quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A Fortaleza de Mourão: Na cintura envolvente da vila edificou-se um conjunto de atalaias nos pontos mais elevados. Como ex-libris do concelho, revela não só um grande potencial para uma intervenção de índole cultural, patrimonial e urbanística

Cortesia da CMMourão

Conquistada aos mouros, entrou no poder da coroa portuguesa em 1271-73 como dote de casamento de D. Beatriz de Gusmão com D. Afonso III. O filho deste, D. Dinis, confirmou a carta de foral em 1296 e, em 1298, promoveu uma acção de beneficiação do Castelo. Em 1343, D. Afonso IV procedeu ao levantamento da torre de menagem, com cerca de 20 metros.

A fortaleza de Mourão sofreu pois significativas alterações introduzidas pelas várias reconstruções, resultantes das vicissitudes políticas e militares operadas em Portugal ao longo do tempo. Revela actualmente marcas inegáveis dos períodos em que foi alvo de grandes intervenções, sobressaindo as operadas no reinado de D. Manuel I e no período das guerras da Restauração. Daí que elementos góticos e manuelinos coexistam com inovações introduzidas pelos engenheiros militares dos séculos XVII e XVIII. Projectando um recorte de grande impacto visual e beleza cénica, a praça militar de Mourão apresenta actualmente um pano amuralhado reforçado por torres quadradas e entrecortadas por cinco portas militares.

Cortesia da CMMourão
Para protecção da fortaleza e para os moradores poderem cultivar as suas terras na cintura envolvente da vila, edificou-se um conjunto de atalaias nos pontos mais elevados. Estes constituíam postos avançados de sentinelas, com o intuito não só de controlar o movimento das tropas inimigas, mas também de alertar as forças estacionadas na praça forte de modo a que estas accionassem as estratégias defensivas da vila.

Com o evoluir dos tempos, dos homens e da forma como se faz a guerra, os actuais e poderosos sistemas defensivos, bem visíveis no castelo de Mourão, foram perdendo o seu propósito estratégico/militar. Hoje, o castelo remete para um passado de memórias evocativo de conquistas e reconquistas. No entanto, como ex-libris do concelho, revela não só um grande potencial para uma intervenção de índole cultural, patrimonial e urbanística, mas também detém uma beleza cénica que importa preservar e valorizar.
 
Cortesia de sugestoesdamagie
A opinião do IGESPAR:
«No século XIII, Mourão foi disputado entre os reinos de Portugal e de Leão, um pouco à semelhança do que, por essa mesma altura, acontecia com a linha fronteiriça do rio Côa. É assim que possuímos duas distintas doações da localidade: a primeira data de 1226 e refere-se à carta de foral passada por D. Gonçalo Viegas, prior da Ordem do Hospital; a segunda ocorreu na década de 80, por intermédio do monarca Sancho IV, que a doou a uma de suas barregãs - D. Teresa Gil de Riba Vizela.
Com a assinatura do Tratado de Alcanices, Mourão passou definitivamente para a posse de Portugal, tendo D. Dinis confirmado a pertença da localidade a D. Teresa de Riba Vizela. Anos depois, em 1313, o mesmo monarca doou a vila a D. Raimundo de Cardona e sua mulher, D. Beatriz, com a condição expressa de não construírem qualquer fortaleza, sintoma de que as estruturas defensivas senhoriais ameaçavam a segurança do rei e do seu teórico domínio sobre a totalidade do reino.

Cortesia da BMPortalegre
O actual castelo foi começado a construir no reinado de D. Afonso IV, sendo responsável pelos trabalhos Mestre João Afonso, conforme atesta a inscrição junto da porta principal: «ERA DE MIL CCC OITENTA E I ANOS PRIMO DIA DE MARÇO DOM AFONSO O QUARTO REI DE PORTUGAL MANDOU COMEÇAR E FAZER ESTE CASTELO DE MOURÃO E O MESTRE QUE O FAZIA HAVIA NOME JOÃO AFONSO (...)». O recinto é de planta trapezoidal algo irregular, defendido por torreões comunicantes por adarve. A porta principal rasga-se do lado ocidental e é protegida por duas torres quadrangulares, como foi usual nos projectos militares góticos. No interior, destacam-se as casas do antigo alcaide, localizadas na vertente setentrional e adossadas à muralha.

Cortesia da BMPortalegre
Na primeira metade do século XVI, o conjunto foi intervencionado por dois importantes arquitectos régios, os irmãos Francisco e Diogo de Arruda. Será da sua responsabilidade a barbacã e o fosso que envolviam parte do castelo trecentista, sendo-lhes ainda atribuídas numerosas obras de actualização e de reforço, documentadas pelos desenhos de Duarte d'Armas.

Cortesia da BMPortalegre
A derradeira fase de obras no castelo ocorreu imediatamente após a proclamação da independência de 1640. A posição fronteiriça de Mourão determinou a reforma do seu dispositivo defensivo, com trabalhos a cargo de Nicolau de Langres e Pierre de Saint-Colombe. O projecto seguido, que obedeceu às concepções de Vaubin, dotou o velho castelo medieval de uma dupla cintura de muralhas, adaptadas ao tiro horizontal da guerra de Seiscentos, com revelins pontiagudos e outros espaços defensivos de planta tendencialmente estrelada». In IGESPAR, PAF

Cortesia de brolhares
 
Cortesia da CMMourão/IGESPAR/BibliotecaCMPortalegre/JDACT