segunda-feira, 18 de outubro de 2010

António José Saraiva: «Eu sou existencialmente inconformista. Eu sou, de origem, um camponês. Eu fui espiritualmente cristão e teoricamente marxista... Eu sou António José Saraiva»

(1917-1993)
Leiria
Cortesia de citi

«O que pode levar um homem, nascido e criado numa família católica e tradicional, ao marxismo, ao Partido Comunista e mais tarde à ruptura com todas as militâncias? O que leva um brilhante intelectual, porventura o mais importante pensador português do século XX, a percorrer uma trajectória das mais perturbadoras em busca da liberdade de pensamento, da criatividade, da audácia e ousadia própria dos homens livres? O que leva um escritor, historiador da literatura e dos fenómenos sociais e políticos, a tentar encontrar um sentido para a vida, tarefa ciclópica e impossível de alcançar?» In Livraria Arquivo, Ano 1, Dezembro de 2002.

Cortesia de urbanizacaovalemourao
 
Cortesia de auladeliteraturaportuguesa

Ensaísta, investigador e crítico literário. Afastado da docência universitária por incompatibilidade com o sistema pedagógico e ideológico em vigor na sua época, foi professor do ensino secundário. Mercê do seu envolvimento na acção cívica e política, António José Saraiva assumiu, entre 1944 e 1962, a militância no Partido Comunista Português, foi, depois de ter apoiado a candidatura do general Norton de Matos, em 1949, preso e impedido de ensinar.
Durante os anos seguintes, viveu exclusivamente das suas publicações e da colaboração em jornais e revistas. No exílio desde 1960,  regressou a Portugal apenas em 1974, após a Revolução de 25 de Abril, passando a desenvolver actividade docente na Universidade Nova e na Universidade Clássica de Lisboa.

Cortesia de skockyalcyone

Ao longo deste percurso profissional, António José Saraiva publicou uma vastíssima e importante bibliografia, considerada de referência nos domínios da História da Literatura e da História da Cultura portuguesas, amadurecida quer na edição de obras e no estudo de autores individualizados (Camões, Correia Garção, Cristóvão Falcão, entre outros), ressaltando-se nesse âmbito os vários estudos que dedicou a Os Lusíadas ou ao Padre António Vieira, quer através da publicação de obras de grande fôlego como a História da Cultura em Portugal ou, de parceria com Óscar Lopes, a História da Literatura Portuguesa. António José Saraiva legou a expressão de um olhar crítico sobre a sociedade sua contemporânea, à posteridade, uma imagem de inconformismo face a todo o poder que tenda para uma institucionalização, mau grado o reconhecimento unânime de que gozava, como modelo cívico, junto da opinião pública recusou, por exemplo, receber em vida qualquer galardão oficial, ou a todo o saber que não contenha em si a premissa fecunda da dúvida e da novidade.

«Eu sou existencialmente inconformista. Eu sou, de origem, um camponês. Eu fui espiritualmente cristão e teoricamente marxista. Eu estou contra a sociedade, independentemente das teorias. Eu acredito no espírito, mas não sou capaz de o definir. Eu estou pronto a emigrar de novo, se necessário. Eu sou António José Saraiva». In O País Magazine, 11 de Fevereiro de 1982, p.XIII.

Cortesia de wook

Bibliografia:
  • Só Para o Meu Amor é Sempre Maio: Cartas do Verão de 1943, Lisboa, 1997;
  • Gil Vicente e o Fim do Teatro Medieval, Lisboa, 1942;
  • Para a História da Cultura em Portugal, Lisboa, 1946;
  • As Ideias de Eça de Queirós, s/l, 1947;
  • A Evolução do Teatro de Garrett: Os Temas e as Formas, Lisboa, 1948;
  • A Obra de Júlio Diniz e a sua Época, s/l, 1949;
  • Herculano e o Liberalismo em Portugal, Lisboa, 1949;
  • História da Cultura em Portugal (colab. de Óscar Lopes e Luís Albuquerque), Lisboa, 3 vols. 1950-1960;
  • Herculano Desconhecido: 1851-1853, Lisboa, 1952;
  • História da Literatura Portuguesa (com Óscar Lopes), s/l, 1956 (17.ª ed. corrig. e aument., Porto, 1997);
  • A Inquisição em Portugal, Lisboa, 1956;
  • O Humanismo em Portugal, Lisboa, 1956;
  • Fernão Mendes Pinto ou a Sátira Picaresca da Ideologia Senhorial, Lisboa, 1958;
  • Dicionário Crítico de algumas ideias e palavras correntes, Lisboa, 1960;
  • Maio e a Crise da Civilização Burguesa, Lisboa, 1969;
  • Ser ou Não Ser Arte, Lisboa, 1974;
  • A Épica Medieval Portuguesa, Lisboa, 1977;
  • O Discurso Engenhoso: Ensaios sobre Vieira, S. Paulo, 1980;
  • Filhos de Saturno: Escritos Sobre o Tempo Que Passa, Amadora, 1980;
  • A Cultura em Portugal: Teoria e História, Lisboa, 1982-84;
  • Iniciação na Literatura Portuguesa, Lisboa, 1984;
  • O Crepúsculo da Idade Média em Portugal, Lisboa, 1988;
  • A Tertúlia Ocidental: Estudos sobre Antero de Quental, Oliveira Martins, Eça de Queiroz e Outros, Lisboa, 1990;
  • História e Utopia: Estudos Sobre Vieira, Lisboa, 1992;
  • Bernardim Ribeiro, Gil Vicente, Cantigas de Amigo, Lisboa, 1996.

Cortesia de ofuncionariocansado

Este GÉNIO morre aos 76 anos de idade.

Cortesia de Infopédia, Porto: Porto Editora, 2003-2010.
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