quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A Luta pela Liberdade. Viriato. Maurício Pastor Muñoz. «Segundo fontes coevas era extraordinariamente forte, rápido e ágil, e também muito parcimonioso na comida e no sono. Diodoro salienta que estava tão endurecido desde a juventude que era insensível à fome, à sede, ao calor e ao frio»

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«De acordo com os costumes lusitanos, o primogénito era o único herdeiro dos bens familiares, e por isso, Viriato, como terceiro filho, o segundo era uma rapariga, tinha-se visto obrigado, como muitos outros jovens, a adoptar a rude vida dos bandos que saqueavam as terras do sul. Também se conta que se destacou muito cedo pelas suas qualidades; seu pai, Comínio, antes de partir para a guerra, deixou-o, com cinco anos, juntamente com a mãe e os irmãos sob protecção dos igeditanos. O pai terá morrido em combate e Viriato teria crescido entre os guerreiros de Igedium com os quais se treinou nas artes da guerra. Contam também que viveu muito tempo nas montanhas como pastor, e que aos dezasseis anos era já um homem feito e destro, curtido pelo vento e pelo ar livre, de enorme resistência física e possuindo uma admirável capacidade de comando, ao ponto de o primeiro bando que integrou o ter eleito chefe. Mas tudo isto não passa de pura ficção, ou pelo menos, de parte da lenda. Nada é mencionado a este respeito nas fontes literárias, e esta circunstância vem confirmar a hipótese da sua origem humilde. Também nada sabemos dos primeiros anos da sua infância que deve ter passado tranquilamente a correr pelas montanhas que o viram nascer e crescer.
Há algumas referências à sua juventude em Apiano, Diodoro e Dião Cássio que no-lo apresentam primeiro como pastor e caçador e depois como salteador e chefe de quadrilhas de bandoleiros, muito comuns na Lusitânia, e que viam na rica comarca andaluza da Bética, pelo menos temporariamente, o seu objectivo natural; e, finalmente, é-nos apresentado como caudilho e chefe dos lusitanos. Portanto, Viriato passou a sua juventude nas montanhas apascentando gado e em seguida, como muitos pastores lusitanos e montanheses, tornou-se bandido. Mas pelas suas qualidades pessoais é escolhido para chefiar as incursões pelas terras férteis da Bética e, por fim, torna-se no chefe dos lusitanos na luta contra Roma.
Ainda muito jovem esteve, com certeza, entre os lusitanos que iniciaram a guerra contra Roma nos anos 154-153, como sabemos por Lívio, Diodoro, Floro, Orósio, Eutrópio e Dião Cássio, participando nas pilhagens atribuídas aos lusitanos. Na juventude, Viriato foi moldado espiritual e fisicamente pela vida rude das montanhas. Além disso, adquiriu a vigorosa compleição que se lhe atribui nas fontes pela luta constante contra os elementos, contra animais selvagens, e ainda em tenra idade, contra homens. Segundo estas mesmas fontes era extraordinariamente forte, rápido e ágil, e também muito parcimonioso na comida e no sono. Diodoro salienta que estava tão endurecido desde a juventude que era insensível à fome, à sede, ao calor e ao frio.
Já na sua juventude, Viriato revelou um talento militar inato. Neste sentido, Estrabão atribui-lhe em especial a habilidade dos lusitanos como espiões, ao armarem emboscadas e conseguirem escapar, evitando perigos e situações adversas. Viriato reunia todas as capacidades que posteriormente o converterão num mestre da guerra de guerrilha que tantas dores de cabeça deu aos romanos, durante estas guerras». In Maurício Pastor Muñoz, Viriato La Lucha por La Liberdad, Viriato, A Luta pela Liberdade, Alderabán, Ediciones,SL, 2000, Ésquilo, Lisboa, 2003, ISBN 972-8605-23-4.

Cortesia de Ésquilo/JDACT