terça-feira, 28 de setembro de 2010

Erasmo: «O Elogio da Loucura». «Quanto a mim, deixo que os outros julguem esta minha tagarelice, mas, se o meu amor-próprio não deixar que eu o perceba, contentar-me-ei de ter elogiado a Loucura sem estar inteiramente louco. Orgulho-me de vos dizer que esta Loucura, sim, esta Loucura que estais vendo é a única capaz de alegrar os deuses e os mortais»

(1466-1536)
Roterdão, Holanda
Cortesia de wikipédia

Erasmo de Roterdão nascido com o nome de Gerrit Gerritszoon ou Herasmus Gerritszoon, Desiderius Erasmus Roterodamus, foi um teólogo e um humanista.

Erasmo, cursou o seminário com os frades Agostinianos e realizou os votos monásticos aos 25 anos, mas sendo um grande crítico da vida monástica e das características que julgava negativas na Igreja Católica.
Frequentou o Collège Montaigu, em Paris, e continuou os seus estudos na Universidade de Paris. Erasmo optou por uma vida de académico independente. Independente de país. Independente de laços académicos e da lealdade religiosa, e de tudo que pudesse interferir com a sua liberdade intelectual e a sua expressão literária.

Foram-lhe oferecidas várias posições de honra e proveito através do mundo académico, mas ele declinou-as todas, preferindo a incerteza, tendo no entanto receitas suficientes da sua actividade literária independente.
A sua estada em Lovaina expôs Erasmo a muitas críticas mesquinhas por parte daqueles que eram hostis aos princípios do progresso literário e religioso aos quais ele devotava a vida. Ele interpretava esta falta de simpatia como uma perseguição e procurou refúgio em Basileia, onde, sob abrigo de hospitalidade suíça, pôde expressar-se livremente e onde estava rodeado de amigos.
A sua revolta contra as formas de vida da igreja não resultou tanto de dúvidas quanto à verdade da doutrina tradicional, nem de alguma hostilidade para com a organização da Igreja. Sentiu antes a necessidade de aplicar os seus conhecimentos na purificação da doutrina e na liberalização das instituições do cristianismo.

Cortesia de bligig
Como académico tentou libertar os métodos da Escolástica da rigidez e do formalismo das tradições medievais. A convicção confere unidade e consistência a uma vida que, de outra forma, pode parecer plena de contradições. Erasmo viu-se livre e distante de quaisquer obrigações comprometedoras. Foi, num sentido singularmente verdadeiro, o centro do movimento literário do seu tempo. Aquando da sua estada em Inglaterra, Erasmo iniciou a examinação sistemática dos manuscritos do Novo Testamento, por forma a preparar uma nova edição e uma tradução para Latim. Esta edição foi publicada por Froben de Basileia em 1516 e foi a base da maioria dos estudos científicos da Bíblia durante o período da Reforma. Ele publicou uma edição crítica do Novo Testamento Grego em 1516, Novum Instrumentum omne, diligenter ab Erasmo Rot. Recognitum et Emendatum. A edição incluiu uma tradução em Latim e anotações. Baseou-se também em manuscritos adicionais recentemente descobertos.

Na segunda edição, o termo mais familiar «Testamentum» foi usado em vez de «Instrumentum». O texto ficou conhecido mais tarde como o textus receptus. Erasmo publicou mais três edições. Foi a primeira tentativa por parte de um académico competente e liberal de averiguar aquilo que os escritores do Novo Testamento tinham efectivamente dito. Erasmo dedicou o seu trabalho ao Papa Leão X, como patrono da aprendizagem, e considerou o seu trabalho como o seu principal serviço à causa do Cristianismo.

