domingo, 5 de fevereiro de 2012

Poesia. Wislawa Szymborska. Polónia. «Com a sua primeira obra, “Procuro a Palavra, 1945, seguida de “Por isso vivemos”, 1952 e “Perguntas formuladas a mim mesmo”, 1954, logo se situou no primeiro plano literário europeu. “Devo muito a quem não amo. A alegria de não ser eu o lobo das suas ovelhas"»


(1923-2012)
Polónia
Cortesia de revistamododeusar

«Poeta e ensaísta nascida em Kórnik. Viveu temporariamente na Croácia (a partir de 1931). Estudou Literatura Polaca e Sociologia, dedicando-se então ao exercício literário. Com a sua primeira obra, ", 1945, seguida de “Por isso vivemos”, 1952 e “Perguntas formuladas a mim mesmo”, 1954, logo se situou no primeiro plano literário europeu. “Apelação a Yeti” em 1957, “Sal”, 1962, “No Poente” em 1986, “Fim e Princípio”, 1993 e “Da Morte sem exagerar” em 1996, constituem parte da sua obra.

Foi galardoada com muitos prémios, onde se destacam o ‘Prémio da Cultura Polaca 1963’, ‘Prémio Goethe 1991’, ‘Prémio Herder 1995’ e “Prémio Nobel da Literatura 1996”. Pela Universidade Adam Mickiewicz recebeu o grau de “Doutor Honoris Causa”.

Agradecimento
Devo muito a quem não amo.

O alívio com que aceito
que são mais queridos por outros.

A alegria de não ser eu
o lobo das suas ovelhas.

Estou em paz com eles
e em liberdade com eles,
Vejo o amor nem posso dá-lo
Nem sabe tomá-lo.

Não os espero
num ir e ver da janela da porta.
Paciente
quase como um relógio de Sol
entendo
o que o amor não entende;
perdoo
O que o amor jamais perdoaria.

Desde o encontro até à carta
não passa uma eternidade,
mas simplesmente uns dias ou semanas.

As viagens com eles sempre são um êxito,
Os concertos são escutados,
as catedrais visitadas,
as paisagens nítidas.

E quando nos separam
distantes países
são países
bem conhecidos nos mapas.

É devido a eles
que eu vivo em três dimensões,
num espaço não-lírico e não-retórico,
com um horizonte real mas não móvel.

Nem sequer imaginam
quanto há nas suas mãos vazias.

“Não lhes devo nada”,
diria o amor
sobre este tema aberto.
In «O grande número, 1976», tradução livre, JDACT

Fim e Princípio
Depois de cada guerra
alguém tem que limpar.
No se vão ordenar só as coisas,
digo eu.

Alguém deve fechar os escombros
como aplanar o fosso
para que possam passar
os carros cheios de cadáveres.

Alguém deve meter-se
entre o barro, as cinzas,
o pó dos sofás,
as hastes de cristal
e os trapos sangrentos.

Alguém tem que arrastar uma viga
para derrubar um muro,
alguém põe um vidro numa janela
E a porta nos seus ferrolhos.
[…]
Todavia haverá quem às vezes
encontre entre as ervas secas
argumentos mordidos pela ferrugem,
e os leve para o monte de escombros.

Aqueles que sabiam
de que havia aqui coisa
têm que deixar o seu lugar
aos que sabem pouco.
E menos que pouco.
E inclusive praticamente nada.

E na erva que que cubra
causas e consequências
certo que haverá alguém caído,
com uma espiga entre os dentes,
mirando as nuvens.
In “Fim e Princípio”, 1993, tradução livre, JDACT

Cortesia de misiglo

Cortesia de A Meia Voz/JDACT