terça-feira, 22 de novembro de 2011

Jaime Cortesão. Crónicas Desaparecidas, Mutiladas e Falseadas. «Outras crónicas ou escritos notáveis sobre as navegações foram inteiramente desconhecidas por Damião de Góis, quais sejam a “Crónica sobre os Descobrimentos”, de Afonso Cerveira. Esta crónica foi escrita antes de Azurara e era muito mais minuciosa que a sua»

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Crónicas sequestradas ou destruídas
«A “Crónica de D. Duarte”, por Fernão Lopes. A “Crónica de D. Afonso V até à morte do Regente”, por Fernão Lopes:
  • [«Bem claro se vê deste lugar que fez Fernão Lopes a “Crónica del Rei D. Duarte…», cap. XXXVIII da parte IV da Crónica de D. Manuel. «… a qual história geral Fernão Lopes continuou até à morte do infante D. Pedro…» cap. VI da “Crónica do Príncipe D. João I” [...].
A “Crónica de El Rei D. Duarte”, por Azurara:
  • […«porque o Cap. V da “Crónica del Rei D. Duarte” (de Rui de Pina) é seu e assim todos os razoamentos que na dita crónica são escritos sobre a ida a Tânger o que se bem conhece e vê do estilo e ordem costumada do mesmo Gomes Eanes», cap. VI da “Crónica do Pr. D. João”. Barros neste ponto é mais expresso: «E porque cada um não perca seu trabalho, também escreveu (Azurara) a “Crónica” deste rei D. Afonso até a morte do infante D. Pedro e a “Crónica del rei D. Duarte, seu padre…» “Décadas I, livro II, cap. II].
Uma grande parte da “Crónica de D, Afonso V", por Azurara:
  • [Ao anterior testemunho de Barros acrescentemos o de Góis; «De maneira que esta “Crónica del Rei D. Afonso V” foi começada por Gomes Eanes e depois continuada por outros…», cap. XXXVIII da “Crónica del Rei D. Manuel”. Esta mesma afirmação é confirmada por vários passos das outras crónicas de Azurara. Góis crê que ele tivesse escrito essa “Crónica” até ao ano em que morreu, aproximadamente. Azurara faleceu em 1474.]

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O I e o II volumes da “Crónica do Descobrimento e Conquista da Guiné", por Azurara:
  • [«…mas pode ser que o fizesse na história da Guiné, que ele diz que compôs, de que não há notícia…», cap. VI da “Crónica do Príncipe D. João”. Como vimos atrás, Barros conheceu ainda fragmentos desta crónica; e pouco mais ou menos na data em que Damião de Góis duvidava até que ela tivesse existido, em Espanha, Las Casas extractava-a largamente para a sua “História das Índias”. O I volume da “Crónica da Guiné” conhece-se apenas desde o meado do século passado, pela impressão do exemplar manuscrito (único em letra do século XV) existente na Biblioteca Nacional de Paris. O II volume, a que ele envia por vezes o leitor, nalgumas passagens do I, é inteiramente desconhecido. Não há, todavia, razão alguma para crer que ele deixasse de o escrever.].
Outras crónicas ou escritos notáveis sobre as navegações foram inteiramente desconhecidas por Damião de Góis, quais sejam a “Crónica sobre os Descobrimentos”, de Afonso Cerveira:
  • [Esta crónica foi escrita antes de Azurara e era muito mais minuciosa que a sua. Eis como ele se lhe refere: «Não curo de escrever algumas cousas da viagem destes, que achei escritas por Afonso Cerveira, que esta história primeiramente quis ordenar…» “Crónica da Guiné”, p. 165. «Não nos pareceu necessário falarmos na chegada das caravelas a Lisboa nem ocuparmos nossa escrita no recontamento da venda dos mouros, assim como o achamos no traslado de Afonso Cerveira, de que tiramos esta história…» Idem, p. 259. «E posto que achássemos o teor daquela carta, intitulada no primeiro livro que fez Afonso Cerveira, pelo qual prosseguimos esta história…» Idem, p. 393. A carta a que o cronista se refere neste passo, é aquela em que o Regente, a 3 de Fevereiro de 1446, concede a seu irmão D. Henrique o monopólio do comércio com as ilhas Canárias. Destes trechos, pois, se pode concluir que Cerveira escrevera um volume sobre os Descobrimentos, o qual abrangia as viagens realizadas pelo menos até 1446; que Azurara o utilizou largamente, finalmente que o resumiu] 238».
In Jaime Cortesão, A Expansão dos Portugueses no Período Henriquino, Portugália Editora, Lisboa 1965.

Continua
Cortesia de Portugália Editora/JDACT