domingo, 10 de outubro de 2010

Os selos 2008 dos CTT: Vultos da História e da Cultura. Mira Fernandes. «O seu trabalho de investigação debruçou-se sobre o Cálculo Tensorial aplicado à Geometria Diferencial e à Relatividade, tendo publicado dezenas de trabalhos»


Cortesia dos CTT

Vultos da História e da Cultura

Com a devida vénia aos CTT, selos 2008.
Ilustração: André Carrilho, design: Atelier Acácio Santos, papel: 110g/m2, picotagem: 13 ¾ x Cruz de Cristo, formato: 30,6 x 40 mm, impressão: offset, impressor: Cartor


Cortesia dos CTT
José de Mascarenhas Relvas (1858-1929)
Natural da Golegã, grande lutador pela causa republicana, José Relvas proclamou, no dia 5 de Outubro de 1910, a partir da varanda da Câmara Municipal de Lisboa, a instauração da República Portuguesa. Licenciado pelo Curso Superior de Letras, apresentou como prova final do curso a tese intitulada O Direito feudal. Escreveu ainda outros trabalhos relacionados com questões económicas, para além de artigos sobre arte. Foi ministro das Finanças no Governo Provisório da República (1910-11), ministro plenipotenciário em Madrid (1911-14), e chefe do governo português (1919). Coleccionador de arte, dedicou-se a agrupar, classificar e estudar criteriosamente um extenso acervo de obras que legou por testamento ao município de Alpiarça, juntamente com a sua residência, para que fosse conservada como museu mantendo a designação de Casa dos Patudos.

Cortesia dos CTT
Manoel Cândido Pinto de Oliveira (1908)
Natural do Porto, o mais velho realizador do mundo no activo cumpre, este ano (2008), 100 anos de vida. Começou por ganhar notoriedade como desportista, mas cedo envereda pelo cinema, primeiro como actor e finalmente como realizador. Em 1931 estreia o documentário mudo Douro, Faina Fluvial e, em 1942, Aniki-Bóbo - a sua primeira longa-metragem-, ambos muito mal recebidos pela crítica da época. Com uma actividade surpreendente Manoel de Oliveira, que desde então não parou de filmar, é reconhecido no estrangeiro e em Portugal. Dos muitos palmarés que lhe têm sido atribuídos, salientam-se, entre outros, os de festivais tão importantes como os de Cannes, de Veneza e de Montreal. Aos 100 anos de idade, com quase 80 de actividade e cerca de 50 filmes realizados (entre curtas e longa-metragens), Manoel de Oliveira continua a surpreender críticos e amantes da 7ª arte.

Cortesia dos CTT
Padre António Vieira (1608-1697)
Comemora-se este ano, (2008) o quarto centenário do nascimento de uma das figuras mais notáveis da história de Portugal. Padre jesuíta, missionário, diplomata, orador, António Vieira é considerado um dos maiores prosadores da língua portuguesa. Escreveu cerca de 200 sermões que abrangem não só a temática teológica, mas também as da moral, da filosofia e da política, revelando uma profunda capacidade de análise dos vícios e das fraquezas humanas. Como missionário defendeu os direitos dos indígenas do Brasil, onde passou parte da sua vida. Como diplomata argumentou, junto das cortes europeias, a causa da Restauração e a legitimidade de D. João IV como rei de Portugal. Defendeu judeus e cristãos-novos, denunciando ao Papa as práticas cruéis do Santo Ofício. Homem de vastíssima cultura, pregador eloquente, o Padre António Vieira foi, sem dúvida, um homem à frente do seu tempo.

Cortesia dos CTT
Aureliano Lopes de Mira Fernandes (1884-1958)
Professor universitário e matemático, Aureliano Fernandes nasceu no Concelho de Mértola. Licenciou-se na Faculdade de Matemática de Coimbra, em 1910, e doutorou-se no ano seguinte na mesma faculdade. Foi nomeado professor catedrático do Instituto Superior Técnico em 1911, onde se manteve até à sua jubilação, em 1954. Nesta instituição ensinou Matemáticas Gerais, Cálculo Diferencial, Integral e das Variações, e Mecânica Racional. Cumulativamente, foi professor de Análise Matemática no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras. Sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa e sócio correspondente da Real Academia de Ciências de Madrid, fundou, em 1943, a Junta de Investigação Matemática. O seu trabalho de investigação debruçou-se sobre o Cálculo Tensorial aplicado à Geometria Diferencial e à Relatividade, tendo publicado dezenas de trabalhos. Manteve contacto assíduo com alguns dos mais notáveis matemáticos do seu tempo, tendo aprendido russo e latim, línguas que escrevia e falava fluentemente.

Cortesia dos CTT
Ricardo Jorge (1858-1939)
Médico e escritor, nasceu no Porto onde completou os estudos na Faculdade Médico-Cirúrgica. Professor universitário, teve uma carreira brilhante, sendo nomeado, em 1895, lente da cadeira de Higiene e Medicina Legal. Defendeu a reforma do ensino médico, foi co-fundador da Revista Científica, e publicou, em 1884, o volume Higiene Social Aplicada à Nação Portuguesa, que lançou uma nova perspectiva de abordagem das questões de saúde pública em Portugal. A carreira de investigador consagrou-o como epidemiologista e higienista. Em 1899 é nomeado inspector-geral de Saúde Pública e lente de Higiene na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Por sua iniciativa foi criado o Instituto Central de Higiene, cujas disposições e funcionamento, publicados em 1901, são da sua autoria. Apaixonado pela higiene e saúde pública foi delegado de Portugal no Office International d’Hygiène. Em 1913 funda os Arquivos do Instituto Central de Higiene. O seu nome foi dado ao Instituto que criou, em 1929, data da sua aposentação. Deixou uma vastíssima obra científica, mas também nos domínios da literatura e da arte, áreas onde exercia a actividade de crítico.

Cortesia dos CTT
Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992)
Natural de Lisboa, cresceu no seio de uma família que cedo estimulou o seu interesse pela pintura, pela leitura e pela música. Em 1928 vai para Paris onde estuda Escultura, que logo abandona para se dedicar à Pintura. Em 1930 casa-se com o pintor húngaro, Arpad Szènes, e em 1956 obtém a nacionalidade francesa. Pintora de temas essencialmente urbanos, a sua obra revela, desde muito cedo, uma preocupação com o espaço e a profundidade. Na década de 50 participa em inúmeras exposições em França e no estrangeiro. O estado francês adquire obras suas a partir de 1948, e em 1960 atribui-lhe a primeira de várias condecorações. Em Portugal, a Fundação Calouste Gulbenkian apresenta a sua obra em 1970, 1977 e 1988. Em 1983, a convite do Metropolitano de Lisboa, a sua obra Le métro (1940) é reproduzida em azulejos na estação da Cidade Universitária, com a colaboração do pintor Manuel Cargaleiro.


Cortesia dos CTT
 
Cortesia dos CTT/Selos de 2008/JDACT