terça-feira, 27 de abril de 2010

Papa João XXI: Pedro Julião Rebelo, o Papa português do Séc. XIII, o «completo cientista físico e naturalista»

 Papa João XXI
188.º Papa
Cortesia Wikipédia
João XXI nascido Pedro Julião Rebelo, também conhecido como Pedro Hispano, ou Petrus Hispanus, assim cognominado em razão de, no século XIII, Hispania designar toda a Península Ibérica e Pedro Hispano Portugalense, é uma das figuras exponenciais da Escolástica do século XIII.
Foi Papa entre 20 de Setembro de 1276, até à data da sua morte, 20 de Maio de 1277. Além deste cargo nobilíssimo, foi um famoso médico, professor e matemático português do século XIII.
Pedro Julião Rebelo, ou Pedro Hispano, nasceu em Lisboa, no então Reino de Portugal, provavelmente na que é a actual freguesia de São Julião, em data não conhecida, seguramente antes de 1226 (quase todos os investigadores apontam entre 1205 e 1210), filho de Julião Rebelo, médico, e de Teresa Gil (embora Ribeiro Soares defenda que possa ter sido filho do chanceler de D. Sancho I, Mestre Julião Pais).
Começou os seus estudos na escola episcopal da catedral de Lisboa, tendo mais tarde estudado na Universidade de Paris (alguns historiadores afirmam que terá sido na Universidade de Montpellier) com mestres notáveis, como São Alberto Magno, e tendo por condiscípulos São Tomás de Aquino e São Boaventura, grandes nomes do cristianismo. Em Paris estuda medicina e teologia, dedicando especial atenção a palestras de dialética, lógica e sobretudo a física e metafísica de Aristóteles. Entre 1246 e 1252 ensinou medicina na Universidade de Siena, onde escreveu algumas obras, de entre as quais se destaca o Tratado Summulæ Logicales que foi o manual de referência sobre lógica aristotélica durante mais de 300 anos, nas universidades europeias. Este Tratado foi traduzido para grego e hebraico.

Prova da sua vastíssima cultura científica encontra-se na obra «De oculo», um Tratado de Oftalmologia, que conhece ampla difusão nas universidades europeias. Como exemplo, quando Miguel Ângelo adoece gravemente dos olhos devido ao árduo labor consumido na decoração da Capela Sistina, encontra remédio numa receita de Pedro Julião. De sua autoria, o «Thesaurus Pauperum», o Tesouro dos pobres, em que trata de várias doenças e suas curas, traduzido para 12 línguas.

O Tesouro dos pobres
Cortesia de viadeiportoghesi
Já no domínio da Teologia, é autor de Comentários ao pseudo-Dionísio e Scientia libri de anima. Segundo os historiadores, encontra-se por publicar a obra De tuenda valetudine, manuscrita em Paris e dedicada a Branca de Castela, esposa do rei Luís VIII de França, filha de Afonso IX de Castela.
Antes de 1261, ano em que é eleito decano da Sé de Lisboa, Pedro Julião ingressa na vida religiosa. O rei Afonso III de Portugal confia-lhe o priorado da Igreja de Santo André (Mafra) em 1263, posto o que é elevado a cónego e deão da Sé de Lisboa, Tesoureiro-mor na Sé do Porto e D. Prior na Colegiada Real de Santa Maria de Guimarães.

Após a morte de D. Martinho Geraldes, Pedro Julião é nomeado Arcebispo de Braga pelo Papa Gregório X, em 1273. Um ano depois, participa no XIV Concílio Ecuménico de Lião, altura em que Gregório X o eleva a Cardeal-bispo com o título de Tusculum-Frascati, da Diocese suburbicária de Frascati, o que permite ao pontífice poder contar com os serviços médicos do sábio português. Regressa ao Arcebispado de Braga, até ser nomeado o sucessor, D. Sancho. De volta á corte pontifícia, Gregório X nomeia-o seu médico principal (arquiatro) em 1275.
A eleição de Pedro Julião, em conclave realizado em Viterbo, após a morte do Papa Adriano V, a 18 de Agosto de 1276, decorre num período muito perturbado por tensões políticas e religiosas e com alguns cardeais a sofrer violências físicas. É eleito Papa a 13 de Setembro e coroado a 20 de Setembro de 1276, e adopta o nome de João XXI.
João XXI irá marcar o seu breve pontificado (de pouco mais de 8 meses) pela fidelidade ao XIV Concílio Ecuménico de Lião. Apressa-se a mandar castigar, em tribunal criado para o efeito, os que haviam molestado os cardeais presentes no conclave que o elegera. Embora sem grande sucesso, leva por diante a missão encetada por Gregório X de reunir a Igreja Grega à Igreja do Ocidente. Esforça-se por libertar a Terra Santa em poder dos turcos. Tenta reconciliar grandes nações europeias, como França, Alemanha e Castela, dentro do espírito da unidade cristã. Neste sentido, envia legados a Rodolfo de Habsburgo e a Carlos de Anjou, sem sucesso.

Pontífice dotado de rara simplicidade, recebe em audiência tanto os ricos como os pobres. Dante Alighieri, poeta italiano (1265-1321), na sua famosa «Divina Comédia», coloca a alma de João XXI no Paraíso, entre as almas que rodeiam a alma de São Boaventura, apelidando-o de «aquele que brilha em doze livros», menção clara a doze tratados escritos pelo erudito pontífice português. O rei aragonês Afonso X de Leão e Castela, o Sábio, avô de D. Dinis de Portugal, elogia-o em forma de canção no «Paraíso», canto XII. Mecenas de artistas e estudantes, é tido na sua época por «egrégio varão de letras», «grande filósofo», «clérigo universal» e «completo cientista físico e naturalista».
Mais dado ao estudo que às tarefas pontifícias, João XXI delega no Cardeal Orsini, o futuro Papa Nicolau III, os assuntos correntes da Sé Apostólica. Ao sentir-se doente, retira-se para a cidade de Viterbo, onde morre a 20 de Maio de 1277, com 51 anos de idade. É sepultado junto do altar-mor da Catedral de São Lourenço, naquela cidade. No século XVI, durante os trabalhos de reconstrução do templo, os seus restos mortais são trasladados para modesto e ignorado túmulo, mas nem aqui encontraram repouso definitivo. Através do contributo da Câmara Municipal de Lisboa, por João Soares então seu presidente, o mausoléu é colocado, a título definitivo, ao lado do Evangelho de Catedral de Viterbo, a 28 de Março de 2000.

Catedral de São Lourenço, de Viterbo, onde está sepultado o Papa João XXI
Cortesia de distoequeeugosto
(A obra filosófica e médica de Pedro Hispano (Papa João XXI)
Cortesia de Sebastião Gusmão/JDACT

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