sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Emílio Salgari. Aventuras. «Desde o seu primeiro conto, “Os Selvagens de Papua” mostrou aquilo que haveria de padronizar a sua obra literária: Um feroz anticolonialismo, totalmente inusitado numa época em que o romance de aventuras, sobretudo o de origem britânica...»


(1862-1911)
Verona
Cortesia de itwiclipedia

«Quando pronunciamos o nome de Emílio Salgari, vêm-nos à mente imagens exóticas de países longínquos de nomes diferentes, de sultões poderosos e malvados, de belezas em perigo, de corsários destemidos e imparáveis, de piratas de olhos rasgados, de barcos que sulcam os mares da Malásia. Todos imaginam a vida do capitão Emílio Salgari como um verdadeiro romance de aventuras, cheia de episódios trepidantes e de viagens intermináveis.

Nada mais longe da realidade com este escritor nascido em Verona, pois o mais perto que teve de uma experiência vivificante a bordo de um navio foi um cruzeiro de três meses pelo mar Adriático. Apesar de ter estudado no Instituto Naval Paolo Sarpi, em Veneza, nunca chegou a obter a patente de capitão, apesar de se apresentar sempre como se a tivesse. No entanto, foi ali que aprendeu muitos dos aspectos técnicos do mundo da marinha que depois aplicou nos seus romances populares. Salgari encontrou a fórmula de tornar realidade este modo de vida sonhado mas nunca alcançado ao começar a reverter as suas fabulações de viajante no papel, dando início a uma prolifera carreira literária tão repleta de grandes vendas como de criticas desabonatórias.
Desde o seu primeiro conto, “Os Selvagens de Papua” mostrou aquilo que haveria de padronizar a sua obra literária:
  • Um feroz anticolonialismo, totalmente inusitado numa época em que o romance de aventuras, sobretudo o de origem britânica, narrava as excelências das campanhas dos exércitos da rainha Vitória pelo mundo fora.
Salgari contrapunha-lhes os seus grandes heróis, Sandokan e o Corsário Negro, sempre dispostos a lutar contra a ordem estabelecida e a levar a liberdade às Antilhas, a Iucatão ou à Malásia; e um amor pelos ambientes exóticos, fossem no Médio Oriente ou no Oeste americano, a par de um gosto pelos títulos altissonantes como “O Tigre de Mompracem” ou a “Pérola de Labuan”.



Cortesia desfsite, liberoit e ranker

Em Setembro de 1883, a cidade de Verona acordou empapelada com enormes cartazes que anunciavam para breve a vinda de um tigre. «O tigre está a chegar», rezavam os placares, que muitas pessoas atribuíram à chegada de um circo. Mas, na verdade, aqueles anúncios tinham sido engendrados pelos editores da “La Nuova Arena”, e apregoavam a próxima publicação de um romance de uma jovem promessa. E a promessa chegou a cumprir-se, pois o autor era Emílio Salgari e o tigre tão anunciado, nada mais nada menos que Sandokan.

O êxito literário, o fracasso pessoal
O sucesso como romance levou Salgari e a sua imaginação a forjar uma biografia falsa, em que mais parece uma personagem das suas obras que uma personagem real. O êxito do romance “O Tigre da Malásia”, publicado em episódios, em 1883, e as suas sequelas hesitantes, viu-se ensombrado pela morte dos pais: a mãe faleceu em 1887, quando Salgari se encontrava a publicar “Os Mistérios da Selva Negra” e, dois anos depois, o pai suicidou-se. Estes golpes terríveis na sua vida pessoal fariam cair Salgari numa espiral de autodestruição, alcoolismo e doenças venéreas, da qual não conseguiu salvá-lo a sua mulher, a jovem Ida Peruzi, com quem casou em 1892, e que o escritor veronês baptizou carinhosamente como «Aída». Ida deu-lhe quatro filhos, que tiveram nomes tirados dos seus romances:
  • Fátima, Nadir, Romero e Omar.



Cortesia de stpaulsit e sapereit e ebookitaeu

Um final de romance
Ida começou a sofrer de esquizofrenia, o que acabou por confiná-la a um manicómio, onde morreria. Farto de uma vida de sucessos que só enriqueciam os seus editores, enquanto ele próprio sofria de penúria, Emílio Salgari decidiu acabar com a vida. Depois da morte da mulher, e fiel à sua vida imaginativa, a esse romantismo tardio que o fez fantasiar uma existência em terras do Oriente, fez «haraquiri», a forma tradicional japonesa de suicídio com honra, a 25 de Abril de 1911.



Encontraram três cartas em sua posse: uma destinada aos filhos, pedindo-lhes perdão e deixando-lhes uma herança de 150 libras; outra dirigida aos jornais, explicando os motivos da sua morte; e a terceira, para os seus editores, pedindo-lhes que pagassem o funeral com o dinheiro que lhes dera a ganhar». In Gayban Grafie, 283115/08, 2009, ISBN 978-989-651-085-5.

Cortesia de Gayban/JDACT