Erasmo por Holbein, o novo
Cortesia de wikipédia
O movimento de Martinho Lutero começou no ano seguinte à publicação do Novo Testamento, e foi um teste ao carácter de Erasmo. A discussão entre a sociedade europeia e a Igreja Católica Romana tinha-se tornado tão aberta que poucos se podiam furtar a um pedido de uma opinião. Erasmo, no auge da sua fama literária, foi inevitavelmente chamado a tomar partido por um dos lados, mas partidarismo era algo de estranho à sua natureza e hábitos. Erasmo tinha uma simpatia pelos pontos principais da crítica luterana à Igreja. Tinha um grande respeito pessoal por Martinho Lutero e Lutero sempre falava de Erasmo com reverência pelo seu conhecimento. Lutero esperava obter a sua cooperação num trabalho que parecia o resultado natural do seu próprio. Na sua troca de correspondência inicial, Lutero expressou uma intensa admiração por tudo o que Erasmo tinha feito pela causa de um cristianismo saudável e razoável e encorajou-o a unir-se ao movimento. Erasmo declinou qualquer compromisso. Apenas como um académico independente poderia ele aspirar a influenciar a reforma da religião. A obra de Lutero foi a de providenciar uma nova base doutrinal para as tentativas até então dispersas de iniciar uma reforma. Ao reavivar os princípios quase esquecidos da teologia de Agostinho, Lutero tinha fornecido o necessário impulso para o interesse pessoal na religião, o que é a essência da Reforma Protestante. Erasmo, temia qualquer mudança na doutrina e acreditava que não havia espaço dentro das fórmulas existentes para o tipo de reforma que ele apreciava tanto.

No seu «De libero arbitrio diatribe sive collatio», 1524, ele analisa com inteligência e bom humor os exageros Luteranos sobre as óbvias limitações da liberdade humana. Ele apresenta ambos os lados da discussão de forma imparcial. A sua posição foi de que o Homem estava obrigado a pecar, mas que tinha o direito à misericórdia de Deus apenas se ele a procurasse pelos meios que lhe eram oferecidos pela própria Igreja. A «diatribe» não encorajava qualquer acção definida. Este era o seu mérito aos olhos dos Erasmianos e o seu defeito aos olhos dos Luteranos.
O programa da «Reforma de Erasmo» era de usar a aprendizagem para remover os piores excessos. No entanto, falhou em oferecer qualquer método tangível para aplicar os seus princípios ao sistema da Igreja existente. Quando Erasmo foi acusado de ter «posto o ovo que Lutero chocou» ele admitiu parcialmente a verdade da acusação mas disse que tinha esperado uma outra espécie de pássaro completamente diferente.

Cortesia de planetanews
A sua obra mais conhecida, «Praise of Folly» «Elogio da Loucura», ou «Moriae Encomium» foi dedicada ao seu amigo Thomas More. Em 1536 ele escreveu «De puritate ecclesiae christianae», na qual ele tentou reconciliar os diferentes partidos.
Muito dos seus escritos apelam a uma grande audiência e lidam com assuntos do interesse humano. Erasmo discute a vida monástica, a veneração dos santos, a guerra, o espírito de classe e as fraquezas da «sociedade», mas o «Enchiridion» é mais um sermão do que uma sátira. Como resultado das suas actividades reformadoras, Erasmo viu-se em conflito com ambas as grandes posições. Os seus últimos anos de vida foram ofuscados por controvérsias amargas com pessoas para quem ele seria normalmente simpático. Notavelmente entre estes encontrava-se Ulrich von Hutten, um génio brilhante mas errático, que se entregara à causa de Lutero e tinha declarado que Erasmo, se tivesse uma faísca que fosse de honestidade, faria o mesmo. Na sua resposta «Spongia adversus aspergines Hutteni», 1523, Erasmo demonstra o seu pleno domínio da semântica. Ele acusa Hutten de ter interpretado mal o seu discurso sobre a reforma e reitera a sua determinação em não tomar partido nunca.

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Em 1535 o Papa Paulo III intentou eleva-lo à condição de Cardeal, mas Erasmus alegou a sua avançada idade e estado de saúde para recusar. Após a sua morte, como reacção da Igreja Católica Romana, os seus escritos viriam a ser colocados no Index dos livros proibidos.

Erasmo morre aos 69 anos de idade na cidade de Basileia, Suíça.

Cortesia de História Universal/wikipédia/JDACT