segunda-feira, 8 de setembro de 2014

As Mansões Filosofais. Fulcanelli. «Cerca de um século antes da construção do ‘Solar de Lisieux’, três companheiros alquimistas “laboravam” em Flers (Orne) e ali realizavam a Grande Obra, no ano de 1420. Eram eles Nicolau de Grosparmy, Nicolau ou Noël Valois, e o padre Pedro ou Vitecoq»

Solar da salamandra; Lisieux; século XVI; o homem da escota do poste  corrimeiro
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A Salamandra de Lisieux
«(…) Pequena cidade normanda, que deve às suas numerosas casas de madeira, às suas empenas de sacada, o pitoresco aspecto medieval que todos lhe conhecemos, Lisieux, respeitadora do seu passado, oferece-nos, entre outras curiosidades, uma bonita e muito interessante moradia de alquimista. Casa rnodesta na verdade, mas que prova no ssu autor a preocupação de humildade que os felizes beneficiários do tesouro hermético faziarn voto de respeitar durante a vida inteira. É geralmente designada pelo nome de Solar da Salamandra, e ocupa o número 19 da rue aux Fèvres. A despoito das nossas pesqnrúsas foi-nos impossível obter a mínima informação acerca dos seus primeiros proprietários. Não são conhecidos. Ninguém sabe, em Lisieux ou noutro lado, por quem foi construída no século XVI, nem quais foram os artistas que a decoraram. Para não faltar à tradição, sem dúvida, a Salamandra guarda ciosamente o seu segredo e o do alquimista. No entanto, foi objecto duma notícia, mas essa limita-se à descrição pura e simples dos assuntos esculrpidos que o turista pode admirar na fachada. Esta notícia e algumas linhas inseridas na Statistique monumentale du Calvados, de De Caumont (Lisieux, tomo V), representam tudo quanto apareceu sobre o Solar da Salamandra. É pouco, e lamentamo-lo. Porque o minúsculo mas delicioso edifício, construído pela vontade dum verdadeiro adepto, decorado com motivos extraídos do simbolisrno herrnético da alegoria tradicional, merece mais. Bem conhecido dos Lexovianos, é ignorado pelo grande público, talvez mesmo por muitos dos amadores de arte, embora a sua decoração, tanto pela sua abundância e variedade como pela sua bela conservação, autorize a classificá-lo na primeíra fila dos melhores edifícios do género. É uma lamentável lacuna, e tentaremos preenchê-la, sublinhando ao mesmo tempo o valor artístico dessa elegante moradia e o ensino iniciático que ressalta das suas esculturas.
O estudo dos motivos da fachada permite-nos afirmar, com a convicção nascida duma análise paciente, que o construtor do Solar foi um alquimista instruído, que nele deu a medida do seu talento; noutros termos, um adepto possessor da pedra filosofal. Certificamos igualmente que a sua afiliação a algum centro esotérirco, com numerosos pontos de contacto com a ondem dispersa dos Templários, se revela indiscutível. Mas qual podia ser essa fraternidade secreta que se honrava por contar no número dos seus membros o sábio filósofo de Lisieux? Somos forçados a confessar a nossa ignorância e a deixar a questão em suspenso. Contudo, e embora tenhamos pela hipótese uma invencível repugnância, a verosimilhança, a relação das datas e a proximidade dos lugares sugerem-nos certas conjecturas, que vamos expor a título de inclicação e com todas as reservas.
Cerca de um século antes da construção do Solar de Lisieux, três companheiros alquimistas laboravam em Flers (Orne) e ali realizavam a Grande Obra, no ano de 1420. Eram eles Nicolau de Grosparmy, gentil-homem, Nicolau ou Noël Valois, também chamado Le Vallois, e um padre de nome Pedro ou Vitecoq. Este último qualifica-se a si mesmo como capelão e servidor doméstico do senhor de Grosparmy. Dos três, só De Grosrparmy possuía alguma fortuna, com o título de Senhor e o de conde de Flers. Foi contudo Valois o que primeiro descobriu a prática da Obra e a ensinou aos seus companheiros, tal como o dá a entender nos seus Cinco Livros. Tinha então quarenta e cinco anos, o qüe dá 1375 como data do seu nascimento. Os três adeptos escreveram dìferentes obras, entre os anos 1440 e 1450. Nenhum desses livros, aliás, foi jamais impresso. Segundo uma nota anexa ao rnanuscrito n.º 158 (125) da Biblioteea de Rennes, teria sido um gentil-homem normando, Bois Jeuffroy, quem herdara todos os tratados originais de Nicolau de Grosparmy, Valois e Vicot. Deles vendeu uma cópia completa ao defunto senhor conde de Flers, mediante 1500 libras e um cavalo de preço. Este conde de Flers e barão de Tracy é Luís de Pellevé, falecido em 1660, que era bisneto, por parte das mulheres, do autor Grosparmy». In Fulcanelli, 1930, Les Demeures Philosophales, 1965, As Mansões Filosofais, colecção Esfinge, Edições 70, Lisboa, 1977.

Cortesia de E70/JDACT