quarta-feira, 23 de novembro de 2011

História da Maçonaria em Portugal: Das Origens ao Triunfo. A. H. Oliveira Marques. «Tudo indica que a “Casa Real dos Pedreiros Livres da Lusitânia” tenha, de facto, posto ponto final nos seus trabalhos, em Junho de 1738. Já o mesmo não é tão seguro relativamente à minoria protestante, a quem pouco importavam as excomunhões de Roma»

Cortesia de editorialpresenca

Das Origens às Primeiras Perseguições
«E, no Acórdão Final do processo contra os membros da loja irlandesa, em 18 de Outubro, «pareceu a todos os votos [dos membros da Mesa do Santo Ofício] que, visto terem sido perguntados e examinados quase todos os católicos romanos, assistentes nesta Corte, que entravam na dita Sociedade, e constar das suas deposições que nela não havia coisa alguma contra a Fé ou bons costumes; [...] e constar, outrossim, que por unânime consentimento de todos se dissolveu a dita Sociedade [...]; não havia, por ora, mais diligência que fazer nesta matéria».
Tudo indica que a “Casa Real dos Pedreiros Livres da Lusitânia” tenha, de facto, posto ponto final nos seus trabalhos, em Junho de 1738. Impressionados pela novidade da bula pontifical, católicos cumpridores e obedientes ao Sumo Pontífice, isolados num país estrangeiro e ameaçados pela pouco simpática Inquisição (maldita), os maçons irlandeses devem ter-se resignado e submetido. Já o mesmo não é tão seguro relativamente à minoria protestante, a quem pouco importavam as excomunhões de Roma. Terão alguns dos seus membros pedido ingresso na loja inglesa? Só a documentação o poderá um dia esclarecer.

De 1738 a l741 não houve em Lisboa mais lojas do que a inglesa. Diversos maçons iam, no entanto, chegando a Portugal, começando a avultar o número de franceses. Não só a Maçonaria experimentava em França um desenvolvimento acelerado como também a emigração de artífices franceses para Portugal fazia grandes progressos, originando uma colónia fixa cada vez maior. Importadores e vendedores de tecidos e de artigos de vestuário, relojoeiros, ourives e lapidários de diamantes, cabeleireiros, alfaiates, livreiros e outros difundiam as modas de França e os valores de França. Os maçons desta nacionalidade sentiam a falta de uma estrutura em que se pudessem integrar.
Foi nesta conjuntura que chegou a Lisboa Jean Coustos.

Grau 31
Cortesia de editorialpresenca

Nascido num dos cantões suíços de idioma germânico, mas filho e neto de huguenotes franceses exilados, Coustos viveu em Londres desde a adolescência, acabando por se naturalizar cidadão britânico e se casar com uma inglesa.
Em Londres, também, aprendeu a profissão de lapidário de diamantes. Iniciado maçon naquela cidade, Coustos estabeleceu-se em Paris durante uns dois anos, onde fundou e foi Venerável de uma loja maçónica. Regressou a Londres, decidindo, alguns anos depois, ir fixar-se no Brasil, onde poderia eventualmente enriquecer devido à sua profissão. Veio assim para Lisboa (1741), onde verificou não lhe ser fácil obter a indispensável licença para passar às terras sul-americanas.
Em Lisboa se deteve, estabelecendo-se por seu turno e entabulando contactos, tanto com ingleses como com franceses e outros. E aqui se decidiu ou foi induzido a fundar uma loja maçónica, a exemplo do que fizera em Paris, alguns anos atrás». In A. H. Oliveira Marques, História da Maçonaria em Portugal, das Origens ao Triunfo, Editorial Presença, 1990.

Cortesia de Editorial Presença/JDACT