quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A Condessa-rainha. Teresa. Luís Amaral. Mário Barroca. «Ele escolheu para esposa Constança, filha de Roberto, duque dos Borgonheses, da qual gerou uma filha que deu em casamento ao conde Raimundo… A outra filha, mas que não nasceu a partir do tálamo dos esposos, deu-a a Henrique, um dos filhos do duque Roberto»

jdact

A casa ducal de Borgonha: a ascendência do conde Henrique
«(…) É tempo de abordarmos o enquadramento genealógico do conde Henrique. Para o traçarmos recorreremos a vários estudos sobre a casa ducal de Borgonha, alguns dos quais o tempo se encarregou de transformar em verdadeiros clássicos. Abordemo-los por ordem cronológica. A primeira obra francesa que estabeleceu a ligação entre a casa ducal de Borgonha e as origens da família real portuguesa foi um pequeno opúsculo de Théodore Godefroy (1580-1649) intitulado De l'Origine des Roy de Portugal yssus en ligne masculine de la Maison de France, editado em 1610. Théodore Godefroy, historiador da Casa Real francesa, valorizou um fragmento de uma crónica dos inícios do século XII que tinha sido editado pela primeira vez em Frankfurt em 1596. Nesse texto, quase coevo dos acontecimentos a que se reportava, o seu autor, conhecido como o monge anónimo da abadia de Fleury, registara a filiação do conde portucalense, entroncando-o na família ducal de Borgonha:

Ele escolheu para esposa Constança, filha de Roberto, duque dos Borgonheses, da qual gerou uma filha que.deu em casamento ao conde Raimundo, que era conde para lá, do [rio] Árar. A outra filha, mas que não nasceu a partir do tálamo dos esposos, deu-a a Henrique, um dos filhos do duque Roberto.

A obra de Théodore Godefroy teve um visível sucesso, tendo conhecido três edições no curto espaço de cinco anos: em 1610, 1612 e 1614. Mas a primeira obra que verdadeiramente deve ser classificada como um estudo genealógico da família ducal borgonhesa é o tratado seiscentista de André Duchesne de Tourangeau intitulado Histoire des Roys, Ducs et Comtes de Bourgongne et d’Arles. Extraicte de Diverses Chartes et Chroniques Anciennes, et divisée en IIII Livres (Paris, Chez Sebastien Cramoisy, 1619). A este estudo pioneiro sucedeu-se um outro, editado pelo mesmo autor poucos anos depois, intitulado Histoire Genéalogique des Ducs de Bourgongne de la Maison de France (Paris, Chez Sebastien Cramoisy, 1628), onde Duchesne conseguiu ampliar significativamente os dados genealógicos e documentais sobre os vários elementos desta linhagem. Assim, podemos considerar que foi este geógrafo do rei de França quem verdadeiramente lançou os alicerces da história genealógica da casa ducal de Borgonha, desbravando fontes inéditas, algumas delas entretanto perdidas, e sistematizando muita informação.
No entanto, a obra decisiva sobre a família ducal de Borgonha continua a ser o estudo de Ernest Petit, Histoire des Ducs de Bourgogne de la Race Capétienne (dois volumes, Paris, 1885-1905), que foi o corolário de vários anos dedicados pelo autor ao estudo dessa linhagem. Já no século XX, alguns autores consagraram a sua atenção à família ducal de Borgonha. Foi o caso do cónego Maurice Chaume ou, já na segunda metade da centúria, de Jean Richard, autor de um importante estudo de história económica, que no entanto apresenta poucas novidades para o conhecimento genealógico da família do conde portucalense Henrique de Borgonha. Acrescentemos, para finalizu, o recente estudo linhagístico e prosopográfico que Patrick van Kerrebrouck dedicou aos Capetos, na Nouvelle Histoire Généalogique de l’Auguste Maison de France, onde consagrou um capítulo aos duques de Borgonhaa.

Henrique de Borgonha, conde de Portucale, era irmão de dois duques de Borgonha (Hugo I e Eudes I, Borel) e neto do duque Roberto I, o Velho, figura cimeira desta linhagem. Era ainda sobrinho da rainha D. Constança (segunda mulher de Afonso VI de Leão e Castela) e sobrinho-neto de Hugo, o Grande, o carismático abade de Cluny. Finalmente, ere bisneto de Roberto II, o Pio, rei de França. Abordemos, sucintamente, os antepassados do conde portucalense, para compreendermos a teia de relações que o unia à mais alta nobreza de além-Pirenéus e mesmo à família real francesa».

In Luís Amaral, Mário Barroca, A Condessa-rainha, Teresa, coordenação de Ana Maria Rodrigues e Outras, Círculo de Leitores, 2012, ISBN 978-972-42-4702-1.

Cortesia de C. Leitores/JDACT