvaterra sempre tinham lavrado no Campo de Sacarabotão, junto à povoação, embora este pertencesse ao termo de Santarém.

Cortesia de ribatejo
Aliás, este campo, que poderá ter constituído um suporte económico coadjuvante da povoação nascente, no final do século XIII foi, também ele, objecto duma partilha entre diversos proprietários, que até aí estenderam os seus interesses. Assim ocorreu, por exemplo com João Viegas, cavaleiro e vizinho de Santarém, que efectuou cerca de 30 aquisições de parcelas, entre 1240 e 1290, formando, com estes contratos, um património de considerável envergadura. Mas também Alcobaça possuía aí terra, cuja posse o rei questionou em 1307, argumentando serem os herdamentos do mosteiro, lezírias, pelo que a sua posse caberia ao rei. Resolvida e satisfeita a dúvida, D. Dinis estabeleceu o fim do conflito e confirmou ao mosteiro a posse dessas propriedades.

Mas se a sua localização exacto nos é desconhecida, a análise das confrontações das parcelas de terra, aí localizadas e sujeitas a contratos de compra e vendo, na segunda metade de Duzentos, possibilita-nos o entrever dos elementos estruturantes da paisagem desta zona, onde Salvaterra cresceu e se desenvolveu, de modo a melhor compreender o espaço envolvente e condicionante desta comunidade.
Paúis, charnecas, esteiros e, invariavelmente, o Tejo constituíam os marcos identificadores desta paisagem, onde as parcelas arroteadas e cultivadas não deviam ainda ocupar a maior parte da superfície disponível. Com efeito, a sua exploração implicava um conjunto de obras que, embora não estranho aos séculos medievais, representavam e implicavam investimentos que pequenas comunidades camponesas dificilmente poderiam suportar». In Hermínia V. Vilar, o concelho de Salvaterra de Magos da Pré-História ao século XVIII, edição da CM de Salvaterra de Magos.

Continua.
Cortesia da CMSalvaterra de Magos/JDACT