quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Política Social. Pobreza e Eclusão Social. Pobreza Absoluta em Portugal. Margarida Ferreira. «A Teoria das Capacidades de Sen desenvolve um quadro teórico centrado no desenvolvimento como um processo de expansão das liberdades reais de que os indivíduos usufruem…»

Cortesia de wikipedia

«A perspectiva focada na liberdade se assemelha genericamente à preocupação habitual com a qualidade de vida, que, também ela, se centra no percurso concreto da vida humana (…) e não apenas nos recursos e rendimentos que uma pessoa controla». In Sen, 1999.

Teorizando as necessidades humanas fundamentais
«O conceito de necessidade e as suas diversas interpretações, embora fortemente presentes na teoria social e política, são pouco precisos e conceptualmente, pouco consensuais. As discussões em torno do conceito de necessidade destacam a dificuldade em adoptar uma noção ou uma definição ou tipologia comum, bem como a dificuldade em definir o grau de importância ou a prioridade associados a cada necessidade. Dos factores que dificultam a criação de uma definição comum do conceito de necessidade podem-se destacar a discussão em torno da origem biofísica e cultural das necessidades; os conteúdos materiais ou imateriais que as integram; a possibilidade de classificação de tipos de necessidades; o debate operado em torno da hipótese do seu carácter absoluto ou culturalmente relativo; a consideração de dimensões objectivas e subjectivas; a condição sentida ou socialmente latente; as vias de operacionalização de modelos dedicados à sua análise, provisão e satisfação. No sentido de conceptualizar as necessidades humanas, diversas contribuições teóricas têm vindo a ser formuladas, umas com o objectivo de reunir e listar os ingredientes para a qualidade de vida e, outras, centrando-se unicamente no conceito de desenvolvimento. Seguindo o posicionamento teórico positivista, alguns destes teóricos partem do pressuposto de que existe uma matriz neutra para toda a investigação assumindo a existência de necessidades universais e objetivas como requisitos que todos os seres humanos têm em comum, e que conduzem a níveis inaceitáveis de sofrimento quando não são satisfeitos.
A pertinência na seleção das teorias dos autores supramencionados centra-se, fundamentalmente, na sua preocupação com o modo como as pessoas vivem ou na vida que as pessoas podem ter (fins), em vez dos meios (recursos) para atingir a vida desejável. A Teoria das Capacidades de Sen desenvolve um quadro teórico centrado no desenvolvimento como um processo de expansão das liberdades reais de que os indivíduos usufruem [mais do que] o crescimento do produto interno bruto, ou o aumento das receitas pessoais, ou (…) a industrialização, ou (…) o progresso tecnológico, ou com a modernização social. A seu turno, a Teoria das Capacidades Humanas de Nussbaum, em consonância com as ideias de Sen, centra-se num conjunto rico de metas, morais e humanas, em vez de no aumento do Produto Interno Bruto (PIB), como objectivo principal do desenvolvimento. Neste sentido, o enquadramento teórico seleccionado e desenvolvido através destas três teorias permite romper com as visões dominantes que associam o desenvolvimento quase em exclusivo ao crescimento económico, e ao mesmo tempo considerar a importância das caraterísticas dos indivíduos, dos recursos que estes detêm e das suas circunstâncias externas, o que permite a construção de um enquadramento teórico, simultaneamente, sensível à perspectiva de género e ao contexto português.

A Teoria das Capacidades
A Teoria das Capacidades introduz uma nova dimensão na análise das necessidades, tendo vindo a ser desenvolvida nos mais diversos contextos das ciências sociais e utilizada em estudos de desenvolvimento, especificamente de desenvolvimento humano. A Teoria das Capacidades foi inicialmente desenvolvida por Sen (1990, 1992, 1993, 1999) que centrou a sua abordagem do bem-estar na liberdade real de cada indivíduo proporcionada por um conjunto de capacidades que permite realizar funcionamentos, que reflectem o que cada indivíduo valoriza ser ou fazer. Isto significa que as necessidades vão sendo realizadas conforme os indivíduos são capazes de orientar, de forma livre e informada, as suas escolhas. O entendimento deste autor sobre capacidades agrega, portanto, os recursos dos indivíduos, as características individuais e as circunstâncias externas. Assim, esta abordagem ultrapassa a perspectiva individual da satisfação das necessidades problematizando a forma como o contexto económico, social, histórico, político e cultural proporciona as condições e as oportunidades necessárias para satisfazer as necessidades de acordo com a oportunidade de escolha de cada indivíduo, para a satisfação de necessidades de cada indivíduo. A Teoria das Capacidades, sendo uma teoria de aplicação interdisciplinar, foi revista, adoptada e adaptada por diversos autores. Serão apresentados de forma aprofundada os contributos teóricos de Amartya Sem, como pioneiro na formulação deste quadro teórico, e os desenvolvimentos trazidos pela perspectiva de Martha Nussbaum». In Margarida Ferreira, Política Social, Pobreza e Exclusão Social, Projecto Pobreza Absoluta em Portugal, Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Wikipédia, ISCSP, 2013.

Cortesia de ISCSP/JDACT