segunda-feira, 22 de março de 2021

Ken Follett. As Espias do Dia D. «A missão de Dieter era identificar os alvos que mais precisavam de defesa no sector das comunicações e avaliar até que ponto a Resistência era capaz de atacá-los»

Cortesia de wikipedia e jdact

28 de Maio de 1944

«(…) Hoje, no entanto, Stéphanie fazia parte do seu disfarce. Ele estava ao serviço de Rommel. O marechal de campo, também conhecido como a Raposa do Deserto, agora comandava o Grupo de Exércitos B das forças alemãs, responsável pela defesa dos territórios ocupados no norte da França. Segundo informações dos agentes de inteligência alemães, os Aliados tentariam uma invasão ainda naquele Verão. Rommel não dispunha de um contingente grande o bastante para proteger as centenas de quilómetros da vulnerável costa normanda, por isso havia adotado a arriscada estratégia da mobilidade: embrenhadas no interior, suas tropas precisavam estar sempre de prontidão para serem deslocadas de forma ágil quando necessário. Os ingleses sabiam disso. Também tinham o seu serviço de inteligência. Para eles, o plano era o seguinte: atrasar os deslocamentos de Rommel destruindo as linhas de comunicação controladas pelo marechal. Noite e dia os bombardeiros ingleses e americanos vinham atacando rodovias e ferrovias, pontes e túneis, estações e pátios de manobra. A Resistência, por sua vez, explodia usinas e fábricas, descarrilava comboios, cortava linhas telefónicas, instruía jovens a despejar terra nos tanques de combustível dos caminhões e blindados alemães.

A missão de Dieter era identificar os alvos que mais precisavam de defesa no sector das comunicações e avaliar até que ponto a Resistência era capaz de atacá-los. Ao longo dos últimos meses, saindo da sua base em Paris, ele percorrera todo o norte da França, soltando os cachorros para cima das sentinelas que encontrava dormindo, infundindo terror nos capitães que demonstravam algum sinal de preguiça, redobrando as medidas de segurança nos pátios ferroviários, nas garagens de veículos, nas torres de controle dos aeroportos e nas cabines de sinalização das ferrovias mais importantes. Naquele dia em particular, ele estava fazendo uma visita-surpresa a uma central telefónica estratégica e de importância vital para as forças alemãs. Por ali passava todo o tráfego telefónico entre o alto comando de Berlim e as inúmeras unidades espalhadas pelo norte da França. Isso incluía as mensagens de telex, meio pelo qual a grande maioria das instruções vinha sendo enviada nos últimos tempos. Se aquela central fosse destruída, as comunicações alemãs ficariam gravemente comprometidas.

Os Aliados, claro, sabiam disso. Até já haviam tentado bombardear o lugar e obtido relativo sucesso na investida. Aquele castelo era o mais perfeito candidato a um ataque da Resistência. No entanto, as medidas de segurança nele adoptadas eram imperdoavelmente frouxas, pelo menos a seus olhos. A explicação talvez residisse na má influência exercida pela Gestapo, que tinha ali um posto avançado. A Geheime Staatspolizei, ou Gestapo, era a polícia secreta do governo nazista e, nela, muitas vezes as pessoas eram promovidas não pela sagacidade, mas pela lealdade que demonstravam a Hitler ou pelo entusiasmo com que abraçavam o ideário fascista. Dieter estava furioso. Fazia meia hora que estava ali, fotografando o castelo, e até então nenhum dos guardas sequer notara a sua presença. No entanto, assim que os sinos pararam de tocar, um oficial com farda de major irrompeu dos portões altos do castelo e foi correndo na direção dele, berrando num francês capenga: entregue essa câmera! Dieter virou o rosto, fingindo não ouvir. É proibido tirar fotos do castelo, imbecil!, berrou o homem. Não está vendo que é uma instalação militar? Voltando-se para ele, Dieter respondeu calmamente em alemão: você demorou uma eternidade para me ver. O major ficou surpreso. Civis costumavam ter medo da Gestapo. Como assim, demorei?, disse, já menos agressivo. Dieter olhou para o relógio, depois completou: faz 32 minutos que estou aqui. Poderia ter tirado uma centena de fotos e ido embora há muito tempo. É você que está na chefia da segurança? Quem é você, afinal?, devolveu o outro. Major Dieter Franck, do estado-maior do marechal de campo Rommel. Franck!, exclamou o homem. Eu me lembro de você. Dieter o observou com mais atenção. Meu Deus, disse, assim que se deu conta. Willi Weber. Como a maioria dos homens da Gestapo, Weber possuía uma patente da SS, que para ele era bem mais respeitável do que a outra que ele tinha da polícia. Por isso, ressaltou: Sturmbannfuehrer Weber, a seu dispor. Ora, ora, quem diria..., falou Dieter. Não era à toa que a segurança estava tão fraca, pensou». In Ken Follett, As Espias do Dia D, 2001, Editora Arqueiro, 2015, ISBN 978- 858-041-410-3.

Cortesia de EArqueiro/JDACT

JDACT, Ken Follett, Literatura, II Guerra Mundial,