domingo, 11 de abril de 2010

D. António I: O décimo oitavo rei de Portugal

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(1531-1595)
D. António I de Portugal mais conhecido pelo cognome de o Prior do Crato (e, mais raramente, como O DeterminadoO Lutador ou O Independentista, pela ênfase posta no recobro da independência de Portugal), foi filho do Infante D. Luís e neto de D. Manuel I, pretendente ao trono durante a crise sucessória de 1580. Segundo alguns historiadores, rei de Portugal, durante um breve espaço de tempo em 1580, no território do Continente, e desde então até 1583, confinado aos Açores. Não consta geralmente na lista de reis de Portugal, contudo é historicamente correcto incluí-lo, pois não foi só aclamado rei, como reinou de facto, durante um curto período.
D. António era filho do Infante D. Luís e, como tal, neto do rei D. Manuel I. Sua mãe chamava-se Violante Gomes, de alcunha a Pelicana e membro da pequena nobreza (não uma israelita, como se convencionou chamar) por quem o infante D. Luís se deixara fascinar e com quem casara em segredo.
Infante D. Luís, Duque de Beja, pai de D. António
(1506 – 1555)
Foi precisamente em virtude de ser conhecido como um bastardo e filho de cristã-nova, embora tal não fosse verdade, que a sua pretensão ao trono foi considerada inválida. O seu pai fôra também Prior da Ordem do Crato, o que o impedia de contrair matrimónio válido sem que antes obtivesse dispensa papal. Mas hoje já se começa a reconhecer a legitimidade de D. António.
Cruz de Malta, o símbolo da Ordem dos Hospitalários
D. António foi discípulo de Frei Bartolomeu dos Mártires em Coimbra e entrou para a Ordem dos Hospitalários, cujo prior era o seu pai. Em 1571 foi governador da praça norte-africana de Tânger e em 1578 acompanhou o rei D. Sebastião na campanha em Marrocos. Feito prisioneiro na batalha de Alcácer-Quibir, conta o «povo» que conseguiu a libertação com recurso à astúcia: quando lhe perguntaram o significado da cruz que usava, respondeu que era o sinal de uma pequena mercê que tinha obtido do papa, e que a perderia se não voltasse até 1 de Janeiro. Pensando que era um homem pobre, o seu captor deu-lhe a liberdade em troca de um pequeno valor.
Quando regressou a Portugal em 1578, D. António reclamou o trono. Essa pretensão acabou por lhe ser negada por não ser reconhecido como filho legítimo. Em seu lugar ficou o seu tio D. Henrique.
O seu tio, o Cardeal D. Henrique
A 23 de Novembro de 1579, uma carta régia retira a D. António a nacionalidade portuguesa. Os seus bens são confiscados e é expulso do reino. Em Janeiro de 1580, estando reunidas as Cortes em Almeirim, nas quais se esperava designar um herdeiro para o trono português, morre o cardeal D. Henrique. Uma Junta Governativa, constituída por cinco governadores, assumiu a regência do reino.

O trono português era então disputado por diversos pretendentes. Entre eles, destacavam-se a duquesa de Bragança, D. Catarina, Filipe II de Espanha e o próprio D. António, Prior do Crato. O mais legítimo herdeiro seria a duquesa, mesmo sendo mulher, já que descendia de D. Manuel por via masculina. Filipe II, era um estrangeiro e descendente de D. Manuel por via feminina. Quanto a D. António, embora fosse também neto por via masculina, pesava sobre ele a «suposta bastardia».

Filipe, com a sua peculiar astúcia, conseguiu subornar os grandes do reino com o ouro vindo das Américas, e a coroa começou a pender favoravelmente para o seu lado. Para estes, a ideia de uma união pessoal com a Espanha seria altamente proveitosa para Portugal, que estava a passar um mau momento económico.
Filipe I de Portugal (II de Espanha)
D. António procurou seduzir o povo para a sua causa. A situação era similar à vivida durante a crise de 1383-1385. Tal como nesse período, também o rei de Castela invocara argumentos de natureza familiar para herdar o trono português. Nesta altura, D. João, Mestre de Avis era filho ilegítimo do rei D. Pedro I. Mas a sua candidatura saíu vencedora em Aljubarrota e nas Cortes de Coimbra de 1385.
Mudam-se os tempos... Mudam-se as vontades de acordo com interesses pessoais de alguns!
A 24 de Julho de 1580, durante a preparação para a esperada invasão espanhola, D. António foi aclamado rei de Portugal pelo povo, no castelo de Santarém. D. António pedira ao povo que o aclamasse apenas regedor e defensor do reino, mas já o povo rejubilava. Um mês mais tarde, a 25 de Agosto, as suas forças foram derrotadas na batalha de Alcântara, pelas do duque de Alba.

Tendo sobrevivido ao combate, D. António dirigiu-se à ilha Terceira, nos Açores, que havia tomado o seu partido, e de onde continuou a governar. Foi um poder reconhecido apenas neste grupo de ilhas. Em Portugal Continental e na Madeira, o poder passou a ser exercido por Filipe II de Espanha, reconhecido oficialmente no ano seguinte, pelas Cortes de Tomar de 1581, como Filipe I de Portugal. Iniciava-se, na História de Portugal, a Dinastia Filipina.
Reforçou as defesas de Angra, face à iminência de um ataque espanhol e à acção dos corsários. Cunhou moeda – um acto típico de soberania e realeza. Por essas razões, muitos investigadores históricos de renome não hesitam em considerá-lo como o derradeiro príncipe da Casa de Avis, ao invés do Cardeal D. Henrique e, com toda a justiça, o décimo oitavo rei de Portugal.
D. António I, reinado (aclamado em 24 de Julho de 1580, em Santarém, término em 1583 nos Açores)

Em 1581, regista-se a primeira tentativa de desembarque das tropas espanholas, a batalha da Salga, onde os Espanhóis foram completamente derrotados. Segundo alguns historiadores, participaram neste combate os escritores Cervantes e Lope de Vega. Finalmente, em 1583, forças espanholas, em número  muito superiores às dos portugueses, sob o comando de D. Álvaro de Bazán conseguiram dominar a ilha após violentos e longos combates.

Após a derrota nos Açores, D. António exilou-se em França onde dominavam os inimigos tradicionais dos Habsburgos de Espanha. Pediu auxílio da rainha Isabel I de Inglaterra, que se tornara inimiga de Espanha. O auxílio seria prestado ao longo de vários anos, como durante os planos de D. António em tomar Lisboa a Julho de 1589, a troco de facilidades no Brasil e nos Açores. Porém, a armada inglesa, comandada pelo almirante Francis Drake foi atacada de peste e retirou-se. D. António, desembarcado em Peniche e já a caminho de Lisboa, contando com o apoio popular, viu fracassada a tentativa de tomar a cidade de Lisboa. O povo, com medo e desinteressado, não reagiu. D. António foi obrigado a partir novamente para o exílio.

Continuou a lutar até ao fim da sua vida pela restauração da independência do seu país. Não chegaria a assistir ao fim do domínio filipino.
D. João, neto da sua prima, a duquesa D. Catarina de Bragança, seria aclamado como rei D. João IV após o golpe vitorioso de 1 de Dezembro de 1640.

Morreu em Paris. Desapareceu, proscrito e esquecido, o último príncipe de Avis.
A sua descendência foi vastíssima e com descendentes até à actualidade. Estão radicados na Holanda, Bélgica e Suíça. Um dado curioso: não houve mais sangue deste príncipe que nascesse em Portugal.

(Legitimidade de D. António I)
Fernando Campos/Lago Azul/Wikiédia/JDACT

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